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Com 13.000 mortos por coronavírus nos EUA, Trump volta artilharia contra a OMS

08/04/2020

Da China à Organização Mundial da Saúde (OMS). Donald Trump voltou na terça-feira suas armas contra a OMS na entrevista coletiva diária sobre a crise do coronavírus e ameaçou cortar o financiamento dos Estados Unidos ao organismo multilateral por sua atuação na pandemia.

 

O presidente americano, que nos últimos dias parou de se referir ao SARS-CoV-2, causador da Covid-19, como “vírus chinês” ―arma que estava utilizando contra o gigante asiático devido ao surto ter se originado na área de Wuhan―, começou agora a apontar para a OMS.

 

Sem dar detalhes, Trump, que tem de lidar com uma crise que já matou mais de 13.000 pessoas nos EUA, disse no início da entrevista que Washington iria congelar os fundos, mas em seguida, quando lhe perguntaram se achava que essa seria uma medida inteligente em plena pandemia, matizou suas palavras: “Talvez não. Não digo que vamos fazer isso, mas estamos analisando”.

 

Não há, no entanto, nada improvisado na crítica do mandatário. Na manhã de terça-feira, em sua conta no Twitter, deu a primeira estocada: “A OMS realmente estragou tudo. É financiada em grande parte pelos Estados Unidos, mas, por algum motivo, é muito centrada na China. Vamos examinar bem isso. Felizmente, rejeitei seu conselho de manter nossas fronteiras abertas à China. Por que nos fizeram uma recomendação tão equivocada?”, escreveu.

 

Nesta quarta-feira, a OMS negou ser centrada na China. “Ainda estamos na fase aguda de uma pandemia, então agora não é hora de reduzir o financiamento”, disse o diretor regional da OMS para a Europa, Hans Kluge, durante entrevista coletiva virtual em resposta a uma questão sobre os comentários de Trump. Os Estados Unidos são o maior contribuidor da OMS. No ano passado, destinou à organização mais de 400 milhões de dólares. A China, criticada po Trump, repassou apenas 44 milhões de dólares.

 

A Administração Trump impôs restrições aos viajantes procedentes da China desde 31 de janeiro, uma medida criticada pela OMS, que alegou que “a restrição de entrada de passageiros procedentes de áreas afetadas geralmente não é eficaz na prevenção da chegada de casos, e pode causar um impacto econômico e social significativo”. Além disso, apontou a organização, políticas como essa podem reduzir recursos para “outras intervenções”.

 

Os vetos a viajantes se espalharam por meio mundo a partir de meados de março, quando a ferocidade desta pandemia já era um fato indiscutível.

 

Os Estados Unidos agiram antes que muitos Governos europeus quanto às restrições a viajantes, mas cometeu erros semelhantes na preparação de kits de teste e de equipamento para os hospitais, como os respiradores. Na terça-feira, Trump se concentrou na disputa em torno da entrada de estrangeiros. “Não fechem as fronteiras para a China”, afirmou Trump na Casa Branca, parafraseando a OMS. “Eles [a OMS] não viram [a gravidade da crise], não informaram sobre isso, devem ter visto, mas não informaram”, acusou, sem fundamento, já que a organização enviou vários avisos, embora tenha criticado os vetos nas fronteiras.

 

Segundo dados citados na noite de terça=feira pelo The New York Times, em 2017, último ano com informações disponíveis, os EUA tinham que contribuir com 111 milhões de dólares (573 milhões de reais) para a OMS, segundo as normas da instituição, mas enviaram 401 milhões de dólares (2 bilhões de reais) adicionais. O orçamento global é de 5 bilhões de dólares (26 bilhões de reais).