Esportes
Cinquenta anos do amistoso que mudou o destino da seleção de 1970
Incrédulos, 20 mil espectadores assistiram a um placar inusitado
15/03/2020
Cara de cavalo
A torcida começou a ficar impaciente com a seleção. Em dado momento, os torcedores insultaram o treinador João Saldanha com o corinho “eu grito, eu falo, o Saldanha tem cara de cavalo”. Flávio Costa percebeu que não só a torcida, mas também os altos dirigentes da CBD iriam se aproveitar do mau resultado para “fritar” Saldanha. Para facilitar ainda mais as coisas para a seleção, o Bangu voltou com nove reservas no segundo tempo. Dos titulares, só o zagueiro Serjão e o lateral-esquerdo Bauer continuavam em campo. Jogadores tarimbados como Luís Alberto, Mário e Aladim foram para o banco, assistir à provável virada do Brasil. Virada que não veio, apesar de algumas alterações de João Saldanha: Zé Maria no lugar de Carlos Alberto Torres, Zé Carlos na vaga de Clodoaldo e Edu no ataque, saindo Dirceu Lopes. O empate acabou surgindo, em um lance de botafoguenses: Paulo César cruzou para Jairzinho. O zagueiro Moraes, em sua estreia nos profissionais do Bangu, precipitadamente, acabou cortando mal, contra as redes do goleiro Devito: 1 a 1. O Brasil acabou fazendo um segundo gol com Jairzinho, mas o juiz anulou. Antes, ele fizera falta no goleiro banguense. O placar inesperado fez a multidão sair preocupada do estádio. Poucos dias antes, o Fluminense tinha vencido o mesmo Bangu, no Maracanã, por 2 a 1, sem muitos problemas. A seleção sequer conseguira jogar bem.Guinada histórica
O fim do técnico João Saldanha estava próximo. Não só pelo empate com o Bangu, mas por inúmeras divergências e brigas com membros da comissão técnica. Dois dias depois do jogo em Moça Bonita, João Havelange criticou publicamente o comando técnico da seleção. Na terça-feira à noite, Saldanha foi chamado para uma reunião na CBD. O recado era claro: “a comissão técnica estava dissolvida”, ou melhor, nem toda a comissão, apenas Saldanha. Admildo Chirol, preparador, Lídio Toledo, médico, continuariam. Na quarta-feira, também à noite, Zagalo aceita o encargo de comandar o Brasil na Copa do México, em 1970. O restante da história todo mundo já sabe. Nenhuma outra seleção conseguiu sequer um empate contra aquele timaço. O que o Bangu fez em Moça Bonita, ao segurar o Brasil, ninguém fez. Foram seis jogos e seis vitórias na Copa: Tchecosláquia (4 x 1), Inglaterra (1 x 0), Romênia (3 x 2), Peru (4 x 2), Uruguai (3 x 1) e Itália (4 x 1, na finalíssima). Éramos tricampeões, sem João Saldanha, e com Zagalo no banco. O Bangu, sem querer, acabou lucrando com o empate. Dez dias depois, estava jogando dois amistosos em Aracaju. Afinal, mais gente queria ver o tal time que tinha “parado” a seleção.Mais lidas
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