Polícia
A trajetória de Sérgio Ricardo: De estagiário de jornalismo da TV Brasil Oeste a um dos homens mais ricos de MT
O desvio protagonizado por Sérgio Ricardo bateu todos os recordes e superou as piores expectativas
11/07/2020
A fila quilométrica era para fazer teste de estagiário de repórter da emissora.
Eram cerca de 20 candidatos.
Entre eles, estava um rapaz franzino, de estatura mediana e oriundo da zona rural da pequena cidade de Herval D'Oeste, cidade encravada na região Oeste do estado de Santa Catarina(1.810,4 Km de Cuiabá), no meio da Serra do Tico-Tico, e que faz divisa com os municípios de Erval Velho e Joaçaba, região do Contestado.
Seu nome era Sérgio Ricardo de Almeida.
Sua voz não tinha sonoridade ideal para falar em televisão e/ou rádio. Naquela época a voz era um dos ‘coringas’ para você ser uma estrela televisiva.
Após, repetidas vezes do teste seletivo para estagiar como repórter(não era obrigatório o curso superior em jornalismo), o diretor técnico da emissora, Jair Jurado, após ouvir cinegrafistas e editores, decidiu escolher o novo quadro da emissora. Sérgio Ricardo, um dos 20 candidatos, tinha sido reprovado.
O motivo: ele não tinha voz e nem texto. Segundo a equipe técnica que reprovou Ricardo, a sua voz não ajudava, pois ele sofria de encurtamento das cordas vocais. Jair Jurado que era editor de imagens, na época, decidiu escolher o candidato. E a opção foi um jovem paulista que preenchia os requisitos.
Mas, Sérgio Ricardo não desistiu.
E começou um chororó diante da emissora que fez com que o diretor de imagens mandasse refazer o teste com ele e desse a vaga de estagiário para o helvalense.
Chorando, ele disse que estava só em Cuiabá, não tinha família e estava residindo em uma quitinete.
A TBO era do corumbaense Fauser Anache, e tinha acabado de ser vendida.
Jurado fazia parte de uma equipe de profissionais oriundos da TV Rio Preto, da cidade de São José do Rio Preto(1088 KM de Cuiabá), e tinha ainda Celso Chacon, João Batista, Mário Nishioswa e Wilson Minoskwi.
Além de excelente técnico, Jair Jurado, tinha um bom coração e deu a vaga ao jovem rapaz oriundo da zona rural de Herval do Oeste. Após dois anos na emissora, Sérgio Ricardo conseguiu outro emprego.
Desta vez na TV Centro América(afiliada da Globo) e rapidamente conseguiu ser o diretor geral de jornalismo na emissora. A TVCA estava sendo comandado pelo lendário Afrânio Borba.
Como diretor da TV Centro América, Sérgio montou uma produtora independente e trouxe sua família do oeste de Santa Catarina para Cuiabá. No final na década de 80, Cuiabá era o ‘boom’ do crescimento, o milagre brasileiro.
Ricardo voltou para a TBO onde comprou horário e conseguiu se eleger vereador em Cuiabá em 2000 com um programa mal produzido de venda de automóveis e motocicletas.
Em 2002 se elegeu por causa do programa, para a assembleia legislativa de Mato Grosso, onde se tornou primeiro secretário e presidente do poder. A partir daí, o menino franzino a procura de uma oportunidade na Televisão Brasil Oeste, se torna um dos homens mais ricos de Mato Grosso.
É certo que, já se flagraram casos de má conduta individuais nesses longos anos na assembleia legislativa de Mato Grosso.
Agora, o desvio protagonizado por Sérgio Ricardo naquela instituição bateu todos os recordes e superou as piores expectativas.
Além dos mais, após ganhar musculatura política e financeira, Sérgio Ricardo foi um nome fácil para assumir uma das vagas de conselheiro no Tribunal de Contas de Mato Grosso.
Processado pelos Ministérios Público Estadual e Federal, e investigado pela Polícia Federal, Sérgio Ricardo se tornou uma figura emblemática e rotineira nas investigações de corrupção tanto na assembleia legislativa quanto no TCE/MT. Na assembleia, Sérgio recebeu em propina do ex-deputado estadual José Riva a bagatela de R$ 10.880 milhões.
Além disso, ele responde na justiça por pagar milhões em ‘mensalinho’ para ex-parlamentares quando era presidente daquele órgão.
Quanto ao TCE, considerado um dos maiores escândalos de corrupção já feito em Mato Grosso, a quadrilha em que Ricardo fez parte conjuntamente com Antônio Joaquim, Walter Albano, José Carlos Novelli, Waldir Teiss, desviou mais de R$ 212.402.631,49 milhões, além de outras centenas de ‘esquemas’ espúrios em contratos de informáticas com 141 Prefeituras e Câmaras Municipais e que faziam licitações ‘viciadas’.
Essas empresas são as mesmas que ajudaram a dilapidar o patrimônio do TCE de Mato Grosso.
Para entender essa história e que trouxe diferentes capítulos, foi preciso conhecer as dezenas de personagens, além do mais é claro, os principais prejudicados: o estado e o povo de Mato Grosso.
Entre os seus protagonistas está Sérgio Ricardo.
O conselheiro em seu epiteto, comprou várias propriedades milionárias em Cuiabá, além das emissoras de televisões, a TV Liderança(Gazeta), canal 19 e TV Mato Grosso, canal 27. Ele ainda montou um bufett para a sua esposa Andreia de Oliveira, o Alphaville Buffet.
Sérgio Ricardo mandou construir também o clube Acqua Park, com 4.943 metros quadrados de área de lazer.
Realmente o sonho de um menino franzino oriundo do interior de Santa Catarina se concretizou quando ele fez o teste na Televisão Brasil Oeste e se tornou um milionário.
Foi como o efeito borboleta. Quando se atribui a pequenas ações o poder de desencadear grandes acontecimentos.
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