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Polícia Civil e MP do RJ prendem bombeiro suspeito de obstruir investigações dos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes
Ainda segundo a força-tarefa, Suel é braço direito de Ronnie Lessa, apontado como o autor dos disparos no atentado.
"São pessoas extremamente ligadas, tanto na vida do crime quanto na vida social", afirmou o delegado Daniel Rosa.
Ronnie e Elcio de Queiroz -- suspeito de dirigir o carro que perseguiu Marielle -- estão presos desde março de 2019.
"O papel de Maxwell para obstruir as investigações foi ceder o veículo utilizado para guardar o vasto arsenal bélico pertencente a Ronnie, entre os dias 13 e 14 de março de 2019, para que o armamento fosse, posteriormente, descartado em alto-mar", afirmou o MP.
Além do mandado de prisão, a operação cumpre mandados de busca e apreensão em dez endereços na cidade do Rio ligados a Maxwell e a outros quatro investigados.
A ação foi desencadeada por policiais da Delegacia de Homicídios e por promotores do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Participaram a Corregedoria da PM e o Serviço Reservado dos Bombeiros.
A decisão foi proferida pelo Juízo da 19ª Vara Criminal da Comarca da Capital.
A primeira fase da Operação Submersus
A Operação Submersus foi deflagrada em outubro de 2019 para tentar esclarecer o descarte da arma usada no atentado. A suspeita é que o material foi jogado no mar da Barra da Tijuca.
Quatro pessoas foram presas na ocasião:
- Elaine Lessa, mulher de Ronnie, que também é dona do apartamento onde as armas estavam;
- Márcio Montavano, o Márcio Gordo, teria tirado as caxias de armas de dentro do apartamento de Ronnie e Elaine Lessa;
- Bruno Figueiredo, irmão de Elaine, suspeito de ajudar Márcio na execução do plano;
- Josinaldo Freitas, o Djaca, teria jogado as armas no mar.
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De acordo com investigações, esses quatro aliados de Ronnie Lessa realizaram uma complexa operação para retirar armas do policial reformado de um imóvel no Pechincha, na Zona Oeste do Rio.
Coube a Suel, segundo a força-tarefa, emprestar seu Dodge Journey para transportar as armas rumo ao descarte.
O entendimento era, segundo a polícia e promotores, que o armamento comprometeria ainda mais o suspeito no crime. No local havia alguns fuzis e uma caixa.
Suel já tinha prestado depoimento
De acordo com um depoimento do bombeiro na Delegacia de Homicídios, nas investigações das mortes de Marielle e Anderson, Suel conhece Lessa há sete anos.
No dia do assassinato da vereadora e do motorista, em 14 de março de 2018, Suel disse que levou a mulher em um médico em Botafogo, na Zona Sul do Rio. Segundo ele, só chegou à Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, entre 20h30 e 21h.
Mesmo assim, ele foi investigado pela morte de Marielle e de Anderson. A DH chegou a comparar as suas digitais com os fragmentos encontrados numa munição no local do crime.
O nome de Suel constava junto com o de Lessa na denúncia anônima feita em 15 de outubro de 2018. Foi a partir dessa ligação que as investigações passaram a ter o sargento reformado da PM como alvo.
Na noite do crime, dia 14 de março de 2018, Suel tinha um álibi. A antena do seu celular indicava que ele estava em Botafogo no início daquela noite, enquanto os suspeitos já começavam a seguir da Barra da Tijuca para o Centro a bordo do Cobalt usado na ação.
Contradições
Em dois depoimentos à DH, Suel contou ter levado sua mulher, Aline Siqueira de Oliveira, ao Real Medical Center, em Botafogo, no fim daquela tarde.
Segundo relatos dele e da mulher, eles só retornaram da consulta entre 20h30 e 21h, quando chegaram ao Bar Resenha Grill, na Avenida Olegário Maciel, na Barra da Tijuca.
Marielle e Anderson foram mortos por volta das 21h10, no Estácio.
Ainda em seus depoimentos, Suel e a mulher caíram em contradição ao menos num ponto. Ambos disseram ter acompanhado todo o jogo entre Flamengo x Emelec no Bar Resenha. Ambos negaram ter encontrado Lessa ou Elcio.
Aline, no entanto, disse que após o jogo o casal foi para casa, à época um apartamento na Avenida Lucio Costa, e não saíram mais. Maxwell informou que deixou a mulher em casa e voltou para o bar, a fim de terminar uma garrafa de uísque que estava bebendo.
Bombeiros se manifestam
O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ) informou em nota que aguarda as informações solicitadas sobre o processo para abrir procedimento interno.
“O militar ingressou na corporação em 1998 e está lotado no Grupamento de Busca e Salvamento, na Barra”, afirmou.
“O Corpo de Bombeiros repudia veementemente todo e qualquer ato ilícito. A corporação segue à disposição para colaborar com as autoridades”, emendou.