Cultura

Charola de São Sebastião preserva devoção e tradições religiosas no ES

12/08/2019
“Foi em 20 de janeiro, que nasceu São Sebastião, foi encerrada a sua vida, nessa mesma ocasião”. É desse modo que Mestre Izaías Quirino da Silva inicia as ladainhas do Grupo Charola de São Sebastião do Alto Paulista. Há 45 anos à frente do grupo, ele conduz a procissão que demonstra a devoção ao santo, de 6 a 20 de janeiro, pelas ruas de Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo.   No ano passado, Mestre Izaías teve seu trabalho reconhecido pelo Prêmio Culturas Populares – edição Selma do Coco. Este ano, as inscrições seguem abertas até a próxima sexta-feira, 16 de agosto, e podem ser feitas por meio da página culturaspopulares.cultura.gov.br ou por via postal. Ao todo, 250 mestres, mestras e pontos de cultura das cinco regiões serão premiados com R$ 20 mil cada.   Segundo Mestre Izaías, além da valorização do trabalho desenvolvido pelo grupo, a premiação em dinheiro auxiliou na manutenção dos trabalhos. “O Prêmio Culturas Populares é de fato importante, porque incentiva nosso trabalho, anima as pessoas. E também pode ajudar a comprar algumas coisas que o grupo precisa. No meu caso, a gente comprou instrumentos musicais”, conta.  

Charola de São Sebastião

Ligada aos cultos natalinos e à Folia de Reis, que ocorrem anualmente de 24 de dezembro a 6 de janeiro, os festejos da Charola de São Sebastião estendem-se até 20 de janeiro, dia do Santo. Durante esses dias, o grupo passa pelas ruas e visita as casas, tocando e cantando ladainhas e carregando a bandeira de São Sebastião.   Para Mestre Izaías, a procissão, que é o significado da palavra Charola, deve ser preservada, pois diz muito de seus valores e de uma parte da cultura da região. Ele participa dos festejos desde os sete anos, mantendo a tradição já praticada por seus pais, e só se ausentou durante alguns anos da juventude, quando morou no Rio de Janeiro. Ao regressar para o Espírito Santo, retomou a tradição da qual, mais tarde, se tornaria mestre.  

Tradição

Os festejos, originalmente católicos, vieram com os portugueses para o Brasil e receberam a influência das religiões e tradições africanas. Sobre a transmissão dos saberes e das práticas, Izaías diz que gostaria que fossem mantidas, mas não tem certeza de que isso ocorrerá. “Os mais jovens até participam, mas não têm o engajamento que nós temos, essa devoção. Então pode ser que, quando eu morrer, a tradição não seja mantida”, lamenta.   Atualmente, em todo o estado do Espírito Santo, a cidade de Cachoeiro do Itapemirim é a única onde a Charola de São Sebastião ainda persiste. Os governos municipal e estadual também auxiliam e, por meio de editais de apoio, o grupo já lançou CDs, DVDs e livros.   Segundo o secretário especial da Cultura do Ministério da Cidadania, Henrique Pires, o Prêmio Culturas Populares é importante para ajudar a preservar esses saberes. “É preciso estimular e preservar a cultura popular para que ela não se perca. O país é muito grande, são mais de oito milhões de quilômetros quadrados, nós recebemos imigrantes do mundo inteiro, existe uma tradição local, existe uma tradição adaptada e, por conta disso, nós precisamos levantar estas manifestações populares, estimular, sejam no Norte ou no Nordeste, no Sul do Brasil. É muito legal isso, e a gente está contando que esse prêmio cada vez mais estimule a cultura popular no País”, conta ele.  

Prêmio Culturas Populares

Lançado em 2007, o Prêmio Culturas Populares já teve seis edições, com cerca de 11 mil inscrições e 2.045 mestres, grupos e entidades sem fins lucrativos premiados com um total de R$ 28,75 milhões. A premiação ficou suspensa entre 2013 e 2016, tendo sido retomada em 2017. No ano passado, foram agraciadas 129 iniciativas da Região Nordeste, 123 da Sudeste, 99 da Sul, 98 da Norte e 51 da Centro-Oeste. O objetivo do Prêmio é estimular a preservação e a permanências dos saberes e das tradições culturais brasileiras.   Os interessados em participar da edição deste ano têm até 16 de agosto, próxima sexta-feira, para se inscrever. Serão destinados 150 prêmios a iniciativas de mestres e mestras da cultura popular, 90 a pessoas jurídicas sem fins lucrativos com finalidade ou natureza cultural, já reconhecidas como Pontos de Cultura ou cadastradas na Plataforma Rede Cultura Viva, e 10 para pessoas jurídicas com ações comprovadas em acessibilidade cultural, também reconhecidas como Pontos de Cultura ou cadastradas na Plataforma Rede Cultura Viva. Os premiados nas edições de 2017 e 2018 não poderão concorrer ao prêmio neste ano. Os interessados podem apresentar uma única inscrição em apenas uma categoria.  

Serviço

Prêmio Culturas Populares Prazo para se inscrever: até 16 de agosto Edital e anexos: http://culturaspopulares.cultura.gov.br/arquivos/ Mais informações: culturaspopulares.cultura.gov.br