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O segredo por trás da fumaça do Vaticano na eleição do papa

Nesta quarta, a fumaça vista no céu do Vaticano foi preta, indicando que ainda não houve a eleição de um novo papa

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM BBC 07/05/2025
O segredo por trás da fumaça do Vaticano na eleição do papa
Fumaça branca sobe da chaminé acima da Capela Sistina, no Vaticano, indicando que um novo papa foi eleito, em 13 de março de 2013 | REUTERS

O processo para determinar o sucessor do papa Francisco teve início nesta quarta-feira (7/5) com o conclave, o encontro em que 133 cardeais da Igreja Católica estão aptos a votar em seu escolhido para o cargo.

Não há prazo para acabar: o processo termina quando dois terços dos votantes escolhem um mesmo nome. Seu fim é marcado por um símbolo hoje bastante conhecido, o momento em que a fumaça branca escapa pela chaminé da Capela Sistina, sinalizando que um novo pontífice foi eleito.

Nesta quarta, a fumaça vista no céu do Vaticano foi preta, indicando que ainda não houve a eleição de um novo papa.

A fumaça nem sempre fez parte do ritual, entretanto. Entre os anos 1800 e o início do século 20, as cédulas usadas pelos cardeais eram queimadas após cada votação como forma de indicar que não havia sido alcançado um consenso para a eleição.

Era a ausência de fumaça que sinalizava que um novo papa havia sido escolhido.

O processo mudou em 1914, quando a fumaça preta passou a indicar que os cardeais reunidos ainda não haviam chegado ao consenso de dois terços necessário para eleger um novo papa, e a branca, que haviam concordado em um dos nomes.

Mas de onde vem a fumaça e como ela é produzida?

Como a fumaça é feita

A fumaça que se vê saindo da chaminé da Capela Sistina continua vindo da queima das cédulas de votação.

A cor vem de aditivos químicos queimados em um segundo forno e depois incorporados a ela.

No passado, o Vaticano utilizava métodos mais simples: palha úmida produzia a fumaça branca e piche produzia a preta.

Quem já acendeu uma fogueira sabe que grama molhada cria uma fumaça clara e que jogar pneus velhos no fogo vai gerar uma fumaça preta densa e tóxica — cheia de partículas de carbono prejudiciais à saúde e potencialmente cancerígenas.

A mudança de método, no entanto, não foi motivada por preocupações ambientais. O problema era outro: em conclaves anteriores, a fumaça saía acinzentada e ambígua, gerando confusão.

Por isso, a partir de 2005, decidiu-se adotar uma técnica mais precisa, baseada em compostos químicos.

Fornos onde são produzidas a fumaça que sai pela chaminé da Capela Sistina durante o conclave

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Sistema da Capela Sistina tem dois fornos, um para a queima das cédulas e outro, dos componentes químicos que vão dar cor à fumaça

Recentemente, o Vaticano divulgou os ingredientes. Para a fumaça preta, usa-se uma mistura de perclorato de potássio, antraceno e enxofre.

Já a fumaça branca é feita com clorato de potássio, lactose (açúcar do leite) e resina de coníferas, conhecida como rosin, usada por músicos para aumentar o atrito em arcos de violino.

Na prática, o que se faz é produzir versões simples de bombas de fumaça comuns. Essas bombas funcionam combinando uma substância rica em carbono — como açúcar — com um agente oxidante, que fornece o oxigênio necessário para a queima.

Perclorato e clorato de potássio são os oxidantes mais comuns. Já o carbono vem do antraceno, da lactose e da resina.

O antraceno, presente no alcatrão de carvão, é excelente para gerar fumaça preta densa, mas deixou de ser usado em fogos de artifício por ser cancerígeno. O enxofre, que também queima bem, era parte essencial da pólvora — e a mistura do Vaticano para a fumaça preta lembra bastante essa antiga fórmula, substituindo apenas o salitre pelo perclorato.

Para a fumaça branca, em aplicações militares, costuma-se usar pó de zinco e hexacloroetano — um solvente tóxico que, embora eficaz, pode causar danos ao fígado e problemas respiratórios. Não é surpresa, portanto, que o Vaticano tenha optado por uma versão mais segura.

Hoje, o sistema é altamente controlado. Aquecedores elétricos e ventiladores garantem que a fumaça saia com força, e o processo foi testado para evitar que a fumaça preta se desfaça em partículas menores e acabe parecendo branca — um efeito que às vezes acontece em fogueiras.

*Com informações da reportagem da BBC Future, publicada em março de 2013