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'Antiamericanismo'? Imagem dos EUA piorou para um a cada três brasileiros após tarifaço de Trump, diz pesquisa

É o que aponta uma nova pesquisa realizada pela Ipsos-Ipec em todo o Brasil. Segundo o levantamento, antes do tarifaço, 48% diziam ter uma visão ótima ou boa do país

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM BBC 12/08/2025
'Antiamericanismo'? Imagem dos EUA piorou para um a cada três brasileiros após tarifaço de Trump, diz pesquisa
Para 51% dos brasileiros, a imagem dos Estados Unidos permanece a mesma, enquanto 6% relatam uma melhora na percepção sobre o país comandado por Trump | Getty Imagens

Diante do anúncio da imposição de tarifas sobre produtos nacionais pelo presidente americano Donald Trump, a imagem dos Estados Unidos piorou para apenas 38% dos brasileiros.

É o que aponta uma nova pesquisa realizada pela Ipsos-Ipec em todo o Brasil. Segundo o levantamento, antes do tarifaço, 48% diziam ter uma visão ótima ou boa do país.

Após as medidas protecionistas, pouco mais de um em cada três entrevistados afirmou que sua visão mudou para pior.

Porém, para 51% dos brasileiros, a imagem dos Estados Unidos permanece a mesma, enquanto 6% relatam uma melhora na percepção sobre o país comandado por Trump.

A pesquisa foi realizada entre 1 e 5 de agosto de 2025, antes das tarifas entrarem em vigor, em 6 de agosto. Foram entrevistados 2 mil brasileiros de 16 anos ou mais. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.

O levantamento também questionou os entrevistados sobre a natureza das medidas anunciadas por Trump. E para 75% dos brasileiros, o tarifaço é baseado em uma questão política.

Apenas 12% dos entrevistados percebem o aumento das tarifas como uma decisão de natureza puramente comercial, enquanto 5% disseram acreditar tratar-se tanto de questões comerciais, quanto políticas.

A imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros foi anunciada por Donald Trump em julho.

presidente americano argumentou que a medida era uma retaliação ao processo que corre no Supremo Tribunal Federal (STF) contra seu aliado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por suposta tentativa de golpe.

A taxação veio após intensa campanha por sanções contra o Brasil liderada pelo deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que atualmente mora nos EUA.

Pouco antes das tarifas entrarem em vigor, o governo americano confirmou uma isenção para quase 700 produtos brasileiros. Mais de 3,8 mil itens, porém, passaram a ser taxados.

Visão como reflexo da polarização política

Quando o tema são as possíveis reações do Brasil ao tarifaço, a população brasileira está extremamente dividida, em um reflexo da polarização política registrada nas eleições de 2022.

A ideia de que "o Brasil deveria reavaliar sua parceria comercial e se distanciar dos Estados Unidos" divide a opinião pública: 47% discordam, enquanto 46% concordam.

Mas enquanto 61% dos brasileiros que votaram no presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas últimas eleições apoiam o distanciamento, 65% dos eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro são contrários.

A proposta de que o Brasil deveria responder na mesma moeda, aplicando tarifas altas sobre os produtos americanos, também gera divisão. Enquanto 61% dos eleitores de Lula apoiam a retaliação, 56% dos que dizem ter votado em Bolsonaro são contra a medida.

Jair Bolsonaro e Donald Trump durante reunião bilateral na cúpula do G20 no Japão em 2019

Crédito,AFP via Getty Images

Legenda da foto,Visão da população em relação ao tarifaço está intimamente ligada à forma como cada brasileiro votou em 2022

O ponto de maior convergência é a necessidade de diversificar as parcerias comerciais. A maioria dos brasileiros, 68%, concorda que o Brasil deveria priorizar acordos com outros parceiros comerciais, como a China e a União Europeia (UE).

"A pesquisa mostra a polarização nacional: as reações de distanciamento ou retaliação são um espelho quase perfeito da divisão política do segundo turno de 2022, indicando que a política externa se tornou mais um campo de batalha ideológico interno", afirma Márcia Cavallari, diretora de Ipsos-Ipec, em comunicado divulgado pelo levantamento.

Cancelar viagem e abandonar produtos?

A pesquisa Ipsos-Ipec também questionou os brasileiros sobre o que eles estariam dispostos a fazer caso o tarifaço prejudique a economia brasileira, e 39% disseram que aceitariam priorizar o consumo de produtos nacionais nessa situação.

Entre os entrevistados, 22% disseram que estariam dispostos a deixar de comprar produtos americanos e 9% afirmaram que apoiariam políticos brasileiros que defendam o distanciamento dos Estados Unidos, buscando acordos com outros países.

Mas apenas 5% citaram o cancelamento ou remanejamento de planos de viagem para os EUA como uma possibilidade.

Somente 3% dos brasileiros disseram estar dispostos a usar as redes sociais e espaços públicos para criticar a medida adotada por Donald Trump, enquanto 10% não estariam dispostos a tomar nenhuma medida.