Economia e Negócios
“Super quarta”: Brasil e EUA devem subir juros, com mercado focado em próximos passos
Copom deve levar a taxa Selic a 13,25% ao ano, enquanto Federal Reserve pode sinalizar mudanças em sua postura ante a inflação
15/06/2022
No Brasil, o fim de um ciclo?
O Copom começou a subir a taxa básica de juros, a taxa Selic, em março de 2021, colocando a economia brasileira como uma das primeiras dentre as maiores a iniciar um ciclo de alta de juros para combater uma inflação, em geral, com causas semelhantes pelo mundo. Mais de um ano depois, e com um recorde de 10 altas seguidas, a Selic saltou de 2% para 12,75% ao ano, e o mercado acredita que o Banco Central não deve parar por aí. A visão da maioria dos agentes financeiros é que o Copom optará por elevar a Selic em mais 0,5 ponto percentual, passando os juros para 13,25% ao ano. A grande questão é se a autarquia sinalizará que vai parar por aí ou deixará a porta aberta para outra alta em agosto. Mesmo achando que essa não deveria ser a ação ideal, Marília Fontes, sócia-fundadora da Nord Research, não descarta que o Banco Central já indique no comunicado ao fim da reunião que optou por encerrar o ciclo atual de alta. Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama, acredita que o Banco Central deve indicar o fim do ciclo após a alta de 0,5 p.p. ou deixar em aberto a possibilidade de uma outra elevação futura, de 0,25 p.p. Ele vê a taxa de juros atual como “muito contracionista”, e defende que “talvez seja melhor ficar em uma taxa de 13,25% por mais tempo do que subir mais e precisar voltar mais cedo. Se fizer 13,25% e vai até o meio do ano que vem assim, caindo só no segundo semestre, faria mais sentido que ir além”. Para André Perfeito, economista-chefe da Necton, o Banco Central deve sinalizar que encerrou o ciclo de alta, mesmo com apostas de uma elevação de 0,25 p.p. em agosto ganhando força. “Acho que 13,25% cumpre muitos dos objetivos. A taxa de juros vai estar positiva, a taxa real deve aumentar. Mas é tanta coisa recente que até a boa notícia do IPCA mais fraco gerou um sentimento ruim”, pondera.Os próximos passos do Fed
Nos Estados Unidos, o quadro é outro. O Federal Reserve iniciou o ciclo atual de elevação de juros apenas em março deste ano. Desde então, os juros subiram do intervalo de 0% a 0,25% para 0,75% e 1% ao ano, enquanto a inflação se mantém no maior nível em quatro décadas. O Fed sinalizou explicitamente que pretende subir os juros em 0,5 p.p. tanto em junho quanto julho. O foco, portanto, deve ser em possíveis atualizações nessas projeções, englobando agora a reunião de setembro. André Perfeito observa que o dado de inflação divulgado na sexta-feira (10), do Índice de Preços ao Consumidor (CPI), apontou que a inflação no país está muito persistente, e sem sinal de queda, diferente do caso brasileiro. “O Fed está tento que correr atrás para controlar a inflação, e deve tentar sinalizar isso pelo comunicado. O tom deve ser mais duro, porque não tem como ignorar mais o cenário. O BCE também não subiu juros, então eles vão precisar ser mais duros”. Mesmo assim, ele não espera que o Fed reverta a posição de descartar altas de 0,75 p.p. “O perfil da diretoria atual não parece ser de ajustes mais fortes. Mas subindo de 0,5 p.p. em 0,5 p.p., é muita coisa, e tem também o corte no balanço, que tem um efeito forte”. Fontes, da Nord, acredita que o Fed não deve ser tão agressivo quanto o mercado está esperando, e buscará manter os juros no patamar neutro, entre 2% a 3%, como indicado anteriormente. Nesse sentido, ela afirma que a possibilidade do Fed pausar o ciclo de alta em setembro, como avaliado pelo mercado anteriormente quando a inflação em abril desacelerou, não deve ocorrer, em especial após o dado de inflação de sexta-feira, que indiciou que o pico ainda não foi atingido. Espírito Santo também descarta uma pausa no ciclo em setembro, e acredita que, no lugar dela, possa ocorrer uma elevação de 0,25 p.p., e espera que os juros terminem o ano na casa dos 3%. Para ele, o momento atual demanda cuidado, e o Fed deve ser cauteloso para evitar um “grande maremoto” nos mercados financeiros. “É um grande medo. As bolsas já estão caindo há um bom tempo e podem cair mais, e há o risco de uma crise financeira, daí a necessidade de cautela. Precisa ter cuidado com as palavras, no comunicado, para não trazer mais turbulência e despertar uma crise”, afirma.Mais lidas
1