Opinião
A história do moderno Mato Grosso não existiria da forma como conhecemos sem a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa. Como engenheiro agrônomo tive o privilégio de acompanhar essas transformações.
Na década de 1970, o Brasil era importador líquido de alimentos, importávamos até feijão. O Cerrado era considerado uma terra infrutífera onde era impossível se produzir. E hoje, além de produzirmos o nosso feijão, o país é líder de muitas commodities, como carne, leite e soja. Até ajudamos outros países do mundo com a nossa agropecuária.
Viabilizar os investimentos federais para que o estado se tornasse uma potência na produção e exportação de grãos, só foi possível por causa do apoio técnico dos ‘pesquisadores da Embrapa, que neste dia 26 de abril faz 50 anos.
A história das pesquisas agropecuárias no Brasil começa na década de 1950, no antigo Centro Nacional de Ensino e Pesquisas Agronômicas, do Ministério da Agricultura, mas a Embrapa foi criada em 1973, com ampliação para a Embrapa Soja, em 1975.
Na época, o trigo era a principal cultura do Sul do Brasil e a soja surgia como uma opção de verão, em sucessão ao trigo. Em Mato Grosso, o arroz era uma das principais culturas.
A grande transformação que a Embrapa trouxe para o Mato Grosso foi o desenvolvimento de espécies de soja adequadas ao Cerrado e a formação de um mercado para os produtos delas derivados. A primeira dessas iniciativas foi a produção da semente de soja da espécie chamada Cristalina 9, cuja destinação estava amparada pelos objetivos governamentais de ocupação econômica do Brasil Central.
Foram esses investimentos em pesquisa que levaram à “tropicalização” da soja, permitindo, pela primeira vez na história, que o grão fosse plantado com sucesso, em regiões de baixas latitudes, entre o trópico de capricórnio e a linha do equador. Essa conquista dos cientistas brasileiros revolucionou a história mundial da soja e seu impacto começou a ser notado pelo mercado a partir do final da década de 80 e mais notoriamente na década de 90.
A soja passou a figurar substantivamente nas estatísticas de Mato Grosso principalmente depois de o estado ter sido dividido, em 1977. Até então o Estado transitava pela cultura do arroz, utilizada como abertura de fronteira na região do Cerrado.
Foi neste período que também surgiu o projeto da Sadia, que tinha outro objetivo, maior, além de produzir óleo de soja: instalar um plano de desenvolvimento rural, com a criação de pequenos animais, como aves e suínos, a partir do principal alimento – o farelo da soja.
A explosão da produção agropecuária em Mato Grosso só aconteceu depois da década de 1990. Quando a Embrapa foi fundamental para permitir uma maior integração da produção com o crescimento dos pequenos animais, como suínos e aves, cujos projetos foram implantados ainda na década anterior.
Hoje, graças a Embrapa e outras entidades de pesquisa, Mato Grosso é o maior produtor de soja do país, e o terceiro maior produtor mundial, superando inclusive a Argentina. Também somos destaque na produção de carne, cana-de-açúcar, milho, algodão, mandioca e mel.
O desafio do futuro é usar a agricultura digital, reduzir os impactos ambientais e apoiar os pequenos produtores a ampliarem sua produção. E com certeza a Embrapa continuará sendo uma entidade protagonista e aliada nessa caminhada.
Júlio Campos é Deputado Estadual em MT