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A difícil escolha do Irã: escalar conflito ou se mostrar fraco frente a Israel?
No fim das contas, o líder supremo e seus conselheiros provavelmente tomarão a decisão que ameace menos a sobrevivência do regime islâmico do Irã
O ataque de Israel ao Irã agrava a guerra no Oriente Médio. O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, e seus principais conselheiros têm diante de si uma série de escolhas difíceis que podem tanto evitar a escalada de ataques israelenses ou aprofundá-la.
Eles devem decidir qual será a alternativa possível. Em uma ponta do espectro está contra-atacar com um novo lançamento de mísseis balísticos. Israel ameaça uma nova série de ataques se isso acontecer.
Na outra ponta está a decisão militar de estabelecer um equilíbrio entre os danos sofridos em seu território e os infligidos na parte israelense. O risco para o Irã se optar pela contenção é parecer fraco, intimidado e dissuadido pelo poder militar e determinação política de Israel, que ainda tem o apoio dos Estados Unidos.
No fim das contas, o líder supremo e seus conselheiros provavelmente tomarão a decisão que ameace menos a sobrevivência do regime islâmico do Irã.
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A mídia estatal iraniana, nas horas antes e depois dos ataques de Israel, divulgou declarações desafiadoras que, à primeira vista, sugerem que a decisão de responder já havia sido tomada.
A linguagem se assemelha à usada por Israel, citando o direito de autodefesa. Mas os riscos são tão altos que o Irã pode decidir recuar das ameaças.
Desde o ataque com mísseis balísticos contra Israel em 1º de outubro, as declarações têm sinalizado uma resposta hostil.
Uma semana atrás, o ministro iraniano das Relações Exteriores disse à rede NTV da Turquia que "qualquer ataque ao Irã será considerado cruzar um sinal vermelho para nós. Tal ataque não ficará sem resposta".
Horas antes dos ataques israelenses, o porta-voz do ministério afirmou que "qualquer agressão do regime israelense contra o Irã será respondida com força total". Segundo Esmail Baqai, seria "altamente enganoso e infundado" sugerir que o Irã não responderia a um ataque israelense.
Enquanto a aeronave israelense retornava à base, o Ministério das Relações Exteriores do Irã invocou seu direito à autodefesa "conforme previsto no Artigo 51 da Carta da ONU". De acordo com um comunicado, havia o direito e a obrigação de responder a atos estrangeiros de agressão.
Troca de agressões
Israel estabeleceu o ritmo da escalada. O Irã é visto como o apoiador crucial dos ataques do Hamas que mataram cerca de 1.200 pessoas — entre israelenses e mais de 70 estrangeiros — em 7 de outubro do ano passado.
Temendo que Israel estivesse procurando uma chance de atacar, o Irã sinalizou repetidamente que não queria uma guerra total com Israel.
Isso não significava que o país interromperia seus ataques constantes — muitas vezes mortais, mas de nível mais moderado — contra Israel e seus aliados.
Teerã achou que tinha uma estratégia melhor do que uma guerra total. Em vez disso, contaram com aliados iranianos do chamado "eixo de resistência" para atacar os israelenses.
Os houthis no Iêmen bloquearam e destruíram navios no Mar Vermelho. O lançamento de foguetes do Hezbollah do Líbano forçou pelo menos 60 mil israelenses a deixarem suas casas.
Seis meses depois do início da guerra, a retaliação de Israel forçou libaneses a deixarem suas casas na região sul, mas Israel se preparou para um ataque ainda maior.
O Hezbollah foi alertado de que se não cessasse o disparo constante de foguetes haveria uma resposta.
Quando isso não foi atendido, Israel decidiu sair de um conflito moldado pela estratégia de guerra limitada, mas de desgaste, do Irã.
Foi desferido uma série de golpes poderosos que desequilibraram o regime islâmico em Teerã e deixaram sua estratégia em frangalhos.
É por isso que, após os últimos ataques israelenses, os líderes iranianos têm apenas escolhas difíceis.
Israel interpretou a relutância do Irã em não se lançar em uma guerra total como fraqueza e aumentou a pressão tanto sobre o Irã quanto sobre seu eixo de resistência.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e os comandantes de Israel podiam se dar ao luxo de correr riscos.
Eles tinham o apoio do presidente americano Joe Biden: uma rede de segurança que veio não apenas na forma de muita munição, mas com a decisão de enviar reforços marítimos e aéreos para o Oriente Médio com intuito de manter o compromisso americano de defender Israel.
Em 1º de abril, um ataque aéreo israelense destruiu parte do complexo diplomático do Irã em Damasco, a capital síria. Ele matou um alto comandante iraniano, Mohammed Reza Zahedi, junto com outros oficiais de alto escalão do Exército dos Guardiães da Revolução Islâmica.
