A bela Praça Dom Wunibaldo vazia e cercada de frias grades mudou seu aspecto. Bancos que não sustentam mais os "causos" de fim de tarde de idosos e a troca de olhares de jovens enamorados...
A ausência do alvoroço das crianças correndo entre as árvores centenárias entristece ainda mais o lugar. Parece até que os "gritos" das araras, entre outros pássaros, lá no alto, é choro triste...
O cantinho da reunião dos experientes moradores grisalhos e sábios, debaixo da velha mangueira, perdeu a presença cativa daqueles que manjam tudo sobre a política regional e nacional. O "Senadinho" está mudo.
À noite, os barzinhos não abrigam mais as grandes e alegres rodas de conversa de amigos.
Os mais belos pontos turísticos naturais de Mato Grosso também mudaram de "cara". Famosos rios e lindas cachoeiras sem a agitação dos banhistas cuiabanos e de todas as partes do Brasil e do mundo.
A nossa querida Chapada dos Guimarães sofre. Como em todo mundo, estamos reféns de um inimigo sem rosto que já levou à morte cinco de nossos moradores e atinge "na pele" dezenas de outros que hoje estão em tratamento, isolados em casa ou nos hospitais.
O impacto na economia local já afeta o bolso e a mesa de muitas famílias.
A insegurança e o medo são os sentimentos que melhor definem a Covid 19 para a maioria das pessoas em nosso município.
Além do medo maior, o de sermos contaminados ou, se contaminados, não vencermos a doença, existe a incerteza sobre o futuro, o receio de trabalhadores de perderem o emprego. Empresários sem perspectivas, cheios de dívidas e com o temor de fechar as portas.
Mas sentir medo também é sinônimo de prudência. Ele nos leva a agir de forma preventiva – exatamente como estamos tentando fazer, quando a Covid-19 avança sobre toda a Terra.
Contudo, embora eu lamente profundamente cada vida perdida, quero aqui deixar uma mensagem de esperança, que alimentei observando os chapadenses.
Tenho observado acontecimentos aqui em Chapada que elevam a alma da gente. Familiares que estavam de relações cortadas há muito tempo, que agora, mesmo sem poder se aglomerar, manifestam preocupação e cuidado com os seus.
Pais, mães, filhos, irmãos se unindo em oração. Amigos se ajudando financeiramente. Campanhas sendo realizadas para suprir as necessidades dos mais carentes. Manifestações de cuidado e carinho com os mais frágeis e doentes. Filhos e netos, que antes ausentes, começaram a se dedicar mais e mais aos pais e avós idosos. E uma solidariedade inigualável da maioria da população para com os atingidos pela doença.
Isso tudo nos dá força pra lutar contra esse vírus. Façamos a nossa parte sim, com responsabilidade. Como cidadãos conscientes dos cuidados que só dependem de cada um de nós. E , principalmente, como gestores públicos, dos quais faço parte, que devem proteger e trabalhar arduamente pela saúde da população nesse momento de extrema vulnerabilidade.
Porém, quero compartilhar com vocês um sentimento que me fortalece nesses dias de dor e que é a minha única certeza para vencer o medo: mesmo em meio à angústia e ao sofrimento causados pela pandemia, sinto com muita intensidade a presença de Nosso Deus muito, muito próximo de nós, caminhando a nossa frente. Não devemos perder a esperança. Ele está conosco! Ele jamais nos abandona.
Michele Claison Weber é moradora em Chapada dos Guimarães