Economia e Negócios

Novo presidente do BNDES diz que prioridade é explicar 'caixa-preta' do banco em dois meses

16/07/2019
O novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano, afirmou nesta terça-feira (16), após tomar posse em cerimônia no Palácio do Planalto, que a sua prioridade no comando do banco é explicar a chamada "caixa-preta" na instituição financeira. Montezano substituiu no comando do banco o economista e ex-ministro Joaquim Levy. O ex-presidente do BNDES pediu demissão do banco em junho após o presidente Jair Bolsonaro declarar publicamente que estava insatisfeito com a atuação do economista. Uma das queixas de Bolsonaro era a suposta leniência de Levy em divulgar o que ele classifica de "caixa-preta" do BNDES. Ao deixar o cargo, Levy afirmou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara que investiga supostas práticas ilícitas no BNDES que não há "nada a esconder" no banco. "O que a gente está se propondo a fazer é explicar a 'caixa-preta'. Há uma duvida clara sobre o que há ou não no BNDES. Cada um me conta uma informação diferente da mesma história. Ao final de dois meses, quero ser capaz de explicar esse conjunto de regulações, empréstimos, perdas financeiras que contextualizam a 'caixa-preta'. O que sairá desse estudo, eu prefiro não comentar agora. Prefiro fazer o dever de casa e qualificar esse tema", declarou Montezano nesta terça. Apesar de o novo presidente do banco público citar a "caixa-preta", o BNDES passou a divulgar, em 2015, por meio do site BNDES Transparente, o valor da taxa de juros cobrada nas operações de crédito para exportações de serviços a outras nações, como Cuba, Angola, Argentina e República Dominicana, entre outros. "Qualquer que seja a conclusão, a gente precisa ser transparente e trazer ela para a sociedade e para a mídia. Qualquer coisa que eu fale agora, pode ser leviano ou parcial. Esperem dois meses para a gente ter algo completo e conclusivo. É a prioridade um do banco. Aspecto de imagem, protocolo, a gente tem de analisar sobre todas essas óticas", acrescentou Montezano. Venda de ações Gustavo Montezano também afirmou a jornalistas que pretende acelerar a venda de ações em posse do BNDESpar, braço financeiro ligado ao mercado de capitais. Atualmente, segundo ele, a instituição possui cerca de R$ 110 bilhões am ações de empresas, sendo cerca de R$ 53 bilhões em ações da Petrobras; R$ 16,5 bilhões da Vale; R$ 9,3 bilhões da Eletrobras e R$ 9,26 bilhões da JBS. “Boa parte hoje são posições meramente especulativas. Se o preço das ações sobe, é um mero ganho financeiro sem nenhuma entrega para a sociedade. É melhor tirar dinheiro daqui e colocar em outros ativos, como o saneamento, que também vai ter retorno financeiro, mas muito mais outros derivados disso para a sociedade como um todo”, afirmou. O novo presidente do BNDES não deu, porém, um prazo para a venda das ações. Segundo ele, não há um valor pré-definido para isso neste ano. “Vamos definir nos próximos meses”, declarou. Montezano afirmou ainda que também não há uma conclusão sobre fechar ou não o BNDESpar. “É muito cedo fazer qualquer comentário nesse sentido”, acrescentou. Ele observou, porém, que, com a bolsa de valores em alta, esse é um dos melhores momentos do mercado de capitais brasileiro da última década, sendo, portanto, uma hora propícia para se desfazer dessas ações. Montezano também não afastou a possibilidade de o BNDESpar investir em novas ações. Devolução de recursos do Tesouro O novo presidente do BNDES informou que, depois de devolver R$ 38 bilhões em empréstimos feitos anteriormente ao Tesouro Nacional no primeiro semestre deste ano, o banco pretende enviar mais R$ 86 bilhões ao governo federal até o fim de 2019. O ritmo de devolução de recursos do banco público ao Tesouro Nacional foi um dos pontos de atrito entre o antigo presidente da instituição, Joaquim Levy, e o governo federal. “A gente pretende pagar [os R$ 86 bilhões até o fim de 2019] independentemente da estratégia dessa venda de ações”, declarou Montezano. Após essa devolução, ainda resta um passivo, a ser devolvido até o fim do mandado do presidente Bolsonaro, em 2022, de cerca de R$ 150 bilhões. Com essa estratégia, o BNDES, que já chegou a emprestar de R$ 150 bilhões a R$ 200 bilhões por ano, passará a emprestar cerca de R$ 70 bilhões por ano ao setor produtivo, informou o novo presidente da instituição. “Hoje, nas nossas estimativas, a gente pretende desembolsar em torno de R$ 70 bilhões por ano”, declarou. Venda de serviços Além de atuar na venda de ações e na devolução de recursos ao Tesouro Nacional, Montezano afirmou que o BNDES também pretende vender serviços públicos ao governo federal, estados e municípios nas áreas de privatização, concessão, investimento e reestruturação financeira. Ele afirmou, porém, que esses contratos estarão vinculados ao sucesso de cada operação, ou seja, o banco só lucrará nas operações que forem concluídas. Informou que essas operações começarão com o governo federal, e que depois serão ampliadas para os estados e municípios. “Aqui no governo federal, nossos principais clientes serão ministro Tarcísio [Gomes de Freitas], da Infraestrutura, Onyx, do PPI, e Salim Matar, da Desestatização”, declarou ele.