Mundo
Trump e Putin negociam cessar-fogo na Ucrânia por telefone: 'Está indo bem', diz Casa Branca
No início da tarde, ainda não havia informações sobre o teor da conversa. A Casa Branca se limitou a dizer que "está indo bem"

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, iniciou uma conversa por telefone com o presidente russo, Vladimir Putin, nesta terça-feira (18/3) para discutir o fim da guerra na Ucrânia.
No início da tarde, ainda não havia informações sobre o teor da conversa. A Casa Branca se limitou a dizer que "está indo bem".
Na segunda (17), Trump afirmou na rede Truth Social que "muitos elementos" da proposta de um acordo pela paz foram aceitos por Putin, embora "muitos" ainda precisem ser negociados.
"Milhares de soldados jovens, e outros, estão sendo mortos. Cada semana traz 2.500 mortes de soldados, de ambos os lados, e isso deve acabar AGORA. Estou muito ansioso para a ligação com o presidente Putin", escreveu Trump.
O presidente americano tenta conquistar o apoio de Putin para uma proposta de cessar-fogo de 30 dias que a Ucrânia aceitou na semana passada, enquanto ambos os lados continuaram a realizar pesados ataques aéreos durante o fim de semana.
É uma tarefa complicada — Putin já disse que, embora seja a favor de um acordo, há muitos detalhes a serem resolvidos antes.
Ele disse que as "causas raízes" da guerra devem ser removidas, mas não declarou explicitamente quais são elas.
O líder russo listou as perguntas que ele quer que sejam respondidas: "Como esses 30 dias serão usados? Para a Ucrânia se mobilizar? Rearmar? Treinar pessoas? Ou nada disso? Então uma pergunta — como isso será controlado?", questionou Putin.
"Quem dará a ordem para acabar com a luta? A que custo? Quem decide quem quebrou qualquer possível cessar-fogo? Todas essas perguntas precisam de um trabalho meticuloso de ambos os lados", completou Putin.
O líder russo estabeleceu tantas pré-condições "que nada dará certo", chegou a declarar o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Já o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Sybiha, pediu o uso de todas as "ferramentas diplomáticas" para fazer a Rússia aceitar "incondicionalmente" a proposta de paz.
Entenda seis pontos que deverão estar na mesa na conversa entre Trump e Putin nesta terça-feira.
1. Território

Crédito,Reuters
Trump disse que os EUA devem discutir com a Rússia e a Ucrânia a "divisão de certos ativos". Mas o que isso significa?
Poderia se referir à divisão de território como parte de um possível acordo de longo prazo. Mas isso é improvável, avalia James Landale, da BBC em Kiev.
A Ucrânia diz que nunca aceitará território ocupado como russo, e a Rússia diz que as quatro regiões parcialmente ocupadas no leste são constitucionalmente suas, lembra Landale.
"Então, é mais provável que Trump esteja se referindo a questões territoriais que precisam ser resolvidas como parte de qualquer cessar-fogo de curto prazo", avalia o correspondente.
Isso pode envolver onde traçar uma "linha de contato" que pode dividir cidades e vilas de uma forma que é impraticável atualmente.
Também pode se referir ao acesso seguro aos portos do Mar Negro.
O presidente do comitê de relações exteriores no parlamento ucraniano, Oleksandr Merezhko, diz que o país tem limites sobre até onde iria para aceitar a paz com a Rússia.
O primeiro desses limites diz respeito à integridade territorial, segundo Merezhko. "Não é negociável. Nunca concordaremos com nenhuma concessão territorial."
2. Zona tampão e desarmamento

