Política
Tião expõe fissura no PL e minimiza ataques à prefeita: ‘Política não é lugar para mulher sem estrutura emocional’
Declaração foi dada pela manhã e repercutiu ao longo de toda a quinta-feira, ampliando a crise interna entre Flávia Moretti e o suplente Samir Japonês
O vice-prefeito de Várzea Grande, Tião da Zaeli (PL), provocou uma reviravolta no ambiente político ao minimizar os ataques sofridos pela prefeita Flávia Moretti (PL) e, ao mesmo tempo, responsabilizá-la emocionalmente pelas tensões recentes.
A declaração, concedida ainda na manhã de quinta-feira (13) ganhou força durante a tarde e noite, repercutindo entre vereadores, dirigentes partidários e aliados da gestora.
A crise teve início há cerca de duas semanas, quando o suplente de vereador Samir Japonês (PL) chamou a prefeita de “mentirosa” na tribuna da Câmara. O episódio chegou ao comando nacional do PL e provocou um desconforto interno que agora atinge diretamente a relação entre Moretti e o vice-prefeito.
Ao comentar o caso, Tião afirmou não enxergar violência política de gênero nas falas de Samir e disparou uma frase que gerou forte reação:
“Eu não tenho visto essa violência de gênero. Se a mulher não tem estrutura emocional e não tem essa capacidade de ir para o debate, não deve mexer com política.”
Em seguida, reforçou a ideia de que o ambiente político exige resistência emocional:
“A política é um palco muito disputado, de debates acalorados. Até nós, que somos homens e temos uma estrutura emocional um pouco mais forte, sofremos com isso.”
A fala foi vista como paternalista e gerou críticas entre mulheres do partido, assessores da prefeita e lideranças que acompanham o caso.
Apesar das declarações, Tião reconheceu que a prefeita tem sido alvo de cobranças acima da média:
“Eu vejo que a prefeita tem sofrido com isso, mas não vi violência de gênero. É debate político e ela tem que se preparar.”
Ele também aconselhou Flávia a melhorar a articulação com a Câmara:
“A Câmara são 23 cabeças; a dela é a 24ª. Falta articulação e diálogo. Toda relação exige escutar muito e falar pouco.”
No fim da tarde, quando a declaração de Tião já dominava o debate local, o presidente estadual do PL, Ananias Filho, confirmou que o partido vai afastar preventivamente Samir enquanto ele responde às denúncias na Comissão de Ética.
“Ele tem liberdade na tribuna, mas quando ultrapassa o respeito e vai para a impessoalidade, repudiamos. A prefeita vai formalizar denúncia, e abriremos procedimento pelas condutas dele fora da fala parlamentar.”
O PL afirma que o afastamento não está ligado ao discurso na Câmara, mas às manifestações de Samir nas redes sociais.
A fala de Tião, dada pela manhã e reacendida durante toda a quinta-feira, expôs o racha interno: Tião e Samir de um lado, articulados com o empresariado local; Flávia Moretti de outro, tentando consolidar força política em um cenário de desgaste crescente.
A crise também evidencia que o debate sobre violência política de gênero ganhou centralidade — mas segue sendo tratado de forma desigual dentro do partido.