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Mísseis alemães e reação de Trump precedem possível ofensiva terrestre russa

Militares ucranianos no front e analistas ocidentais observam sinais de que a Rússia prepara uma grande invasão por terra

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM CNN 27/05/2025
Mísseis alemães e reação de Trump precedem possível ofensiva terrestre russa
Militares russos equipam sistema de mísseis táticos Iskander durante fórum técnico-militar internacional Exército-2015 em Kubinka, Rússia | REUTERS/Sergei Karpukhin

Cumprindo promessa de campanha, o chanceler alemão, Friedrich Merz, anunciou na segunda-feira (26) que os mísseis Taurus poderão ser usados pela Ucrânia contra alvos militares em território russo. Ele assinalou que, além da Alemanha, Estados Unidos, Reino Unido e França também retiraram as restrições ao uso pela Ucrânia dos mísseis de longo alcance.

Na verdade, os ucranianos já estão usando os Atacms americanos, com alcance de 300 km, os Storm Shadows britânicos e os Scalps-EG franceses, ambos com 250 km. Mas os Taurus alemães têm alcance de até 500 km, que vem a ser a distância mínima entre Moscou e a fronteira da Ucrânia com a Rússia.

Os ucranianos também têm um sistema de mísseis de longo alcance próprio, o Netuno, cujo alcance foi ampliado para até 1.000 km, a partir da versão original, que era de até 400 km. Esse míssil é lançado de caminhões.

Os Atacms também são mísseis terra-terra, disparados na Ucrânia por caminhões da família Himars fornecidos pelos Estados Unidos.

Já os mísseis europeus são ar-terra, e podem ser disparados pelos caças SU-24, de origem russa, pertencentes à Força Aérea ucraniana, mediante adaptações que têm sido feitas com assistência da Otan.

Não está claro se o presidente Donald Trump manterá a assistência à Ucrânia.

O anúncio de Merz coincide com uma aparente mudança de humor de Trump com relação ao autocrata russo, Vladimir Putin.

Em meio aos bombardeios mais intensos desde o início da agressão russa em grande escala, Trump escreveu sobre Putin em sua rede social, Truth Social: “Algo aconteceu com ele (Putin). Ele ficou absolutamente LOUCO! Eu sempre disse que ele quer TODA a Ucrânia, não apenas uma parte, e talvez isso esteja se provando verdade, mas se ele fizer isso, levará à queda da Rússia!”

Trump também fez as habituais críticas ao presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky: "Da mesma forma, o presidente Zelensky não está fazendo nenhum favor ao seu país ao falar do jeito que fala. Tudo o que sai da boca dele causa problemas, eu não gosto disso, e é melhor que pare."

Zelensky havia declarado: "Sem uma pressão realmente forte sobre a liderança russa, essa brutalidade não pode ser interrompida. As sanções certamente ajudarão."

A reação de Trump parece estar relacionada com sua relutância em impor as sanções secundárias contra a Rússia que ele próprio havia cogitado publicamente, se Putin não aderisse ao cessar-fogo de 30 dias proposto pelo presidente americano.

As sanções atingiriam os países que compram petróleo, gás, urânio e derivados da Rússia. O Brasil seria alvo dessas medidas, já que importa óleo diesel russo.

O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, disse na noite de domingo que os ataques da Rússia no fim de semana foram "uma afronta" a Trump, que "fez grandes esforços para trazer Vladimir Putin à mesa de negociações".

Wadephul continuou: "Está claro que Putin não quer paz. Ele quer continuar a guerra. E não devemos permitir isso. É por isso que decidiremos sobre novas sanções dentro do quadro europeu."

Talvez essas declarações tenham ressoado em Trump. O presidente americano vive um visível dilema: de um lado, seu desejo de mediar o fim dos conflitos no Leste Europeu e no Oriente Médio; de outro, seu apreço por Putin, evidenciado desde o seu primeiro mandato.

A solução desse dilema pode ser decisiva para o futuro da Ucrânia.

Funcionários ucranianos e analistas ocidentais advertem que o aumento nos ataques com mísseis e drones da Rússia pode abrir caminho para uma possível nova ofensiva terrestre. Soldados ucranianos no front observam movimentos de comandos russos que parecem destinados a preparar o terreno para novas invasões em massa.

Durante a reunião em 16 de maio em Istambul, os russos deixaram claro para os ucranianos que pretendem conquistar novos avanços territoriais em breve.

O chefe da delegação russa, Vladimir Medinsky, ameaçou capturar as regiões ucranianas de Sumy e Kharkiv, informou um funcionário ucraniano ao jornal Financial Times.

Na quinta-feira, Putin anunciou que suas forças estavam "criando uma zona de segurança" ao longo da fronteira ucraniana, um termo que já foi usado antes para sinalizar avanços terrestres. A aproximação do verão torna os ucranianos mais vulneráveis, por causa da superioridade da artilharia russa.

As batalhas se intensificaram nas últimas semanas em torno de Pokrovsk e Kostyantynivka, pressionando os redutos de Kramatorsk e Slovyansk e se aproximando das fronteiras da vizinha região de Dnipropetrovsk, disseram ao FT militares ucranianos no terreno.

A infantaria russa tenta avançar com armamento pesado e de alta tecnologia, como bombas planadoras, mísseis e drones — incluindo novos modelos conectados por cabos de fibra óptica que os tornam imunes à interferência eletrônica.

Os ucranianos provavelmente tentarão cortar as linhas de suprimento russas com os mísseis de longo alcance e causar insegurança política no Kremlin com ataques às defesas antiaéreas ao redor de Moscou, as mais robustas do país.

Um eventual apoio militar americano mais decidido contribuiria muito para essa insegurança. Mas a Ucrânia e a Europa sabem que não podem contar com isso.