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Preços do petróleo disparam após ataques a instalações na Arábia Saudita
O preço do petróleo disparou nesta segunda-feira (16) em Londres após os ataques do fim semana contra instalações da petroleira Aramco, na Arábia Saudita, que cortaram pela metade a produção do maior exportador mundial.
Os contratos futuros do petróleo Brent, valor de referência internacional, fecharam a US$ 69,02 por barril, avançando US$ 8,80, ou 14,61%, em seu maior ganho percentual em um único dia desde pelo menos 1988, segundo a Reuters.
Já os futuros do petróleo dos Estados Unidos encerraram a sessão a US$ 62,90 o barril, alta de US$ 8,05, ou 14,68% — maior avanço percentual diário desde dezembro de 2008.
Na abertura do mercado, a cotação do barril disparou 19,5% em Londres, para US$ 71,95, a maior alta intradia desde 14 de janeiro de 1991, durante a guerra do Golfo, ainda segundo a agência Reuters. Nos EUA, o barril chegou a subir 15,5%, para US$ 63,3, maior alta durante uma sessão desde 22 de junho de 1998.
Durante os negócios, os preços caíram das máximas depois que o presidente norte-americano, Donald Trump, autorizou o uso de estoques de emergência de seu país para assegurar a estabilidade do suprimento. Mas ele disse também que está pronto para reagir ao ataque, o que manteve tensões geopolíticas.
Os Estados Unidos acusaram o Irã pelo ataque, dizendo não haver evidências de que eles partiram do Iêmen. O Irã rebateu e disse os Estados Unidos buscam um pretexto para retaliar.
Os ataques de drones no sábado (14) provocaram incêndios na unidade saudita de Abqaiq, a maior do mundo dedicada ao processamento de petróleo, e na instalação de Khurais, provocando a redução da produção da petroleira em cerca de 5,7 milhões de barris por dia, o que representa mais de 5% do suprimento global de petróleo.
"O ataque anulou quase metade da produção saudita, ou seja, 5% da produção mundial, o que evidencia a vulnerabilidade destas infraestruturas aos ataques com drones", destacou Craig Erlam, da corretora Oanda.
"Retirar mais de 5% da oferta global de uma única tacada – um volume que é maior que o crescimento da oferta acumulado em países de fora da Opep entre 2014 e 2018 – é altamente preocupante", escreveram analistas do UBS em nota.
As autoridades sauditas anunciaram que os ataques não provocaram vítimas, mas ainda não informaram quanto tempo será necessário para restabelecer plenamente a produção nas instalações. Analistas acreditam que seriam necessárias várias semanas, ou meses, para o país voltar à normalidade.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) está avaliando o impacto no mercado de petróleo do ataque a instalações da Arábia Saudita, e considera muito cedo para os membros da entidade tomarem medidas para aumentar a produção ou convocarem uma reunião
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Os preços do petróleo estavam relativamente reduzidos nos últimos meses, uma consequência das reservas abundantes e dos temores de desaceleração da economia mundial, fatores que afetavam a demanda.
Na sexta-feira (13), os contratos futuros do petróleo Brent fecharam a US$ 60,22. Já os futuros do petróleo dos EUA fecharam a US$ 54,85.
A Opep chegou a estabelecer limites de produção para tentar manter a faixa de preço. Mas os ataques demonstram a vulnerabilidade do país com maior capacidade de produção mundial, apontou o analista Amarpreet Singh, do Barclays, e inclui um elemento de risco geopolítico aos preços.
A redução da produção afeta também a confiança dos investidores na Aramco, que prepara sua entrada na bolsa. O governo saudita quer lançar no mercado de ações cerca de 5% de sua petroleira estatal em 2020 ou 2021.
Grandes importadores de petróleo saudita, como Índia, China e Indonésia, devem ser os mais vulneráveis à interrupção na oferta, segundo a Reuters.
China pede moderação
A China fez um apelo nesta segunda-feira ao Irã e aos Estados Unidos para que demonstrem "moderação" após as acusações de Washington a Teerã pelos ataques contra instalações do grupo estatal saudita Aramco, segundo a France Presse.
Os bombardeios foram reivindicados por rebeldes houthis do Iêmen, que enfrentam há cinco anos uma coalizão militar liderada pela Arábia Saudita e contam com o apoio do Irã.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não descartou no domingo (15) retaliar o ataque. Trump também autorizou o uso do estoque emergencial de petróleo dos EUA para garantir um suprimento estável após o ataque.
"Na ausência de uma investigação incontestável que permita tirar conclusões, talvez não seja sensato imaginar quem deve ser responsabilizado por este ataque", afirmou Hua Chunying, porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China.
"Pedimos às partes envolvidas que se abstenham de adotar medidas que levariam a uma escalada das tensões na região."
"Esperamos que as duas partes possam demonstrar moderação e, juntas, preservem a paz e a estabilidade no Oriente Médio", completou Hua, cujo país é membro permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Tensão entre EUA e Irã
A tensão entre Estados Unidos e Irã aumentou desde que Washington abandonou de maneira unilateral em 2018 o acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano assinado em 2015.
O governo americano restabeleceu sanções econômicas contra Teerã. Trump autorizou o uso das reservas estratégicas americanas de petróleo, se necessário, para compensar a queda de produção na Arábia Saudita.
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, afirmou no sábado que não há provas de que o ataque tenha procedido do Iêmen, apontando diretamente para o Irã, e acrescentou que Washington "trabalhará" com seus parceiros para garantir o abastecimento.
O porta-voz do ministério iraniano das Relações Exteriores, Abbas Mussavi, respondeu no domingo que as acusações são "insensatas" e "incompreensíveis" e que só buscam justificar "futuras ações" contra o Irã.
O príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, cujo país é o grande rival regional do Irã, assegurou que Riad está "disposto e capacitado" responder ao que chamou de "agressão terrorista".