Economia e Negócios

Dólar sobe e fecha a R$ 5,99, após EUA confirmarem tarifas extras de 50% sobre a China; Ibovespa cai

A moeda norte-americana teve alta de 1,47%, cotada a R$ 5,9973. Já o principal índice da bolsa brasileira recuou 1,32%, aos 123.932 pontos

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM G1 08/04/2025
Dólar sobe e fecha a R$ 5,99, após EUA confirmarem tarifas extras de 50% sobre a China; Ibovespa cai
O dólar abriu a sessão desta quarta-feira (5) em queda, em um dia mais curto de negociações no Brasil | Murad Sezer/ Reuters

O dólar disparou mais uma vez e fechou a R$ 5,99 nesta terça-feira (8), após os Estados Unidos confirmarem a cobrança de uma tarifa extra de 50% sobre produtos importados da China.

Com a medida, a soma de todas as taxas aplicadas pelos EUA contra os chineses chegará a uma alíquota de 104%. As cobranças passarão a valer já nesta quarta-feira (9), informou a Casa Branca.

O resultado de hoje levou o dólar ao seu maior valor desde 21 de janeiro, quando fechou a R$ 6,0302. Enquanto isso, o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, teve forte queda. (veja os detalhes mais abaixo).

Na véspera, Trump disse que iria impor taxas extras de 50% sobre os produtos importados da China caso o país asiático não desistisse de retaliar os EUA após o "tarifaço" detalhado pelo republicano na quarta-feira passada.

A medida de Trump incluiu uma taxa de 34% contra a China — que, em resposta, anunciou dois dias depois a imposição de tarifas de mesma magnitude sobre itens norte-americanos.

O presidente norte-americano, então, estabeleceu como prazo as 13h desta terça-feira para a China retirar a taxação, o que não ocorreu.

Durante a madrugada desta terça, autoridades chinesas disseram que não voltariam atrás e que estariam prontas para seguir respondendo aos aumentos tarifários. Mesmo assim, o país considera que "em uma guerra comercial não há vencedores".

Algumas horas depois, Trump chegou a postar em sua rede social que a China quer muito fazer um acordo, "mas não sabe por onde começar". "Estamos esperando a ligação deles. Vai acontecer!", disse.

O assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, afirmou nesta terça que os EUA estão priorizando seus aliados e parceiros comerciais, como o Japão e a Coreia, nas possíveis negociações para diminuir as tarifas.

Veja abaixo o resumo dos mercados.

💲Dólar

O dólar subiu 1,47%, cotado a R$ 5,9973. Na máxima do dia, chegou a R$ 6,0053. Veja mais cotações.

Com o resultado, acumulou:

  • alta de 2,77% na semana;
  • ganho de 5,11% no mês; e
  • perda de 2,95% no ano.

No dia anterior, a moeda americana teve alta de 1,29%, cotada a R$ 5,9106.

📈Ibovespa

O Ibovespa recuou 1,32%, aos 123.932 pontos. Na mínima do dia, chegou a 123.454 pontos.

Com o resultado, o Ibovespa acumulou:

  • queda de 2,61% na semana;
  • recuo de 4,86% no mês; e
  • ganho de 3,03% no ano.

Na véspera, o índice teve baixa de 1,31%, aos 125.588 pontos.

O que está mexendo com os mercados?

A situação dos EUA com a China continua delicada. Confirmando a ameaça de Trump, a Casa Branca anunciou mais tarifas contra o país asiático, que agora terá taxas de 104% sobre seus produtos que entram em solo americano.

O aumento da tarifa contra a China veio porque o país não recuou na imposição de tarifas de 34% sobre todos os produtos importados dos EUA, uma resposta ao "tarifaço".

"Se a China não retirar seu aumento de 34% acima de seus abusos comerciais de longo prazo até amanhã, 8 de abril de 2025, os Estados Unidos imporão tarifas adicionais à China de 50%, com efeito em 9 de abril", publicou Trump em sua rede social.

O porta-voz do ministro de Relações Internacionais chinês, Lin Jian, porém, afirmou que a China "vai lutar até o fim" caso os EUA continuem a impor tarifas sobre as importações.

Lin Jian, no entanto, reforçou a visão de que ninguém ganha em uma guerra comercial.

“Não há vencedores em uma guerra comercial ou uma guerra tarifária. O protecionismo não oferece saída", disse.

O pregão desta terça-feira tinha começado mais tranquilo, guiado por uma percepção de que os EUA podem avançar nas negociações com outros países para evitar uma guerra tarifária.

Além das declarações de Trump na véspera, dizendo que vai chegar a "acordos justos" com os países que procurarem os EUA para negociar as tarifas aplicadas pelo presidente, a União Europeia também voltou a se manifestar sobre o assunto.

Um porta-voz da UE disse, nesta terça, que o bloco quer evitar as tarifas recíprocas e uma eventual guerra comercial com os EUA.

A afirmação vem mesmo após a Casa Branca rejeitar uma oferta da UE de adotar uma política tarifária de "zero por zero" em relação a todos os bens industriais comercializados entre os países do bloco e os EUA.

