Mundo
Coronavírus confina um terço da humanidade
Até agora a Covid-19 matou mais de 19.000 pessoas e infectou cerca de 430.000 em 175 países, números que aumentam aos milhares diariamente. O foco, originalmente na província chinesa de Hubei –onde Wuhan está localizada– passou para a Europa e a Organização Mundial da Saúde (OMS) acredita que em poucas semanas poderá se deslocar novamente para a América. “A pandemia está se acelerando”, alertou a OMS. À medida que se espalha, mais países adotam medidas mais ou menos rigorosas para limitar o movimento de seus habitantes ou os confinam completamente: pelo menos 2,6 bilhões de pessoas, segundo cálculos da agência de notícias francesa AFP, estão sob esse tipo. de restrições. As escolas permanecem fechadas em muitos países, do Chile ao Japão.
O grande sinal positivo nesta quarta-feira é o levantamento da quarentena na província de Hubei, à espera que Wuhan faça o mesmo no dia 8. Os primeiros trens e ônibus que ligam a região ao resto da China começaram a rodar depois de dois meses de interrupção. As montanhas de Wudang, um importante ponto turístico da região, reabriram. O risco de epidemia em Wuhan foi reduzido de alto para médio. Nenhum novo caso foi anunciado na cidade hoje, no entanto duas mortes foram registradas. Em todo o país, desde o começo da epidemia, foram detectados 81.000 infectados, dos quais 3.287 morreram.
Por outro lado, a Índia, o segundo país mais populoso do mundo, acordou nesta quarta-feira com seus quase 1,3 bilhão de habitantes em “confinamento total” de 21 dias, entre interrogações sobre se será possível cumpri-lo. O objetivo é deter a propagação do vírus depois de atingir 482 casos detectados e nove mortes, apesar das medidas adotadas nos últimos dias de fechamento de escolas, suspensão de eventos esportivos, transporte de passageiros e fechamento do país ao exterior. “Estimamos que, na pior situação, possa haver entre 20.000 e 50.000 pacientes (de coronavírus) na Índia”, disse o doutor K. Aggarwal, membro da Associação Médica da Índia (IMA), à agência Efe.
Medidas semelhantes foram adotadas em outros países do Sudeste Asiático, da Tailândia à Malásia. Na Indonésia, onde se teme que o número real de infectados seja muito maior do que o declarado depois de uma lenta reação oficial –686 casos e 55 mortes–, existe a preocupação de que uma escalada das infecções possa aumentar a pressão sobre um sistema de saúde mais frágil que os de outros países da região. Os números também estão aumentando na Coreia do Sul –uma centena de novos casos– e no Japão, dois países que conseguiram manter suas curvas sob controle. Em Tóquio, a governadora da capital, Yuriko Koike, pediu aos quase 14 milhões de habitantes da cidade que não saiam de casa nos próximos dias, depois que 41 novas infecções foram confirmadas nessa metrópole.
Na Europa, continuam as tentativas de achatar as curvas em diferentes países. Na Espanha, foram detectados mais 7.937 casos, atingindo 47.610, e o número de vítimas mortais da China foi superado, com 3.434 óbitos. O diretor do Centro de Coordenação de Alertas e Emergências Sanitárias do Ministério da Saúde, Fernando Simón, destacou que “não estamos muito longe” do pico. A Itália, o país mais afetado da Europa e o que apresenta o maior número de mortes no mundo, contabiliza 69.176 infecções e 6.820 mortes. No Vaticano, o papa Francisco liderou uma oração do Pai Nosso à qual se juntaram católicos de todo o mundo para pedir o fim da pandemia.
A Alemanha, por sua vez, proibiu a entrada de quase 300.000 trabalhadores temporários, a maioria da Romênia e da Polônia, que contrata anualmente no setor agrícola. A França, que também ordenou que sua população ficasse em casa, estima que as medidas durarão “cerca de seis semanas”. No Reino Unido, depois de uma série de hesitações, o confinamento também foi imposto aos seus 66 milhões de habitantes. Só se pode sair de casa, sozinho ou em dupla, para fazer compras de alimentos, ir ao trabalho se for “estritamente necessário” ou fazer um pouco de exercício. Neste país, o príncipe Charles, herdeiro do trono, deu positivo para o coronavírus, como foi confirmado pelo Palácio de Buckingham.
A Rússia também se juntou aos países em quarentena e seus cidadãos não irão trabalhar na próxima semana, anunciou seu presidente, Vladimir Putin. Os serviços fundamentais continuarão abertos. O coronavírus também obrigou o líder russo a adiar, por enquanto, a consulta popular sobre a reforma da Constituição que poderia prolongá-lo no poder.
A incidência do vírus fez a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, a chilena Michelle Bachelet, lançar um apelo para flexibilizar ou suspender as sanções a países muito castigados e com sistemas de saúde muito frágeis, como Coreia do Norte, Cuba, Venezuela e Irã, um dos países mais afetados pela pandemia e que suspendeu o transporte interprovincial para tentar contê-la.
Na América Latina, onde o caso espanhol provocou um forte alarme, o Panamá decretou quarentena, o Paraguai fechou suas fronteiras e aeroportos até domingo e o Uruguai também bloqueou a entrada de estrangeiros.
Entretanto, Jair Bolsonaro, o presidente do Brasil, continua minimizando a pandemia e afirma que os governadores que adotaram medidas de quarentena colocam em risco a economia com uma política de “terra arrasada”.
Na África, onde a propagação da pandemia é motivo de enorme preocupação, a África do Sul já tem mais de 700 casos. A Líbia e o Mali confirmaram suas primeiras infecções nesta quarta-feira, e a República Democrática do Congo, que se despediu do ebola com cantos e danças, decretou estado de emergência e confinou Kinshasa, a capital. Em Washington, o Fundo Monetário Internacional alertou que a disseminação do coronavírus na região subsaariana será um duro golpe para esses países, provocando uma redução no comércio, uma queda nos preços das matérias-primas e impactos diretos nos meios de subsistência de seus habitantes, entre outras questões.
Apesar da cautela generalizada, os Estados Unidos, que já acumulam quase 50.000 infecções e ameaçam se tornar um dos focos mundiais da doença, consideram afrouxar suas medidas de isolamento em meados de abril. “Nosso país não foi feito para fechar. Você pode destruir um país dessa maneira, fechando-o”, disse o presidente dos EUA, Donald Trump, em declarações à rede Fox News. No entanto, o doutor Anthony Fauci, especialista em doenças infecciosas e assessor da Casa Branca, pediu “muita flexibilidade” com essa data.