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Hamas diz aceitar liberação de reféns, mas exige mudanças no plano de cessar-fogo dos EUA para Gaza
O Hamas não fez uma rejeição explícita nem uma aceitação clara dos termos dos EUA, que, segundo Washington, Israel aceitou

O Hamas respondeu à proposta de cessar-fogo dos EUA afirmando estar preparado para libertar dez reféns israelenses vivos e 18 reféns mortos em troca de vários prisioneiros palestinos, solicitando também algumas mudanças no plano.
O grupo reiterou suas exigências por uma trégua permanente, a retirada completa de Israel de Gaza e garantias de fluxo contínuo de ajuda humanitária. Nenhuma dessas exigências constava da proposta em discussão.
O Hamas não fez uma rejeição explícita nem uma aceitação clara dos termos dos EUA, que, segundo Washington, Israel aceitou.
Palestinos inspecionam os danos no local de um ataque israelense a uma casa em Jabalia, norte de Gaza. Foto: 30 de maio de 2025
O Hamas afirmou ter apresentado sua resposta ao rascunho americano proposto por Steve Witkoff, enviado especial do presidente dos EUA, Donald Trump, para o Oriente Médio.
Em um comunicado, Witkoff afirmou: "Recebi a resposta do Hamas à proposta dos Estados Unidos. É totalmente inaceitável e só nos leva para trás. O Hamas deve aceitar a proposta que apresentamos como base para as negociações futuras, que podemos iniciar imediatamente na próxima semana."
"Essa é a única maneira de fecharmos um acordo de cessar-fogo de 60 dias nos próximos dias."
Um comunicado do gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou: "Embora Israel tenha concordado com o esboço atualizado de Witkoff para a libertação de nossos reféns, o Hamas continua a manter sua recusa."
O Hamas, um grupo considerado terrorista nos EUA, Reino Unido e na União Europeia, afirmou insistir em um "cessar-fogo permanente" e na "retirada completa" das forças israelenses da Faixa de Gaza.
O grupo exigiu um fluxo contínuo de ajuda para os palestinos que vivem no enclave e afirmou que libertaria dez reféns vivos e os corpos de 18 reféns mortos em troca de "um número acordado" de prisioneiros palestinos em Israel.
Mas o Hamas agora se encontra na posição mais complexa e difícil que já enfrentou desde o início da guerra.
Sob intensa pressão de 2,2 milhões de pessoas que vivem nas piores condições de sua história e dos mediadores, o movimento não consegue aceitar uma proposta americana que, ao que tudo indica, é menos generosa do que as ofertas anteriores que rejeitou diversas vezes, a última delas em março.
Naquela época, Khalil al-Hayya, alto funcionário do Hamas e negociador-chefe do grupo, declarou inequivocamente que o movimento não concordaria com acordos parciais que não garantissem o fim completo e permanente da guerra.
No entanto, o Hamas também se vê incapaz de rejeitar a mais recente oferta dos EUA de imediato, ciente de que Israel está se preparando para intensificar sua ofensiva terrestre em Gaza.
O movimento não possui capacidade militar para impedir ou mesmo resistir seriamente a tal ataque.
Preso entre essas duas realidades, o Hamas, na prática, respondeu à proposta americana não com uma resposta, mas com uma contraproposta inteiramente nova.
Os detalhes completos do plano americano não foram divulgados e não foram confirmados, mas os seguintes pontos-chave estão supostamente incluídos:
- Pausa de 60 dias nos combates
- Libertação de 28 reféns israelenses — vivos e mortos — na primeira semana e a libertação de mais 30 assim que um cessar-fogo permanente for estabelecido
- Libertação de 1.236 prisioneiros palestinos e dos restos mortais de 180 palestinos mortos
- Envio de ajuda humanitária para Gaza por meio da ONU e outras agências
Os termos oferecidos tinham o aval de Israel — a Casa Branca garantiu isso ao obter a aprovação do país antes de encaminhar a proposta ao Hamas.
É improvável que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, esteja disposto a negociar as mudanças desejadas pelo Hamas.
Ele está sob pressão para trazer os reféns de volta para casa e disse estar disposto a aceitar um cessar-fogo temporário para isso.
Mas o governo israelense sempre insistiu no direito de retomar a ofensiva militar, apesar da demanda central do Hamas por garantias de que a trégua temporária seja um caminho para o fim da guerra.
Netanyahu disse que a guerra terminará quando o Hamas "depuser as armas, não estiver mais no governo [e] seus líderes forem exilados de Gaza".
O Ministro da Defesa, Israel Katz, foi mais direto nesta semana. "Os assassinos do Hamas agora serão forçados a escolher: aceitar os termos do 'Acordo Witkoff' para a libertação dos reféns — ou serem aniquilados", disse ele.
Mais cedo neste sábado (31/5), o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, informou que 60 pessoas foram mortas e outras 284 ficaram feridas nas últimas 24 horas em ataques israelenses.
Isso não inclui os números de hospitais localizados na província do norte da Faixa de Gaza devido à dificuldade de acesso à área, acrescentou o órgão.
Israel lançou uma campanha militar em Gaza em resposta ao ataque transfronteiriço do Hamas em 7 de outubro de 2023, no qual cerca de 1.200 pessoas foram mortas e outras 251 foram feitas reféns.
Pelo menos 54.381 pessoas foram mortas em Gaza desde então, incluindo 4.117 desde que Israel retomou sua ofensiva em 18 de março, de acordo com o Ministério da Saúde.