Crédito,Serviço de imprensa do Ministério da Defesa da Rússia via EPA-EFE
A região de Kursk também deve ser central na discussão.
Tropas ucranianas lançaram uma incursão ali em agosto passado, recapturando um pedaço da região, para a surpresa dos aliados de Kiev e o constrangimento de Moscou.
Com a ajuda de cerca de 10 mil soldados norte-coreanos, a Rússia tem lutado, gradualmente empurrando as forças da Ucrânia de volta para a fronteira.
Recentemente, a Rússia conseguiu recapturar Sudzha — uma cidade-chave em Kursk.
"Os militares ucranianos pensaram que poderiam manter Kursk como moeda de troca nas negociações e, infelizmente, isso não deu certo", diz Jack Watling, pesquisador sênior do Royal United Services Institute à BBC.
Segundo reportagem da agência Reuters de 12 de março, Putin, durante visita a Kursk, pediu que as forças da Rússia retomem rapidamente das forças ucranianas qualquer área restante.
Ele também deixou claro na ocasião que considera a criação de uma zona-tampão na região de Sumy, na Ucrânia, do outro lado da fronteira de Kursk.
Kiev tem dito, no entanto, que não aceita limitações à suas forças.
"Não podemos concordar com as sugestões de Putin, com algum tipo de limitação às nossas capacidades de defesa", disse Oleksandr Merezhko.
3. Usina nuclear
Autoridades dos EUA disseram que planejam discutir o destino de uma importante instalação de geração de energia ucraniana com a Rússia como parte das negociações de paz.
Embora não tenham nomeado a instalação, é provável que seja a usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa, avalia Vitaliy Shevchenko, editor para Rússia da BBC Monitoring.
A usina está ocupada por forças russas desde março de 2022, e os temores de um acidente nuclear persistem devido aos combates na área.
Trump disse na noite de domingo que ele e Putin falarão "sobre usinas de energia" na conversa telefônica desta terça-feira.
"Embora ele tenha usado a frase no plural, não parece haver nenhuma outra usina de energia tão grande e tão próxima da linha de frente que possa ser discutida como moeda de troca em negociações importantes", avalia Shevchenko.
Na quinta-feira, Trump disse que havia "uma usina de energia muito grande envolvida; quem vai ficar com a usina de energia".
Steve Witkoff, enviado de Trump que falou com o presidente russo Vladimir Putin em Moscou também na quinta-feira disse que "há um reator nuclear que fornece bastante eletricidade para a Ucrânia. Isso precisa ser resolvido".
A usina nuclear de Zaporizhzhia tem seis reatores. Ela não fornece eletricidade desde setembro de 2022.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, também sugeriu na sexta-feira que o futuro da usina nuclear de Zaporizhzhia foi discutido entre negociadores ucranianos e americanos.
4. Otan

Crédito,Reuters
A Rússia exigirá garantias de segurança da aliança militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e dos EUA em qualquer acordo sobre a Ucrânia, disse o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Alexander Grushko.
Parte dessas demandas inclui a exclusão da Ucrânia da filiação à Otan, uma grande ambição do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
"Somente por meio da formação de garantias de segurança inabaláveis será possível alcançar uma paz duradoura na Ucrânia", disse Grushko ao jornal russo Izvestia.
Merezhko disse que esse é outro ponto inegociável para a Ucrânia.
"Putin não deveria decidir isso", afirmou o presidente do comitê de relações exteriores no parlamento ucraniano.
5. Força de paz
Mais de 30 países estarão envolvidos em uma "coalizão da boa vontade" para ajudar a Ucrânia, disse um porta-voz do primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer.
O plano, liderado pelo Reino Unido e pela França, foi estabelecido no início deste mês.
A coalizão trabalharia para manter o cessar-fogo na guerra da Rússia contra a Ucrânia.
Cada país que fornecer tropas de manutenção da paz terá "capacidades diferentes" dentro da coalizão, disse o porta-voz de Starmer na segunda-feira.
"Esta será uma força significativa, com um número significativo de países fornecendo tropas e um grupo maior contribuindo de outras maneiras", acrescenta.
Os detalhes operacionais ainda estão sendo discutidos, mas Starmer avalia que uma garantia de segurança dos EUA é essencial para garantir a paz, disse o porta-voz.
Zelensky disse nesta segunda-feira nas redes sociais que ordenou que seu ministro da Defesa, Rustem Umerov, monte uma equipe de negociadores que "interagirá com parceiros em todos os detalhes do sistema de segurança de que a Ucrânia precisa".
Na declaração, ele disse que a equipe viajará para Londres esta semana para participar de uma reunião de "representantes militares".
Chefes militares devem se reunir em Londres na quinta-feira (20/3) para discutir planos para uma força de manutenção da paz na Ucrânia se um cessar-fogo for acordado. Mas não está claro se Zelensky está se referindo à mesma reunião.
Quanto ao possível estabelecimento de uma força de paz durante o período de cessar-fogo, mesmo que a Grã-Bretanha e a União Europeia tenham dado declarações sobre policiar um possível armistício, a Rússia diz "não" a quaisquer tropas da Otan ou da UE em solo, observa Sarah Rainsford, correspondente da BBC para o Leste Europeu.
6. Reparação pela guerra
Na semana passada, em uma declaração conjunta, Ucrânia e EUA disseram que concluiriam "o mais rápido possível" um acordo garantindo o acesso dos EUA à riqueza mineral da Ucrânia, que Trump exige como compensação pelos bilhões de dólares em armas dos EUA cedidos à Ucrânia sob seu antecessor Joe Biden.
A Rússia espera que eventuais reparações usando o lucro de suas reservas congeladas incluam os territórios anexados; já a Ucrânia quer que a Rússia pague pelos US$ 500 bilhões estimados em reparação.
Uma proposta de consenso pode buscar combinar o uso das reservas russas, com os lucros futuros do acordo de exploração mineral entre EUA e Ucrânia.