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Advogado assassinado em Cuiabá disputava terras no município de Querência, em MT; Ele foi multado em R$ 627 mil pela Sema

O advogado morto em Cuiabá alegava que a Fazenda era sua e apesar de ter batizado com seu sobrenome, Zampieri, ela não consta no Cadastro Ambiental Rural (CAR) da área

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM REPÓRTER BRASIL 06/12/2023
Advogado assassinado em Cuiabá disputava terras no município de Querência, em MT; Ele foi multado em R$ 627 mil pela Sema
Os tiros foram disparados por um homem que aguardava o advogado próximo em uma calcada, próximo ao escritório. | Rede Social

O advogado Roberto Zampieri, da Zampiere e Campos Advogados, que recebeu dez tiros e foi executado a ‘queima roupa’ ao sair do escritório no bairro Bosque da Saúde, em Cuiabá, na norte de terça feira, 05, quando ele estava entrando em seu veículo, um Fiat Toro, disputava terras no município de Querência(755 KM de Cuiabá).

As terras pertence a Fazenda São Francisco do Rio Paco, cujo a propriedade o produtor rural Wander Carlos de Souza alega ser sua. Wander, no início dos anos 2000 costumava dar entrevistas ostentando jóias e sua coleção de aviões.

À época, Souza, que já foi prefeito de Acreúna (GO), se intitulava “o maior produtor individual de algodão do país”.

O advogado morto em Cuiabá alegava que a Fazenda era sua e apesar de ter batizado com seu sobrenome, Zampieri, ela não consta no Cadastro Ambiental Rural (CAR) da área, que está ativo, porém aguardando análise por ter uma porcentagem do perímetro em sobreposição com a TI(Terras indígenas) Kĩsêdjê.

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O advogado – afirmava – que possuía seis imóveis no valor total de R$ 20 milhões e que teria sido recebido de honorários advocatícios.

No fim de 2020, o Ministério Público pediu a inclusão de Zampieri no inquérito civil que investiga o desmatamento na área. Inicialmente, era Wander Souza quem constava nos autos.

Mas, a fazenda estava ocupada pelo advogado recentemente e foi embargada e multada por desmatamento ilegal em 2021 pela Secretaria do Meio Ambiente de Mato Grosso, no valor de R$ 627 mil.

Imagens do satélite Planet (do MapBioma) e de drones tiradas em meados do ano passado mostram grandes clareiras abertas em meio à floresta além de estradas que não levam a um destino, servindo para delimitar três lotes, cuja área total equivale à de 1.300 campos de futebol.

O desmatamento ilegal foi confirmado por uma vistoria ao local de técnicos da Secretaria do Meio Ambiente, que embargaram a área e multaram Zampieri por desmatamento ilegal. Entre as infrações estavam desmatar em áreas próximas a rios e a veredas (vegetação típica da região), descumprindo assim o Código Florestal.

Além disso, o desmate ocorreu dentro da chamada área de amortecimento de zona indígena, uma faixa onde são proibidas atividades exploratórias – como supressão de floresta, mineração ou pulverização de agrotóxico –, para impedir que os impactos ambientais cheguem às aldeias.

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O clarão na mata que fica na Fazenda Zampieri foi identificado pelos índios Kĩsêdjê pela primeira vez em abril de 2020. “Começamos a perceber a derrubada de árvores e ficamos preocupado porque se avançar o desmatamento, tem o risco de diminuição dos nossos recursos hídricos, dos peixes, dos animais que a gente caça”, afirma Winti Khisetje, representante da comunidade na TI Wawi, que foi uma das mais atingidas por incêndio em 2021.  

Os indígenas se depararam com o trecho desmatado pois visitam a área com frequência – laudos antropológicos comprovaram que a área da fazenda já foi ocupada pelos Kĩsêdjê no passado.

Com as imagens de satélite em mãos, os indígenas fizeram uma denúncia ao Ministério Público Estadual do MT e à Secretaria do Meio Ambiente do Estado. Juntamente com a Polícia Militar, o Instituto de Defesa Agropecuária do Estado do MT (Indea), bombeiros e Polícia Militar foram ao local e encontraram o desmate de vegetação nativa.

No fim de 2020, o Ministério Público pediu a inclusão de Zampieri no inquérito civil que investiga o desmatamento na área. Inicialmente, era Wander Souza quem constava nos autos.