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O segredo por trás da fumaça do Vaticano na eleição do papa
Nesta quarta, a fumaça vista no céu do Vaticano foi preta, indicando que ainda não houve a eleição de um novo papa

O processo para determinar o sucessor do papa Francisco teve início nesta quarta-feira (7/5) com o conclave, o encontro em que 133 cardeais da Igreja Católica estão aptos a votar em seu escolhido para o cargo.
Não há prazo para acabar: o processo termina quando dois terços dos votantes escolhem um mesmo nome. Seu fim é marcado por um símbolo hoje bastante conhecido, o momento em que a fumaça branca escapa pela chaminé da Capela Sistina, sinalizando que um novo pontífice foi eleito.
Nesta quarta, a fumaça vista no céu do Vaticano foi preta, indicando que ainda não houve a eleição de um novo papa.
A fumaça nem sempre fez parte do ritual, entretanto. Entre os anos 1800 e o início do século 20, as cédulas usadas pelos cardeais eram queimadas após cada votação como forma de indicar que não havia sido alcançado um consenso para a eleição.
Era a ausência de fumaça que sinalizava que um novo papa havia sido escolhido.
O processo mudou em 1914, quando a fumaça preta passou a indicar que os cardeais reunidos ainda não haviam chegado ao consenso de dois terços necessário para eleger um novo papa, e a branca, que haviam concordado em um dos nomes.
Mas de onde vem a fumaça e como ela é produzida?
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A fumaça que se vê saindo da chaminé da Capela Sistina continua vindo da queima das cédulas de votação.
A cor vem de aditivos químicos queimados em um segundo forno e depois incorporados a ela.
No passado, o Vaticano utilizava métodos mais simples: palha úmida produzia a fumaça branca e piche produzia a preta.
Quem já acendeu uma fogueira sabe que grama molhada cria uma fumaça clara e que jogar pneus velhos no fogo vai gerar uma fumaça preta densa e tóxica — cheia de partículas de carbono prejudiciais à saúde e potencialmente cancerígenas.
A mudança de método, no entanto, não foi motivada por preocupações ambientais. O problema era outro: em conclaves anteriores, a fumaça saía acinzentada e ambígua, gerando confusão.
Por isso, a partir de 2005, decidiu-se adotar uma técnica mais precisa, baseada em compostos químicos.

Crédito,Getty Images
Recentemente, o Vaticano divulgou os ingredientes. Para a fumaça preta, usa-se uma mistura de perclorato de potássio, antraceno e enxofre.
Já a fumaça branca é feita com clorato de potássio, lactose (açúcar do leite) e resina de coníferas, conhecida como rosin, usada por músicos para aumentar o atrito em arcos de violino.
Na prática, o que se faz é produzir versões simples de bombas de fumaça comuns. Essas bombas funcionam combinando uma substância rica em carbono — como açúcar — com um agente oxidante, que fornece o oxigênio necessário para a queima.
Perclorato e clorato de potássio são os oxidantes mais comuns. Já o carbono vem do antraceno, da lactose e da resina.
O antraceno, presente no alcatrão de carvão, é excelente para gerar fumaça preta densa, mas deixou de ser usado em fogos de artifício por ser cancerígeno. O enxofre, que também queima bem, era parte essencial da pólvora — e a mistura do Vaticano para a fumaça preta lembra bastante essa antiga fórmula, substituindo apenas o salitre pelo perclorato.
Para a fumaça branca, em aplicações militares, costuma-se usar pó de zinco e hexacloroetano — um solvente tóxico que, embora eficaz, pode causar danos ao fígado e problemas respiratórios. Não é surpresa, portanto, que o Vaticano tenha optado por uma versão mais segura.
Hoje, o sistema é altamente controlado. Aquecedores elétricos e ventiladores garantem que a fumaça saia com força, e o processo foi testado para evitar que a fumaça preta se desfaça em partículas menores e acabe parecendo branca — um efeito que às vezes acontece em fogueiras.
*Com informações da reportagem da BBC Future, publicada em março de 2013