Opinião

Os desafios da transição capilar

29/10/2021
Os desafios da transição capilar
Foto: Divulgação

O processo de transição capilar é uma fase muito delicada, em que a mulher fica com a autoestima baixa e se sente fragilizada. Essa situação é fruto da desconstrução cultural trabalhada negativamente sobre o cabelo cacheado, com estigmas que o cacheado é um cabelo “ruim” e dá muito trabalho.

Esse contexto acaba criando resistências psicológicas.  A pessoa quer, mas fica receosa de enfrentar a transição capilar. Costumo dizer para as mulheres que entram no processo que nessa fase existem duas transições: a capilar e a psicológica, e é necessário que ambas sejam cuidadas e tratadas juntas.

Além da questão psicológica, um dos principais desafios da transição capilar é a aceitação do volume do cabelo natural, que é gritante se comparado com a textura do cabelo alisado. A adaptação com os novos produtos e a rotina de cuidados tiram a mulher da zona de conforto. Por isso, antes de entrar na transição é importante a conscientização sobre o desenrolar do processo.

Na consultoria de visagismo para quem está na transição capilar são feitas observações especiais, pois é preciso entender o que o cabelo cacheado representa da imagem na pessoa, para manter-se segura e conseguir finalizar o processo. Os cachos, baseados em símbolos arquetípicos, representam a alegria, dinamismo, jovialidade, sensualidade. É um cabelo que atrai os olhares.

O tempo de duração de uma transição capilar depende da curvatura do cabelo. A identificação da curvatura se dá após três meses do início do processo. Para as curvaturas mais abertas a transição completa leva, em média, de 9 meses a um ano e meio. É importante frisar que na transição não é preciso radicalizar e cortar o cabelo curto. O comprimento do cabelo para o início da transição é definido pela cliente e com base nessa decisão, é apresentada as estratégias de cortes e feito o planejamento da duração do processo completo.

Já os cabelos com as curvaturas mais fechadas levam um pouco mais de tempo, como por exemplo, os crespos, que fazem muitas voltas e tem uma molinha mais fechada. Então, se o crescimento em um ano equivale a 12 centímetros para as curvaturas mais abertas, para os crespos, os mesmos 12 centímetros equivalem a 6 centímetros, pois a mola do cacho é mais fechada.

Uma das coisas que as cacheadas precisam estar conscientes é que os cuidados são primordiais para a transição capilar e entender que depois de finalizado o processo, o cabelo deve ser “administrado”, com cosméticos adequados. Os produtos mais indicados para quem está na transição ou já passou por ela são os veganos, livres de ingredientes pesados. É necessário também um tratamento com máscara capilar para reposição hidrolipídica, que vai fazer a reposição de água e gordura no cabelo e dar um movimento natural.

No período de transição não é indicado fazer mechas ou outros procedimentos químicos. Esses procedimentos evidenciam ainda mais o processo da transição, que precisa ser camuflado. Quanto menos luz no cabelo, melhor. É preferível manter a cor natural do cabelo.

Trabalhar com esse universo cacheado e ou com quem está na transição é um mar aberto, sempre com muitas novidades. Mas, primeiramente a pessoa tem que estar com a cabeça aberta para receber essas informações, entender que vai precisar de uma adaptação, conhecer uma linguagem nova, pois existe o vocabulário das cacheadas. Costumo dizer que aqui é um centro de reabilitação, com a nossa “escolinha das cacheadas”, onde orientamos sobre como usar os produtos corretos e como pentear o cabelo adequadamente.

Na escolinha ensinamos também que tudo o que se quer de resultado para o cabelo seco, precisa ser administrado com o cabelo molhado, encharcado de água. Assim, depois de seco a pessoa pode virar de cabeça para baixo ou pegar uma ventania que o cabelo vai ficar intacto. Quem tem cabelo cacheado ou está na transição precisa entender que esse cabelo cacheado tem administração e pode ser trabalhado. Só precisa de orientação no centro de reabilitação de cachos e escolinha das cacheadas.

Carol Bispo é visagista formada pela Philip Hallawell e hair designer da escola Internacional Pivot Point, além de designer de cachos Devacurl e graduanda em Psicologia. Instagram: @carolbispo_visagista