Mundo

A presidente e sua coleção de relógios Rolex: entenda o escândalo que mobiliza os peruanos

Dina Boluarte teve a casa invadida a força por 40 agentes de segurança em busca de sua coleção de relógios luxuosos e não declarados

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM G1 01/04/2024
A presidente e sua coleção de relógios Rolex: entenda o escândalo que mobiliza os peruanos
Dina Boluarte, presidente do Peru, está no centro de um escândalo por causa de seus relógios luxuosos | Luis Iparraguirre/Peru Presidency/Handout via Reuters

A associação entre presidente, corrupção e instabilidade é automática no Peru. Em seis anos, o país teve cinco presidentes. O escândalo da vez envolve a atual mandatária, Dina Boluarte, há 15 meses no poder, e os relógios luxuosos que ela costuma ostentar no pulso. Na madrugada de sábado, sua casa e o palácio presidencial foram invadidos por 40 agentes das forças de segurança, em busca da coleção de 15 relógios que integram o chamado “Rolexgate” e não constam de suas declarações de renda.

    A presidente rejeitou a operação determinada pelo Ministério Público e a classificou como “arbitrária, desproporcional e abusiva”. Pela primeira vez na história do país, a residência de um presidente da República foi arrombada à força.

    De acordo com o programa de TV “Cuarto Poder”, que teve acesso aos autos da Promotoria, a presidente se recusou a entregar os relógios da marca Rolex: “Se você quiser, procure-os”, teria dito ao procurador Hernán Mendoza. “Tomei posse com as mãos limpas e assim vou me aposentar da Presidência em 2026”, atestou ela, depois, num pronunciamento à nação.

    Foram encontrados oito relógios de menor valor, mas não os três Rolex modelo Datejust 36, que variam entre US$ 15,2 mil e US$ 22,5 mil (cerca de R$ 76,5 mil e R$ 113,2 mil), e o modelo Day-Date, de US$ 18 mil (R$ 90 mil), desvendados numa reportagem do site “Encerrona”. A presidente pediu ao Ministério Público para antecipar seu depoimento, marcado para a próxima sexta-feira, em função “da turbulência política” causada pela investigação.

    No sábado, após reunir 26 assinaturas, o partido Peru Livre apresentou uma moção de vacância, que no país equivale a um pedido impeachment, por incapacidade moral, mas a presidente conseguiu o apoio de outros grupos parlamentares e descartou a renúncia ou a antecipação de eleições.

    Desconfiança

    Numa enquete realizada no domingo pelo programa “Cuarto Poder”, 92% responderam que Boluarte procura torpedear as investigações abertas pela Promotoria. Apenas 8% disseram acreditar nela. A presidente sustenta que os relógios foram adquiridos com o fruto de seu trabalho, iniciado aos 18 anos de idade.

    Boluarte chegou ao poder como vice-presidente de Pedro Castillo, que cumpriu um ano e meio de mandato até tentar dar um golpe de Estado para se manter no poder. O ex-presidente foi destituído em dezembro de 2022 e está preso.

    Antes do “Rolexgate”, a atual presidente, de 61 anos, já era alvo de denúncias por enriquecimento ilícito nos últimos dois anos. De acordo com o jornal “La República”, seu patrimônio triplicou entre 2021 e 2023

    Os escândalos contra a presidente incluem supostos casos de tráfico de influência, acusações de plágio em seu livro e financiamento ilícito de campanha, para citar alguns. Mas, até agora, embora os olhos do país estejam direcionados em seu pulso, Boluarte resiste firmemente no cargo, com o apoio do Parlamento peruano.