Polícia
Luxo, ostentação, advogados caros, Clube de finais de semana, Bufett, emissoras de televisões, produtora, imóveis, carrões e milhões em aplicações financeiras.
Essas são algumas das performances produzidas pelo conselheiro afastado por corrupção do Tribunal de Contas de Mato Grosso, Sérgio Ricardo de Almeida, 62, desde quando ele chegou a Mato Grosso há exatos 36 anos atrás.
Mas, antes de iniciarmos a contar as proezas do conselheiro e a sua invejável inclinação para o aumento de seu patrimônio a partir de quando entrou na administração pública, primeiro é preciso conhecer a sua trajetória e de como ele conseguiu subir na vida e se tornar um milionário, e que é um assunto inexplicável para os dias atuais.
Era um dia ensolarado em Cuiabá de uma quarta feira, dia 07 de março de 1984. Pela manhã, desde as 08:00 hs, já fazia fila no interior das dependências da Televisão Brasil Oeste – canal 08 – afiliada na época, da Rede Bandeirantes de Televisão.
A fila quilométrica era para fazer teste de estagiário de repórter da emissora.
Eram cerca de 20 candidatos.
Entre eles, estava um rapaz franzino, de estatura mediana e oriundo da zona rural da pequena cidade de Herval D'Oeste, cidade encravada na região Oeste do estado de Santa Catarina(1.810,4 Km de Cuiabá), no meio da Serra do Tico-Tico, e que faz divisa com os municípios de Erval Velho e Joaçaba, região do Contestado.
Seu nome era Sérgio Ricardo de Almeida.
Sua voz não tinha sonoridade ideal para falar em televisão e/ou rádio. Naquela época a voz era um dos ‘coringas’ para você ser uma estrela televisiva.
Após, repetidas vezes do teste seletivo para estagiar como repórter(não era obrigatório o curso superior em jornalismo), o diretor técnico da emissora, Jair Jurado, após ouvir cinegrafistas e editores, decidiu escolher o novo quadro da emissora. Sérgio Ricardo, um dos 20 candidatos, tinha sido reprovado.
O motivo: ele não tinha voz e nem texto. Segundo a equipe técnica que reprovou Ricardo, a sua voz não ajudava, pois ele sofria de encurtamento das cordas vocais. Jair Jurado que era editor de imagens, na época, decidiu escolher o candidato. E a opção foi um jovem paulista que preenchia os requisitos.
Mas, Sérgio Ricardo não desistiu.
E começou um chororó diante da emissora que fez com que o diretor de imagens mandasse refazer o teste com ele e desse a vaga de estagiário para o helvalense.
Chorando, ele disse que estava só em Cuiabá, não tinha família e estava residindo em uma quitinete.
A TBO era do corumbaense Fauser Anache, e tinha acabado de ser vendida.
Jurado fazia parte de uma equipe de profissionais oriundos da TV Rio Preto, da cidade de São José do Rio Preto(1088 KM de Cuiabá), e tinha ainda Celso Chacon, João Batista, Mário Nishioswa e Wilson Minoskwi.
Além de excelente técnico, Jair Jurado, tinha um bom coração e deu a vaga ao jovem rapaz oriundo da zona rural de Herval do Oeste. Após dois anos na emissora, Sérgio Ricardo conseguiu outro emprego.
Desta vez na TV Centro América(afiliada da Globo) e rapidamente conseguiu ser o diretor geral de jornalismo na emissora. A TVCA estava sendo comandado pelo lendário Afrânio Borba.
Como diretor da TV Centro América, Sérgio montou uma produtora independente e trouxe sua família do oeste de Santa Catarina para Cuiabá. No final na década de 80, Cuiabá era o ‘boom’ do crescimento, o milagre brasileiro.
Ricardo voltou para a TBO onde comprou horário e conseguiu se eleger vereador em Cuiabá em 2000 com um programa mal produzido de venda de automóveis e motocicletas.
Em 2002 se elegeu por causa do programa, para a assembleia legislativa de Mato Grosso, onde se tornou primeiro secretário e presidente do poder. A partir daí, o menino franzino a procura de uma oportunidade na Televisão Brasil Oeste, se torna um dos homens mais ricos de Mato Grosso.
É certo que, já se flagraram casos de má conduta individuais nesses longos anos na assembleia legislativa de Mato Grosso.
Agora, o desvio protagonizado por Sérgio Ricardo naquela instituição bateu todos os recordes e superou as piores expectativas.
Além dos mais, após ganhar musculatura política e financeira, Sérgio Ricardo foi um nome fácil para assumir uma das vagas de conselheiro no Tribunal de Contas de Mato Grosso.
Processado pelos Ministérios Público Estadual e Federal, e investigado pela Polícia Federal, Sérgio Ricardo se tornou uma figura emblemática e rotineira nas investigações de corrupção tanto na assembleia legislativa quanto no TCE/MT. Na assembleia, Sérgio recebeu em propina do ex-deputado estadual José Riva a bagatela de R$ 10.880 milhões.
Além disso, ele responde na justiça por pagar milhões em ‘mensalinho’ para ex-parlamentares quando era presidente daquele órgão.
Quanto ao TCE, considerado um dos maiores escândalos de corrupção já feito em Mato Grosso, a quadrilha em que Ricardo fez parte conjuntamente com Antônio Joaquim, Walter Albano, José Carlos Novelli, Waldir Teiss, desviou mais de R$ 212.402.631,49 milhões, além de outras centenas de ‘esquemas’ espúrios em contratos de informáticas com 141 Prefeituras e Câmaras Municipais e que faziam licitações ‘viciadas’.
Essas empresas são as mesmas que ajudaram a dilapidar o patrimônio do TCE de Mato Grosso.
Para entender essa história e que trouxe diferentes capítulos, foi preciso conhecer as dezenas de personagens, além do mais é claro, os principais prejudicados: o estado e o povo de Mato Grosso.
Entre os seus protagonistas está Sérgio Ricardo.
O conselheiro em seu epiteto, comprou várias propriedades milionárias em Cuiabá, além das emissoras de televisões, a TV Liderança(Gazeta), canal 19 e TV Mato Grosso, canal 27. Ele ainda montou um bufett para a sua esposa Andreia de Oliveira, o Alphaville Buffet.
Sérgio Ricardo mandou construir também o clube Acqua Park, com 4.943 metros quadrados de área de lazer.
Realmente o sonho de um menino franzino oriundo do interior de Santa Catarina se concretizou quando ele fez o teste na Televisão Brasil Oeste e se tornou um milionário.
Foi como o efeito borboleta. Quando se atribui a pequenas ações o poder de desencadear grandes acontecimentos.