Polícia

O Silêncio do Poço: O crime que calou uma adolescente em Cuiabá

Ciúmes, vingança e uma tragédia familiar: os bastidores do crime que abalou Cuiabá

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM SESP/PC/PM-MT 23/04/2025
O Silêncio do Poço: O crime que calou uma adolescente em Cuiabá
Vingança e ciúmes motivaram assassinato brutal de adolescente jogada em poço | Divulgação

Em uma noite abafada de abril, o silêncio do bairro Ribeirão do Lipa, em Cuiabá, foi quebrado por sirenes, luzes intermitentes e a comoção de uma cidade inteira. O corpo de uma jovem foi resgatado de dentro de um poço. Mãos e pés amarrados. Lençol cobrindo o rosto. Tinha apenas 16 anos. Seu nome: Heloysa Maria de Alencastro Souza.

O que parecia mais um caso brutal de violência urbana revelou-se ainda mais trágico quando as autoridades identificaram entre os suspeitos um rosto familiar: o padrasto da vítima, Benedito Anunciação Santana, servidor da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação. Um homem que, horas antes, pedia ajuda nas redes sociais para “encontrar” a enteada desaparecida.

Mas a máscara caiu rápido. Imagens do sistema VigiaMais MT e confissões obtidas após prisões mostraram que o crime não era aleatório. Era pessoal. E cruel.

Caminho sem volta

Tudo começou por volta das 18h, no bairro Morada do Ouro. Criminosos invadiram a casa de Heloysa, fizeram a família refém e roubaram o carro da família — um HB20 branco, que usaram para levar a jovem à força. No trajeto, seguiram em direção a uma área de mata na região da avenida Dubai.

O corpo foi encontrado horas depois, dentro de um poço, com sinais claros de tortura e execução. A perícia confirmou: morte por asfixia.

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Na madrugada, os suspeitos começaram a cair. Um adolescente de 17 anos foi detido enquanto tentava fugir pelo telhado de uma residência. Outro, de 18 anos, filho de Benedito, foi encontrado escondido na casa da avó. Ambos confessaram o envolvimento. Um quarto suspeito, também menor de idade, está foragido.

A motivação: ciúmes e controle

O que poderia levar um padrasto a planejar e executar um crime tão bárbaro? De acordo com o depoimento de seu filho, Benedito teria surtado ao ver mensagens trocadas entre sua companheira — mãe da vítima — e o ex-marido dela. Em crise de ciúmes, agrediu a mulher e, dias depois, arquitetou a morte da adolescente como forma de vingança.

Sim, vingança. Contra a mãe. Pela filha.

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A reação da sociedade

A repercussão foi imediata. A Seciteci exonerou Benedito e divulgou nota oficial lamentando o ocorrido. A Secretaria de Segurança Pública convocou coletiva de imprensa para atualizar a população e reforçar a importância da integração policial que levou à rápida elucidação do caso.

Mas, para a sociedade, as perguntas continuam ecoando. Como um servidor público, pai e padrasto, se transforma em algoz? Como proteger meninas e mulheres dentro de suas próprias casas, quando o perigo está justamente ali?

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O Brasil que mata suas meninas

Heloysa é mais uma estatística em um país onde meninas morrem, muitas vezes, pelas mãos de quem deveria protegê-las. O feminicídio de menores — embora juridicamente desafiador de tipificar — tem rosto, nome e história. E, agora, uma voz silenciada dentro de um poço.