Nesta segunda, o conselheiro econômico do governo Trump, Peter Navarro, disse que os EUA só aceitariam chegar a um acordo com a UE se o bloco reduzisse suas barreiras não tarifárias, como as regulamentações de segurança alimentar, por exemplo.

Segundo o porta-voz da UE o desejo de chegar a um acordo para evitar as tarifas dos EUA não mudou. "Estamos esperando que nossos colegas americanos se envolvam de forma significativa (nas negociações."

Com as expectativas de negociações, os mercados europeus e asiáticos tiveram um dia de leve recuperação em relação aos dias de derretimento vividos desde o anúncio das tarifas recíprocas, na semana passada.

📉 Veja o desempenho das principais bolsas asiáticas:

  • 🇭🇰 Hang Seng, de Hong Kong, subiu 1,51%
  • 🇨🇳 CSI 1000, da China, subiu 0,61%
  • 🇯🇵 Nikkei 225, do Japão, subiu 6,01%
  • 🇬🇸 Kospi, da Coreia do Sul, subiu 0,26%
  • 🇮🇳 Nifty 50, da Índia, subiu 1,69%

📉 Veja o desempenho das principais bolsas da Europa:

  • 🇩🇪 o DAX, da Alemanha, subiu 2,36%
  • 🇫🇷 o CAC 40, da França, subiu 2,50%
  • 🇬🇧 o FTSE 100, do Reino Unido, subiu 2,71%
  • 🇮🇹 o Itália 40, da Itália, subiu 2,58%
  • 🇪🇸 o IBEX 35, da Espanha, subiu 2,38%
  • 🇳🇱 o AEX, da Holanda, subiu 2,82%
  • 🇨🇭 o SMI, da Suíça, subiu 3,12%

Mercado viveu dias de quedas fortes

A imposição de tarifas pelos EUA fez os mercados derreterem desde a semana passada. Donald Trump detalhou a medida na quarta-feira (2) e, desde então, as bolsas despencaram pelo mundo, especialmente na Europa e na Ásia.

Os principais índices norte-americanos também foram fortemente impactados, caindo até 10% no acumulado da semana. As bolsas de Nova York registraram as maiores quedas em um único dia desde 2020, ano em que o planeta enfrentava a pandemia de Covid-19.

Ao todo, empresas listadas no mercado norte-americano perderam US$ 6 trilhões em valor de mercado entre quinta e sexta-feira, conforme levantamento feito por Einar Rivero, da consultoria Elos Ayta.

As maiores perdas foram das chamadas "magnificent seven" (sete magníficas), grupo das sete gigantes da tecnologia que lideraram os mercados nos últimos anos. Fazem parte do grupo a Alphabet (dona do Google), Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla.

As companhias perderam, juntas, US$ 1 trilhão em valor de mercado na quinta-feira, dia seguinte ao anúncio das tarifas recíprocas pelo presidente norte-americano. Na sexta-feira, as perdas foram de US$ 802 bilhões, totalizando US$ 1,8 trilhão em dois dias.

Especialistas acreditam que esse aumento de preços deve pressionar os custos e reduzir o consumo nos EUA, o que pode provocar uma desaceleração ou até uma recessão na maior economia do mundo.

Com as tarifas recíprocas, aplicadas a mais de 180 países, o grande temor do mercado é de que o "tarifaço" inicie uma guerra comercial generalizada. O cenário de incerteza faz com que os investidores se afastem dos ativos de risco, como os mercados de ações, o que prejudica as bolsas de valores em todo o mundo.

Em sua resposta, o governo chinês também anunciou que vai impor controles sobre a exportação de terras raras para os EUA — um conjunto de matérias-primas que são difíceis de encontrar pelo mundo, mas são a base para a produção de muitos produtos tecnológicos, como chips para celulares, computadores e cartões.

Alguns dos materiais que terão sua exportação controlada pelo governo são samário, gadolínio, térbio, disprósio, lutécio, escândio e ítrio. Essas restrições já começam a valer nesta sexta.

"O objetivo da implementação do governo chinês de controles de exportação sobre itens relevantes de acordo com a lei é proteger melhor a segurança e os interesses nacionais e cumprir obrigações internacionais como a não proliferação", disse o Ministério do Comércio em um comunicado.

Os temores de uma guerra comercial se justificam principalmente pela possibilidade de o mundo todo se envolver em um período de forte desaceleração da atividade econômica.

O analista financeiro Vitor Miziara explica que, para além da cautela já gerada pelas tarifas americanas, eventuais retaliações tarifárias aplicadas por outros países podem, primeiro, elevar a inflação em nível global e, depois, reduzir uma forte queda na demanda.

"Com tarifa no mundo inteiro, tudo fica mais caro até que o comércio global pare", pontua.

  • 🔎 Tarifas maiores tornam os produtos mais caros, e encarecem também os bens e serviços que dependem desses insumos importados. Isso tende a aumentar a inflação e impactar o consumo.

Por isso, há uma percepção de que os EUA podem passar por um período de desaceleração da atividade econômica, ou até uma recessão da economia — o que tem potencial de afetar o mundo todo.