Política
Marco da Segurança: STF e PGR veem ilegalidade em veto a auxílio-reclusão
Texto de Derrite prevê fim do benefício a dependentes de presos
Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e integrantes da PGR (Procuradoria-Geral da República) veem indícios de inconstitucionalidade no veto ao auxílio-reclusão a dependentes de criminosos que estejam no sistema carcerário.
Esse é um dos pontos previstos no texto mais recente do Marco da Segurança Pública, proposto na noite de terça-feira (11) pelo relator da proposta, deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP).
O auxílio-reclusão é previsto na Constituição. O benefício é pago ao dependente do preso, caso ele tenha contribuído com a Previdência por pelo menos 24 meses, comprove ser de baixa renda e não receba outro benefício do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
O texto de Derrite diz que “fica vedada a concessão do benefício de auxílio-reclusão” aos dependentes de quem for preso por integrar organização criminosa, seja de forma cautelar ou cumprindo pena definitiva.
Nos bastidores do Supremo, a leitura é de que essa seria uma maneira de “punir” o familiar do preso, o que violaria o chamado “princípio da intranscendência da pena”, previsto na Constituição. O artigo estabelece que “nenhuma pena passará da pessoa do condenado”.
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FACÇÕES CRIMINOSAS Hugo Motta anuncia Derrite como relator do Marco Legal do Combate ao Crime FACÇÕES CRIMINOSAS Derrite diz que vai manter competências da Polícia Federal em novo texto antifacçãoAlém disso, auxiliares do procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmam que a vedação extrapola os limites legais, já que a Constituição não condiciona o pagamento do auxílio ao tipo de crime cometido.
A avaliação é de que esse aspecto do Marco da Segurança Pública, se aprovado pelo Congresso Nacional, seria derrubado no STF em caso de judicialização. A própria PGR poderia ajuizar ação para questionar a medida.
A terceira versão do parecer contou com um recuo por parte de Derrite, que retirou do texto os trechos que alteravam a Lei Antiterrorismo e limitavam as atribuições da PF (Polícia Federal). O dispositivo sobre restringir o auxílio-reclusão, no entanto, foi mantido.
Inicialmente, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), queria votar a matéria ainda nesta semana, mas a falta de consenso deve adiar essa análise.
Na segunda-feira, Hugo fez uma espécie de “sondagem” ao STF e à PGR sobre o projeto, durante reunião com Gonet e com o ministro Alexandre de Moraes, relator temporário da chamada “ADPF das Favelas”.
Moraes alertou o presidente da Câmara que o texto deve ir além do mero endurecimento das penas e incluir ações como o fortalecimento do Estado no controle sobre o sistema penitenciário e a asfixia financeira das organizações criminosas.