Mundo
Apetite da China empurra uruguaios a comer carne brasileira
18/08/2019
China contra o "churrasco do Pepe"
O corte de carne mais vendido no Uruguai é o asado ou a tira de asado, uma costela cortada de forma transversal, em tiras que incluem pedaços de osso. Até recentemente era uma carne barata, por quilo, um corte popular. Em 2005, com o primeiro governo da Frente Ampla (esquerda), o novo ministro da Pecuária, José el Pepe Mujica, que mais tarde se tornaria presidente, promoveu um pacto com produtores e distribuidores para reduzir o preço de um produto essencial na alimentação nacional. O país saía de uma grave crise, a queda do preço foi festejada com entusiasmo e nasceu um mito: o chamado asado del Pepe(churrasco do Pepe). Mais de 14 anos depois, o consumidor chinês e a lógica do comércio mundial subjugaram esse mesmo Pepe Mujica: o preço da tira de asado está nas nuvens porque a carne de osso é usada nas sopas e ensopados do gigante asiático. Germán Möller, presidente da Associação Nacional de Açougues do Uruguai, reconhece que os preços subiram entre "20% e 25% até agora este ano, e tudo indica que não cairão". Com esse encarecimento, o célebre churrasco agora compete em preço com cortes sem osso, como a maminha de alcatra, que no mercado local sempre foi considerada de qualidade superior. Os uruguaios não estão acostumados a comprar carne estrangeira, pois sempre se abasteceram com o produto nacional. Portanto, o surgimento de importados é visto com um certo tabu: o açougueiro do bairro jura que não vende carne paraguaia e acusa os supermercados de fazer isso; e nos supermercados, por sua vez, os rótulos usam a qualidade nacional como propaganda. A verdade é que a legislação uruguaia não prevê mais informações ao consumidor sobre a origem do produto, entre outras coisas, porque a situação é nova. As coisas terão de mudar muito para que o apetite da China não continue a alterar os costumes dos consumidores uruguaios. Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), o consumo per capita de carne bovina na China está em torno de 5,8 quilos por ano, ainda abaixo da média mundial. Mas, com a renda por pessoa em alta, a tendência é seguir um caminho ascendente. E cada aumento de 100 gramas no consumo equivale a um crescimento de 140.000 tonelada na demanda. Os quase seis quilos por ano por habitante da China abalam o mundo, mas, de uma perspectiva uruguaia, ainda não são grande coisa. Em 2017 (de acordo com os dados mais recentes disponíveis), cada um de seus cidadãos consumiu uma média de 59 quilos de carne bovina, um número que posiciona o país como o primeiro consumidor do mundo, cetro que disputa todos os anos com a Argentina. Se todas as carnes estiverem incluídas, o consumo per capita é de quase 110 quilos.Mais lidas
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