Brasil
Se o Brasil quiser se preparar para o que está por vir nos próximos dias, deve ficar atento não só ao número de casos do novo coronavírus confirmados, mas também à velocidade em que eles aumentam. Essa é uma das análises feitas por um grupo de pesquisadores de universidades brasileiras e do exterior, incluindo Unesp, UnB, UFAB e USP, o Observatório Covid-19 BR.
Para analisar a situação de cada país, os físicos Vítor Sudbrack e Silas Poloni calcularam o tempo em que o número de casos dobra. Quanto menor o tempo de duplicação, mais rápido a doença está se espalhando. E essa variação depende das medidas de contenção da doença, como isolamento e quarentena.
Para se ter uma ideia, o Brasil tem hoje um tempo de duplicação entre 2 e 3 dias. Crescimento semelhante ao que a Itália tinha no dia 2 de março, quando o país tinha 1,6 mil casos confirmados, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Hoje, no entanto, a Itália conseguiu atingir um tempo de duplicação de 4 a 5 dias, depois de ter tomado diversas medidas. Mais de 60 milhões vivem em quarentena no país no momento. Os números de casos continuam subindo, mas os dados indicam que em ritmo menor.
Os pesquisadores indicaram ainda que a previsão é que, até a próxima terça-feira (24) o Brasil registre entre 2.149 e 3.427 casos da doença. "Avaliamos que é inadequado fazer previsões para mais de 5 dias com este método", escreveram os pesquisadores, já que o nível de incerteza poderia subir muito.
Para diminuir o ritmo de aumento da doença, especialistas têm apontado que o Brasil deve endurecer suas medidas também, a exemplo de outros países.
Nesta sexta-feira (20), o Ministério Público do Estado de São Paulo ingressou com um pedido de liminar para agilizar essas ações na cidade e estado de São Paulo, de forma a punir os estabelecimentos, incluindo igrejas e tempos, que se recusem a fechar, sob risco de interdição. Hoje existe apenas uma recomendação neste sentido, mas sem multa ou possibilidade de outras punições a quem descumpri-las.
"Como se não bastasse a velocidade assustadora em que o vírus tem se expandido, a realidade socioeconômica do Brasil e da cidade de São Paulo, pessoas vivendo em cortiços, favelas, sem saneamento básico, sem acesso a produtos de limpeza, tornam o combate à epidemia uma tarefa coletiva na área de saúde pública, sem titubeio de ações estatais firmes e claras", escrevem os promotores Dora Martin Strilicherk, Anna Trotta Yarvd e Arthur Pinto Filho.
Eles entendem que as medidas já adotadas na cidade - recomendação de fechamento de estabelecimentos comerciais, por exemplo - não são suficientes.
"A velocidade de contágio do coronavírus não é compatível com a adoção de medidas paulatinas e de meras determinações sem sanção", dizem. "Ressalte-se que o crescimento do contágio no Brasil pode ser ainda mais grave, uma vez que a realização de testagem somente nos casos graves da COVID-19, segundo diretriz do Ministério da Saúde, sem realização de testes nos casos leves ou sem sintomas, resulta em subnotificação e prejuízo na adoção de medidas sanitárias de urgência, colocando vidas e o sistema de saúde em risco de colapso", escreveram.