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Médico de Cuiabá é acusado de causar morte de paciente em cirurgia sem UTI

Polícia Civil indiciou cirurgião por homicídio culposo após paciente de 35 anos sofrer paradas cardíacas durante procedimento estético; defesa nega negligência

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM PC-MT 09/07/2025
Médico de Cuiabá é acusado de causar morte de paciente em cirurgia sem UTI
O cirurgião plástico Rodrigo Bernardino foi indiciado e vai responder criminalmente por homicídio culposo, acusação que se refere a matar sem intenção, mas por imprudência ou negligência profissional | Rede Social

A Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) concluiu o inquérito sobre a morte da estudante Thayane Oliveira Sousa Leal, de 35 anos, ocorrida durante uma cirurgia plástica em uma clínica sem Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em Cuiabá.

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O cirurgião plástico Rodrigo Bernardino foi indiciado e vai responder criminalmente por homicídio culposo, acusação que se refere a matar sem intenção, mas por imprudência ou negligência profissional.

O caso aconteceu no dia 23 de outubro de 2024, quando Thayane foi internada para realizar abdominoplastia e lipoaspiração ao mesmo tempo. Os dois procedimentos prolongaram o tempo cirúrgico e aumentaram o risco de complicações.

Segundo o inquérito, já no fim da cirurgia, a paciente sofreu uma parada cardiorrespiratória súbita. A equipe médica tentou reanimá-la por quase uma hora. Mesmo assim, a falta de estrutura adequada obrigou a remoção de emergência para outro hospital. Durante o trajeto, Thayane sofreu nova parada cardíaca e chegou praticamente sem sinais vitais. Apesar das manobras de ressuscitação, o óbito foi confirmado.

O marido da vítima relatou que a família foi informada de que receberia atualizações constantes sobre o andamento da cirurgia, mas, após a primeira ligação, houve silêncio absoluto por horas. Só então o médico compareceu para avisar que o quadro era crítico e a esposa estava sendo transferida.

Após a morte, o valor pago pela cirurgia foi devolvido à família — um gesto que os parentes consideraram frio e ofensivo diante da perda.

No decorrer do inquérito, a Polícia Civil ouviu anestesiologistas, enfermeiras e a funcionária que acompanhava Thayane. Todos confirmaram que os exames pré-operatórios estavam normais, mas ressaltaram que a clínica não tinha condições de lidar com uma emergência prolongada, como parada cardíaca.

O cirurgião declarou que a cirurgia ocorria sem intercorrências até a parada súbita dos sinais vitais. Ele afirmou que acompanhou a paciente até a entrada no hospital, onde a morte foi confirmada.

Para o delegado Marcelo Carvalho, responsável pelo caso, houve negligência e imprudência na decisão de realizar procedimentos complexos em local sem suporte intensivo, o que, na avaliação da Polícia, contribuiu diretamente para a morte da paciente.

A defesa do médico contesta o indiciamento e sustenta que todos os protocolos médicos foram seguidos, que a complicação foi imprevisível e que o atendimento de emergência ocorreu de forma rápida.

O inquérito já foi encaminhado ao Poder Judiciário e ao Ministério Público Estadual, que decidirão se apresentarão denúncia formal contra o cirurgião. Caso seja denunciado e condenado, Rodrigo Bernardino pode pegar pena de reclusão e perder o direito de exercer a medicina.

A morte de Thayane acendeu o alerta sobre os riscos de cirurgias plásticas realizadas em clínicas sem infraestrutura completa, onde a ausência de suporte crítico pode transformar procedimentos estéticos em tragédias irreversíveis.