Os americanos ficaram furiosos por não terem sido avisados e não terem tido tempo para colocar suas próprias forças em alerta.
Mas Biden não vacilou em seu apoio no momento em que Israel enfrentava as consequências de suas ações. Em 13 de abril, o Irã atacou com drones, mísseis de cruzeiro e balísticos — a maioria abatida pelas defesas de Israel, com considerável ajuda das forças armadas dos EUA, Reino Unido, França e Jordânia.
Biden aparentemente pediu a Israel para "cantar vitória", esperando que isso evitasse um momento ainda mais perigoso na guerra crescente no Oriente Médio. Quando Israel limitou sua resposta a um ataque a um local de defesa aérea, o plano de Biden parecia estar funcionando.
Mas Israel tem repetidamente intensificado a guerra com o Irã e seu eixo de aliados e representantes.
Os maiores golpes foram desferidos em uma grande ofensiva contra o aliado mais importante do Irã, o Hezbollah no Líbano.
Os iranianos passaram anos construindo o arsenal de armas do Hezbollah como uma parte fundamental de sua defesa avançada. A ideia era que um ataque israelense ao Irã seria dissuadido pelo conhecimento de que o Hezbollah atacaria Israel logo depois da fronteira no Líbano.
Mas Israel agiu primeiro, implementando os planos que já havia desenvolvido: a explosão de pagers e walkie talkies que o grupo libanês foi levado a comprar, a invasão do sul do Líbano e o assassinato do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, um homem que havia sido um símbolo de resistência desafiadora para Israel por décadas.
As autoridades em Beirute dizem que a ofensiva de Israel no Líbano matou até agora mais de 2.500 pessoas, exigiu que 1,2 milhão deixassem suas casas e causou enormes danos a um país que já estava de joelhos por causa da economia em colapso.
O Hezbollah ainda consegue alvejar soldados israelenses dentro do Líbano e dispara grandes quantidades de foguetes. Mas está cambaleando após perder seu líder e muito de seu arsenal.
Diante do quase colapso de sua estratégia, o Irã concluiu que tinha que revidar.
Se permitisse que seus aliados morressem no campo de batalha sem esboçar nenhuma reação, sua posição como líder do eixo anti-Israel e anti-Ocidente na região ficaria comprometida. Sua resposta foi um ataque de míssil balístico muito maior contra Israel em 1º de outubro.
Os ataques aéreos da sexta-feira (25/10) foram a resposta de Israel. Eles demoraram mais do que o esperado. Vazamentos de planos israelenses podem ter sido um fator.
Israel também está realizando uma grande ofensiva no norte de Gaza. O chefe de direitos humanos da ONU, Volker Turk, afirmou que é o momento mais sombrio da guerra de Gaza, com o exército israelense sujeitando uma população inteira a bombardeios, cercos e fome.
É impossível saber ao certo se o momento dos ataques de Israel ao Irã serve para desviar a atenção internacional do norte de Gaza. Mas pode ter sido parte do cálculo.
Interrupção da escalada
É difícil interromper sequências de ataques e contra-ataques quando os países envolvidos acreditam que serão vistos como fracos se não responderem. É assim que as guerras saem do controle.
A questão agora é se o Irã está preparado para dar a Israel a última palavra, pelo menos nesta fase da guerra.
Biden apoiou a decisão de Israel de retaliar após 1º de outubro. Mas, mais uma vez, ele tentou evitar uma escalada ainda mais mortal, dizendo publicamente a Israel para não bombardear os ativos mais importantes do Irã, suas instalações nucleares, de petróleo e gás.
Ele aumentou as defesas de Israel ao implantar o sistema antimísseis THAAD. Benjamin Netanyahu concordou em seguir seu conselho.
As eleições americanas em 5 de novembro são parte dos cálculos de Israel e do Irã sobre o que acontece em seguida. Se Donald Trump obtiver seu segundo mandato, ele pode estar menos preocupado do que Biden em responder à retaliação iraniana.
Mais uma vez, o Oriente Médio está esperando.
A decisão de Israel de não atingir os ativos mais valiosos do Irã pode, talvez, dar a Teerã a chance de adiar uma resposta, pelo menos tempo suficiente para que os diplomatas façam seu trabalho. Na Assembleia Geral da ONU no mês passado, os iranianos sugeriram que estavam abertos a uma nova rodada de negociações nucleares.
Tudo isso deve importar muito para o mundo. O Irã sempre negou que quer uma bomba nuclear. Mas sua expertise nuclear e enriquecimento de urânio colocaram uma arma ao seu alcance. Seus líderes devem estar procurando uma nova maneira de deter seus inimigos. Desenvolver uma ogiva nuclear para seus mísseis balísticos pode estar na agenda.