Política

Bolsonaro é alvo de panelaço e de novo pedido de impeachment

18/03/2020

Pelo segundo dia consecutivo o presidente Jair Bolsonaro foi alvo de um panelaço durante a noite desta quarta-feira. Assim como ocorreu na terça, por volta das 20h30 foram ouvidos gritos de “fora Bolsonaro”, “fora Guedes” e “dólar a 5,20”, acompanhados pelo bater de panelas em diversas regiões de São Paulo, além de outras cidades do país, como Rio, Brasília, Salvador e Recife. Uma manifestação a favor do Planalto, convocada pelo próprio presidente, também aconteceu por volta das 21h, mas de maneira menos contudente.

 

Em São Paulo, o protesto, que durou mais de 40 minutos, contou com carros que passavam buzinando pelas ruas e moradores de apartamentos piscando a luz nas janelas. Durante a tarde, carros de som convocaram para o protesto contra o presidente em vários pontos da cidade. A iniciativa foi intitulada “Vozes na janela” e organizada via redes sociais, marcando a estreia de Bolsonaro como alvo desse tipo de manifestação. O panelaço é muito comum na Argentina e se popularizou no Brasil na campanha do impeachment contra Dilma Rousseff, especialmente em 2016. Assim como nos atos contra a petista, o protesto ganhou ampla cobertura do Jornal Nacional, da TV Globo, em rota de colisão com Planalto.

 

Na esteira do protesto, um grupo de intelectuais e parlamentares do esquerdista PSOL protocolou na Câmara, na noite desta quarta, um segundo pedido de impeachment do presidente. O primeiro havia sido registrado na terça-feira pelo deputado distrital Lenadro Grass (Rede-DF). Os dois documentos sustentam que Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade ao convocar e participar de atos que pediam o fechamento do Congresso Nacional e do STF, no domingo, dentre outros supostos crimes. O momento é ruim para Bolsonaro, que resolvou mudar a tom de resposta à crise do coronavírus. Ainda assim, no momento, não há grandes expectativas de que qualquer um dos pedidos de afastamento de prospere, segundo avaliam especialistas ouvidos pelo EL PAÍS.

  Horas antes, durante entrevista coletiva para falar sobre a crise do coronavírus, Bolsonaro foi indagado sobre o panelaço contra ele, e usou um tom conciliador: “Parece que é um movimento espontâneo por parte da população. Qualquer movimento por parte da população eu encaro como uma expressão da democracia”. A crise econômica e a irresponsabilidade de Bolsonaro ao participar de um protesto de repúdio ao Congresso e ao Judiciário no domingo, mesmo após ter tido contato com várias pessoas contaminadas pelo coronavírus foram motivo de críticas -inclusive de aliados-, e serviram de combustível para os panelaços. No twitter a hashtag “ForaBolsonaros” chegou a ficar em primeiro lugar nos tópicos mais comentados.   Com a visibilidade que os panelaços contra seu Governo ganharam nas redes sociais, o presidente reagiu. Pela manhã desta terça-feira ele atacou a Globo que, segundo ele, teria dado destaque para o panelaço desta noite durante seus telejornais matutinos. Além disso, segundo ele, a emissora teria ignorando o panelaço “a favor do Governo”, que ocorreria às 21h. “O Jornal Hoje (TV Globo) e Veja on line, divulgam, de forma ostensiva, panelaço hoje às 20h30 contra o presidente Jair Bolsonaro. Mas a mesma imprensa, que se diz imparcial, não divulga outro panelaço, às 21h a favor do Governo de Jair Bolsonaro”, escreveu no Twitter.   Na hora marcada para manifestação a favor de Bolsonaro, manifestações pontuais foram registradas em várias cidades, com relatos panelaços nos Jardins e no Morumbi, em São Paulo, e na Aldeota, em Fortaleza. Na zona sul de Belo Horizonte também registrou forte demonstração de apoio. A avaliação dos que testemunharam, no entanto, é que a reação foi menor que o protesto contra o Governo. No final da noite, Bolsonaro fez uma postagem dizendo: “Nunca abandonarei o povo brasileiro”.