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Após adiamento, Ursula von der Leyen afirma que maioria dos países votará pela aprovação do acordo entre Mercosul e UE

A presidente da Comissão Europeia comunicou aos líderes do bloco que a conclusão do acordo não ocorrerá neste sábado e foi adiada para janeiro nesta quinta (18)

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM G1 19/12/2025
Após adiamento, Ursula von der Leyen afirma que maioria dos países votará pela aprovação do acordo entre Mercosul e UE
Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, durante entrevista coletiva em Bruxelas | REUTERS/Yves Herman

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou, nesta sexta-feira (19), que um número suficiente de Estados-membros da União Europeia apoiará o acordo comercial entre o bloco e o Mercosul para que ele seja aprovado.

Nesta quinta-feira (18), von der Leyen avisou às autoridades que o acordo com o Mercosul não será mais assinado neste sábado (20). A informação foi divulgada pelas agências de notícias AFP e Reuters.

    Após a notícia do adiamento, a presidente da comissão falou a jornalistas.

    “Entramos em contato com nossos parceiros do Mercosul e concordamos em adiar ligeiramente a assinatura”, afirmou von der Leyen, acrescentando que estava “confiante” de que há uma maioria suficiente para concluir o acordo, segundo a Reuters.

    Segundo fontes diplomáticas, a líder confirmou, em reunião, que a conclusão do acordo foi adiada para janeiro. Isso levou agentes a recalibrar suas expectativas sobre o futuro do tratado.

    A Comissão Europeia planejava selar o pacto nesta semana — criando a maior zona de livre comércio do mundo. O plano, no entanto, mudou após a Itália se alinhar à França para exigir um adiamento e buscar maior proteção ao seu setor agrícola.

    • 🔍 De forma geral, o acordo comercial prevê a redução ou eliminação gradual de tarifas de importação e exportação, além de regras comuns para temas como comércio de bens industriais e agrícolas, investimentos e padrões regulatórios.

    Os debates sobre o texto, negociado há 25 anos, se intensificaram nesta quinta-feira, com o início da reunião do Conselho Europeu, em Bruxelas, que segue até esta sexta (19).

    Veja abaixo os fatores que influenciaram a decisão.

    Ursula Von der Leyen em 20 de março de 2025 — Foto: Reuters/Yves Herman/File Photo

    Ursula Von der Leyen em 20 de março de 2025 — Foto: Reuters/Yves Herman/File Photo

    Oposição da França

    O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que o país não apoiará o acordo comercial sem a inclusão de novas salvaguardas para os agricultores franceses. A França é hoje o principal foco de resistência ao tratado dentro do bloco europeu.

    “Quero dizer aos nossos agricultores, que expressam a posição francesa desde o início, que consideramos que as contas não fecham e que este acordo não pode ser assinado”, declarou Macron. A afirmação foi feita à imprensa antes de uma das reuniões de cúpula da União Europeia.

    Ele antecipou que a França se oporá a qualquer “tentativa de forçar” a adoção do pacto comercial com o bloco sul-americano.

    • 👉 Entre agricultores franceses, o acordo com o Mercosul é amplamente visto como uma ameaça, diante do receio de concorrência com produtos latino-americanos mais baratos e produzidos sob padrões ambientais distintos dos europeus.

    Alemanha e Espanha apoiam acordo

    Friedrich Merz, chanceler da Alemanha — Foto: AFP via Getty

    Friedrich Merz, chanceler da Alemanha — Foto: AFP via Getty

    Enquanto a França mantém resistência, o chanceler alemão, Friedrich Merz, e o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, defenderam que o bloco avance no acordo firmado politicamente no ano passado com Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.

    Alemanha, Espanha e países nórdicos avaliam que o tratado pode ajudar a compensar os efeitos das tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos europeus e reduzir a dependência em relação à China, ao ampliar o acesso a minerais e novos mercados.

    “Se a União Europeia quiser manter credibilidade na política comercial global, decisões precisam ser tomadas agora”, declarou o chanceler alemão.

