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Alimentados pelo calor extremo, incêndios devoram o leste do Mediterrâneo
Temperaturas excepcionais, com registros de até 47,1 graus no norte da Grécia, multiplicam os focos nos países da região. “É uma nova normalidade que veremos com a mudança climática”, alerta um especialista
Para demonstrar de forma científica a relação do aquecimento climático com algum evento meteorológico extremo, conforme explica Juan Jesús González, pesquisador especialista em mudança climática da Universidade Complutense de Madri, é preciso realizar um estudo de atribuição, como se fez com a onda de calor do passado mês de julho no Canadá, sobre a qual um estudo da organização World Weather Attribution (WWA) concluiu que ela teria sido “quase impossível” se o planeta não estivesse se aquecendo como hoje em dia. Entretanto, estes trabalhos são caros e nada comuns.
Contudo, como insiste este meteorologista, o aquecimento global obriga a humanidade a se preparar a ondas de calor cada vez mais frequentes. “A mudança climática não é causa de um evento extremo, o que faz é aumentar suas características associadas, como a frequência, a duração ou a intensidade; tudo isto entra no contexto esperável”, diz González. “O caso da Grécia e Turquia é uma nova normalidade que veremos com a mudança climática.”
Casas arrasadas na Turquia
Os incêndios também devastam fortemente a Turquia, onde os moradores do sudoeste do país vêm há uma semana observando como o fogo consome hectares de forma descontrolada. As zonas mais afetadas se encontram entre os complexos turísticos de Bodrum e Antalya, onde milhares de pessoas tiveram que ser desalojadas de suas casas pela proximidade das chamas. De fato, muitos lares ficaram destruídos nos pequenos povoados dos arredores de Milas, onde o fogo ameaça a central termoelétrica de Kemerkoy.
Segundo Ismail Bekar, cientista situado na Turquia da Escola Politécnica Federal de Zurique, “não há uma prova empírica para afirmar que os incêndios são provocados pela mudança climática, mas nos últimos cinco anos foram crescendo, e este ano foi o pior na história da Turquia”. Este especialista considera que o que está acontecendo neste país está relacionado com a própria onda de calor que asfixia a Grécia e outros países mediterrâneos, e mostra sua surpresa pelas altas temperaturas que também foram vividas nos últimos dias nas costas turcas do Egeu: “Agora estamos com máximas de 46 graus nas regiões afetadas, é uma temperatura assombrosa”.
Os números na Turquia assustam: o Serviço Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais aponta que mais de 136.000 hectares queimaram na Turquia durante este ano, aproximadamente o triplo da média normal. Uma fatalidade à qual nos últimos dias se somaram oito mortes e 16.603 pessoas desabrigadas em 28 municípios. O Serviço de Vigilância Atmosférica Copernicus (CAMS) informava na quarta-feira que os dados do ar na Turquia e sul da Itália “mostram que as emissões e a intensidade dos incêndios florestais estão aumentando com celeridade, enquanto países como Marrocos, Albânia, Grécia, Macedônia do Norte e Líbano também estão sendo afetados”.