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O homem que colocou as elites peruanas aos pés de seu cavalo-
Professor radical Pedro Castillo ganha o primeiro turno das eleições à presidência
O professor, desde a greve de 2017, é relacionado a grupos políticos formados por membros do Sendero Luminoso, em liberdade após cumprir condenação. Ele sempre se desvinculou, mas sua sombra o perseguiu até as urnas. O jornal Perú 21 alertou um dia antes da votação em uma manchete de página inteira em primeiro plano: “Cuidado, o Sendero Luminoso estará presente nestas eleições”. Uma capa que, de qualquer modo, não chegou aos seus eleitores, em sua maioria divididos entre o sul e as regiões mais pobres. No Peru 20% da população vive na pobreza, de acordo com os últimos indicadores oficiais, ainda que se estime que a porcentagem tenha crescido durante a pandemia. Castillo foi ao segundo turno com 18% dos votos.
Apesar da enorme distância ideológica, o líder do Peru Livre compartilha uma parte de seu ideário com os políticos conservadores mais votados na capital, como Keiko Fujimori, Hernando de Soto e o candidato de extrema-direita Rafael López Aliaga. A agenda social, uma questão rara na política peruana, resume em uma emenda todos os avanços sociais que preocupam tão pouco da maioria dos arranha-céus de Lima ao grosso das montanhas andinas. Rejeição ao aborto, rejeição ao casamento homossexual, rejeição a incluir a igualdade de gênero no currículo escolar, rejeição à eutanásia.Castillo promete lutar contra o poder estabelecido de seu passado como rondero, uma organização social criada em Chota na década de 70 por agricultores e camponeses para se defender do roubo de gado e da violência. O regime próprio dos ronderos, à margem da lei, inclui chicotadas e o escárnio público contra ladrões e malfeitores. Nas duas décadas em que o Peru sofreu a violência do Sendero Luminoso (1980-2000) a vigilância e força das rondas de Cajamarca deteve a entrada na região do terrorismo que semeava atentados e morte na maior parte dos Andes.
Restam dois meses ao segundo turno das presidenciais. Na espera da finalização da votação, tudo leva a crer que será a líder do fujimorismo a encarregada de representar um setor do Peru que não quer Castillo nem pintado de ouro. Ela também não cai no gosto da maioria. Keiko Fujimori é a candidata de maior rejeição entre os eleitores, mas em eleições tão fragmentadas, a porcentagem de fujimoristas acérrimos que ainda mantêm a levaram à segunda posição com apenas 14% dos votos.
As elites de Lima continuam procurando nesta segunda-feira no Twitter respostas a resultados que não entendem. Na escola 10465, no centro do povoado de Puña, na província de Chota, o professor de ensino primário às vezes leva seus alunos ao campo, levanta seu celular e caminham em silêncio procurando um ponto de internet para acessar o Google pela primeira vez.