    Itália mantém incerteza

    Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália, na chegada ao Rio para o G20 — Foto: Alex Ferro/G20

    Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália, na chegada ao Rio para o G20 — Foto: Alex Ferro/G20

    Já a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, afirmou que o país pode apoiar o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, desde que sejam atendidas as preocupações levantadas pelos agricultores italianos.

    “O governo italiano está pronto para assinar o acordo assim que forem dadas as respostas necessárias aos agricultores, o que depende das decisões da Comissão Europeia e pode ser resolvido rapidamente”, declarou.

    Brasil segue otimista

    Lula conversa com jornalistas no Palácio do Planalto — Foto: Adriano Machado/Reuters

    Lula conversa com jornalistas no Palácio do Planalto — Foto: Adriano Machado/Reuters

    Pouco antes de a primeira-ministra da Itália se manifestar sobre o acordo, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), informou que havia conversado por telefone com Giorgia Meloni.

    Segundo Lula, a premiê disse não ser contrária ao tratado, mas relatou enfrentar um “constrangimento político” em razão da pressão de agricultores italianos. Ainda de acordo com o presidente, Meloni afirmou estar confiante de que conseguirá convencer o setor a apoiar o acordo.

    “Se a gente tiver paciência de uma semana, de dez dias, de no máximo um mês, a Itália estará junto com o acordo”, afirmou Lula.

    Agricultores protestam em Bruxelas

    Manifestante atira batata em direção à polícia perto do prédio do Parlamento Europeu em Bruxelas; agricultores protestam contra o acordo entre União Europeia e Mercosul — Foto: NICOLAS TUCAT / AFP

    Manifestante atira batata em direção à polícia perto do prédio do Parlamento Europeu em Bruxelas; agricultores protestam contra o acordo entre União Europeia e Mercosul — Foto: NICOLAS TUCAT / AFP

    Enquanto os governos se reuniam no Conselho Europeu, milhares de agricultores de diferentes países foram a Bruxelas para protestar contra a política agrícola da União Europeia e, em especial, contra o acordo comercial com o Mercosul.

    A mobilização reuniu centenas de tratores nas imediações das instituições europeias. Durante o protesto, eles queimaram pneus e lançaram batatas e outros objetos contra a polícia nas proximidades do Parlamento Europeu.

    Houve também registro de danos ao prédio Station Europe, localizado na Praça de Luxemburgo, onde uma janela foi quebrada. A polícia interveio para dispersar o ato. Ao menos uma pessoa ficou ferida, segundo informações das autoridades locais.

    Como funciona a aprovação e o que está em jogo

    A chefe do Executivo da União Europeia, Ursula von der Leyen, anuncia plano de 800 bi de euros da UE contra eventual saída dos EUA da Ucrânia, em 4 de março de 2025. — Foto: Yves Herman/ Reuters

    A chefe do Executivo da União Europeia, Ursula von der Leyen, anuncia plano de 800 bi de euros da UE contra eventual saída dos EUA da Ucrânia, em 4 de março de 2025. — Foto: Yves Herman/ Reuters

    O processo é discutido no Conselho Europeu, instância responsável por autorizar formalmente a Comissão Europeia a ratificar o acordo.

    Diferentemente do que ocorre no Legislativo, onde basta maioria simples, o Conselho exige maioria qualificada: o apoio de ao menos 15 dos 27 países do bloco, que representem 65% da população da União Europeia.

    É justamente nessa etapa que se concentra o principal risco político de o acordo não avançar.

    Embora o debate público esteja concentrado no agronegócio — principal foco da resistência europeia — o acordo entre Mercosul e União Europeia é mais amplo e vai além do comércio de produtos agrícolas.

    O tratado também abrange temas como indústria, serviços, investimentos, propriedade intelectual e insumos produtivos, o que ajuda a explicar o apoio de diferentes setores econômicos do bloco europeu.

    A expectativa era que, caso o acordo avançasse no Conselho, Ursula von der Leyen viajasse ao Brasil no fim desta semana para ratificá-lo — o que não deve mais ocorrer neste ano.

    Lula dá ultimato à UE e cobra acordo com Mercosul