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Em quarto dia de protestos, polícia dispara contra manifestantes no Iraque

04/10/2019

A policia do Iraque atirou na sexta-feira (4) contra pessoas que protestavam em Bagdá, neste quarto dia consecutivo de distúrbios pelo país. De acordo com a agência Reuters, as forças policiais pareciam ter como alvo manifestantes individuais. Repórteres da agência viram uma pessoa cair no chão depois de levar um tiro na cabeça. Ele foi declarado morto no hospital.

O número de mortos ainda é impreciso. Até as 18h desta sexta-feira (4), segundo a Reuters, 65 pessoas morreram; a agência France Presse, citando fontes oficiais, fala em "mais de 60", e a Associated Press, "mais de 50". Há ao menos 1,6 mil feridos.

Em outro lugar de Bagdá, uma equipe de televisão da Reuters viu um homem gravemente ferido por um tiro no pescoço depois que atiradores de elite nos telhados abriram fogo contra uma multidão.

As manifestações no Iraque, que está em toque de recolher, já deixaram dezenas de mortos e centenas de feridos. A Organização das Nações Unidas (ONU) pediu uma investigação sobre a repressão policial.

Desde terça-feira (1º), as forças de segurança têm usado gás lacrimogêneo para dispersar os protestos, que estão se intensificando. Porém, nesta sexta, testemunhas disseram que abriram fogo diretamente contra as pessoas, não atiraram para o alto.

O balanço de vítimas nesses dias de protestos em todo o país ainda não está claro. De acordo com a France Presse, 33 pessoas morreram. A Associated Press diz que esse número já chegou a 42, e a Reuters fala em 46.

Na maior parte do país, o acesso à internet está cortado desde quarta-feira – uma medida do governo para tentar acabar com os protestos.

Clérigo pede saída do governo

O clérigo xiita Moqtada al-Sadr – que exerce influência política a parte dos iraquianos – pediu nesta sexta-feira a saída do atual governo e a convocação de novas eleições.

Além dele, o aiatolá Ali Sistani, principal autoridade dos xiitas do Iraque, expressou seu apoio às manifestações, mas pediu aos manifestantes e às forças de segurança que evitem a violência. Ele também pediu ao governo uma resposta "antes que seja tarde".

"O governo e os políticos não responderam às exigências do povo para que combatam a corrupção nem fizeram nada no país. O Parlamento é o maior responsável pelo que está acontecendo", declarou.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos considerou as manifestações legítimas e pediu ao Iraque uma investigação rápida e transparente sobre as mortes dos últimos dias.

"Estamos preocupados com informações que indicam que a polícia usa balas de borracha e munição real em algumas áreas e que jogou gás lacrimogêneo contra os manifestantes. Todos os incidentes em que policiais causaram mortes e feridos devem ser submetidos a uma investigação rápida, independente e transparente", declarou a porta-voz.

'Sem solução mágica'

Mais cedo, o primeiro-ministro iraquiano, Adel Abdel Mahdi, defendeu seu governo e afirmou que a crise "ameaça destruir todo o Estado".

O premiê disse que "não há solução mágica" para os problemas do país, mas prometeu trabalhar nas leis que concedem às famílias pobres uma renda básica, fornecer moradias alternativas aos infratores e combater a corrupção.

O NetBlocks, grupo que monitora bloqueios à internet, afirmou que a rede, que estava fora do ar no Iraque, foi brevemente restaurada antes do discurso de al-Mahdi. Porém, enquanto o discurso ainda estava sendo transmitido, a conexão voltou a cair logo que apareceram vídeos dos protestos.

Tensão

Os protestos põem em xeque o governo de Adel Abdul-Mahdi, que está perto de completar um ano. Nos atos, jovens formados em universidades iraquianas protestam contra a dificuldade em se encontrar emprego em um país sem dinheiro, mas que é rico em petróleo.