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Chile decreta toque de recolher em mais regiões; governo diz que há mortos

20/10/2019

O governo do Chile informou que três pessoas morreram durante um incêndio em um supermercado na madrugada deste domingo (20) na zona sul de Santiago. O incêndio aconteceu em meio aos protestos e saques que tomaram as ruas do país.

A prefeita de Santiago, Karla Rubilar, afirmou que duas pessoas morreram queimadas e a terceira vítima faleceu no hospital.

As vítimas morreram em um incêndio registrado durante o saque a um supermercado da rede Líder - controlado pelo grupo americano Walmart. Os bombeiros controlaram as chamas após duas horas.

A capital Santiago, Valparaíso (centro) e Concepción (sul) estão sob esquema de segurança, com grande presença militar e policial, depois que o presidente Sebastián Piñera decretou um toque de recolher nas três regiões durante a madrugada deste domingo, o que não impediu os atos de violência. As autoridades não informaram se a medida prosseguirá por mais dias.

O governo anunciou toque de recolher ainda em Rancagua, La Serena e Coquimbo. O general Javier Iturriaga, responsável por comandar o estado de emergência, já havia decretado a medida na capital Santiago e na região metropolitana após manifestantes continuarem nas ruas mesmo com a suspensão da alta na tarifa do metrô.

O Ministro de Defesa, Alberto Espina, afirmou que mais 9.500 integrantes das Forças Armadas foram mobilizados para atuar contra os protestos, principalmente para controlar pontos estratégicos como centrais de abastecimento de água, eletricidade e cada uma das 136 estações de metrô, que são alguns dos alvos mais visados pelos manifestantes.

"Estamos vivendo elevadíssimos níveis de delinquência e saques", afirmou Alberto Espina, ministro da Defesa. O governo também mobilizou militares nas regiões de O'Higgins e Coquimbo, igualmente afetadas pela violência.

É a primeira vez que Santiago é patrulhada por soldados desde o fim da ditadura do general Augusto Pinochet, em 1990.

No aeroporto da capital chilena, centenas de pessoas ficaram retidas - muitas dormiram no chão - com o cancelamento ou adiamento de voos.

Suspensão na alta da tarifa

Após a onde de protestos, o presidente chileno Sebastián Piñera anunciou no sábado a suspensão do aumento de 30 pesos (quase 20 centavos) na passagem de metrô na capital Santiago. "Escutei com humildade a voz de meus compatriotas e não terei medo de seguir escutando esta voz. Vamos suspender o aumento nas passagens do metrô", disse o presidente em uma transmissão.

O presidente se reunirá com seus ministros neste domingo para abordar a situação. Piñera também convocou uma mesa de diálogo "ampla e transversal" para atender às demandas sociais, que até o momento não apresentam um líder ou uma lista precisa de reivindicações.

Estado de emergência

Na sexta e no sábado, auge das manifestações, as forças de segurança foram esmagadas pela multidão: houve destruição em pontos diversos da capital, entre incêndios em estações de metrô, concessionárias de carro e postos de gasolina, além de inúmeros saques em lojas, supermercados, bancos e hotéis.

Isso levou à declaração de emergência no sábado para confiar ao Exército o controle da situação em Santiago, ao qual o governo acrescentou as regiões de Valparaíso (centro), Concepción (sul), as comunas de Coquimbo e La Serena, na região de Coquimbo (norte) e a comuna de Rancagua, O'Higgins (centro).

Piñera disse que o objetivo da medida é voltar a recuperar a normalidade. "O objetivo deste estado de emergência é muito simples, mas muito profundo: garantir a ordem pública, a tranquilidade dos habitantes da cidade de Santiago, proteger bens públicos e privados e, acima de tudo, garantir os direitos de todos", disse.

Críticas a modelo econômico

A militarização do país vem aumentando para tentar controlar a radicalização dos protestos contra o aumento do preço do metrô, apontados por observadores apenas como a ponta do iceberg do cansaço da sociedade com a desigualdade no país.

Aos gritos de "basta de abusos" e com o lema que dominou as redes sociais "ChileAcordou", o país enfrenta críticas a um modelo econômico em que o acesso à saúde e à educação é praticamente privado, com elevada desigualdade social, baixos salários em relação ao custo de vida, valores de pensões reduzidos e alta do preço dos serviços básicos. A força dos protestos abalou o governo de Piñera, que poucos dias antes havia afirmado que o Chile era uma espécie de "oásis" na região.

Piñera reconheceu que há "boas razões" para protestar, mas pediu uma "manifestação pacífica" e observou que "ninguém tem o direito de agir com violência criminosa brutal" em relação aos danos ao Metrô de Santiago, onde 78 estações foram danificadas.

Segundo a agência Reuters, no sábado, 156 policiais ficaram feridos, cinco deles gravemente, 49 carros da polícia foram danificados e 308 pessoas foram detidas. O metrô ficará fechado durante todo o final de semana. O governo anunciou a suspensão das aulas nas escolas em Santiago na segunda-feira.