Os Jogos Paralímpicos de Tóquio irão acontecer em meio a um novo movimento de avanço da pandemia do coronavírus, com o surgimento da nova variante delta, que a cada dia faz novas vítimas pelo mundo. Apesar de terem sido uma das nações mais eficientes para lidar com a primeira onda do vírus - controlou surtos devastadores - o país vive um momento preocupante, ao receber atletas do mundo para competir e buscar uma medalha, e às voltas com um aumento meteórico no número de casos da doença - no último mês ultrapassou a marca de 10 mil casos.
Na Vila Olímpica, onde serão realizadas as competições, há várias regras bastante rígidas, o que mostra a organização dos japoneses. Cerca de 80% dos atletas e treinadores já estão vacinados. A realização dos testes é obrigatória e o movimento é rigorosamente limitado.
Além das medidas preventivas que o Japão adotou, como a obrigatoriedade do uso da máscara, distanciamento, além de outras ações mais incisivas, como a instalação de aplicativos com GPS para monitoramento e envio de relatório diário sobre sua saúde. No entanto, o Japão tem um importante componente que poderia entrar em campo - se é que já não entrou - e que poderia ajudar a barrar ainda mais o número de casos: a prata.
Durante a pandemia, a prata ganhou relevância ao ser descoberta a sua eficácia contra a inativação do vírus ao ser aplicada em superfícies de metal, madeira, papelão, plástico, entre outros. E trazendo esse elemento químico para o universo dos Jogos Paralímpicos, poderia aumentar ainda mais o cerco de proteção, pois pode ser aplicado em diversos itens que integram o dia a dia de todas as pessoas envolvidas nas competições e evitar a contaminação cruzada.
A começar pelas instalações/alojamentos onde a equipe está hospedada. A prata poderia ser aplicada em tintas que foram passadas nas paredes, nas maçanetas, nas bancadas, no filtro do ar-condicionado, nos assentos sanitários e nas torneiras.
As roupas também são importantes aliadas, pois o tecido pode receber a prata, além da própria máscara - o que já existe no mercado e foi a primeira aplicação a colocar as propriedades de filtragem da substância em evidência. Há esportes nos quais o contato entre os competidores é muito próximo, como é o caso do judô e do boxe, e uniformes anti-covid ajudariam a diminuir bastante a possibilidade de contaminação. Ao ser aplicada no tecido, a prata tem a capacidade de inativar o novo coronavírus por contato em até um minuto.
Assim como roupas de cama - lençóis, porta-travesseiros - toalhas, entre outros itens que são feitos com base têxtil também entram na lista de itens que podem ser protegidos pela prata.
Nos restaurantes, onde as delegações farão suas refeições, a proteção contaria com itens a mais para blindar o vírus, como toalhas de mesa, uniforme dos funcionários, além de aplicação de camadas de prata em mesas, cadeiras, bancadas onde as pessoas se servem, nas embalagens das comidas, entre outros.
Nas áreas de competição, camadas de aplicação de prata seriam bem-vindas no piso, nos tatames, nos assentos e nos acessórios utilizados nas competições, como bolas, luvas de boxe, entre outros itens. Até mesmo os bebedouros poderiam ser protegidos
O próprio álcool higienizante utilizado pelas pessoas que circulam no local também poderia ter as partículas de prata. Diferentemente de um álcool comum, o produto anti-covid cria camadas de proteção em gel nas mãos, que duram longas horas, e evita uma contaminação ao ter contato com superfícies infectadas.
É bastante provável que o Japão tenha utilizado essa importante "arma" contra o coronavírus, apesar de terem feito divulgação a respeito. Digo isso porque o próprio país é considerado o berço do desenvolvimento da tecnologia de proteção à base de prata, algo que aconteceu na década de 1980. Podemos dizer que é o mercado mais maduro em termos de número de produtos à base de prata, muito mais avançado do que no Brasil e até mesmo nos Estados Unidos.
O fato de poder ser aplicada em diversos tipos de superfícies permitiria criar um verdadeiro muro de proteção contra o coronavírus, o que, junto com as demais medidas já adotadas pelos japoneses, poderia aumentar ainda mais a segurança para que as pessoas assistam as competições, os organizadores e seus times trabalhem sem preocupação e os atletas façam bonito, sem pensar em uma possível contaminação.
Gustavo Pagotto Simões é Doutor em Química pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), co-fundador e Diretor da Nanox.