Era pouco antes das 6h da manhã quando agentes fortemente armados da Polícia Federal bateram à porta do ex-presidente da OAB-MT, Ussiel Tavares, em Cuiabá. A cena, digna de um roteiro de filme policial, marcou o início de mais um capítulo explosivo da Operação Sisamnes – investigação que já é considerada uma das mais impactantes da história recente do país no combate à corrupção no Judiciário.

Ussiel, que presidiu a seccional entre 1998 e 2003 e construiu carreira sob o manto da legalidade, agora figura entre os principais alvos de uma operação que apura a compra e venda de sentenças no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A Polícia Federal investiga um esquema altamente sofisticado de lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, evasão de divisas e atuação em câmbio clandestino, tudo com um único objetivo: comprar decisões judiciais a preço de ouro.

Para isso, o grupo montou uma rede de empresas fictícias e transações financeiras escusas, que disfarçavam o pagamento de propinas milionárias.

Segundo a investigação, esse sistema foi desenhado para romper qualquer rastro entre o corruptor e o juiz corrompido, tornando a prática ainda mais perigosa e difícil de rastrear.

Contra Ussiel Tavares, o STF autorizou: Mandado de busca e apreensão, apreensão de passaporte, proibição de deixar o país, bloqueio de bens e contas bancárias, sequestro de valores que somam até R$ 20 milhões.

A PF vasculhou imóveis e escritórios ligados ao ex-presidente da Ordem em busca de provas que liguem diretamente o advogado ao núcleo financeiro do esquema.

Defesa se diz surpresa: “Não sabemos o motivo”

A defesa de Ussiel se manifestou, alegando desconhecimento da decisão judicial que embasou a operação e declarou que o ex-presidente da OAB-MT está “à disposição das autoridades”.

A OAB-MT confirmou que acompanhou as diligências da PF e destacou que, caso sejam constatadas faltas éticas, o nome de Ussiel será julgado pelo Tribunal de Ética e Disciplina (TED). O clima dentro da advocacia local é de choque, constrangimento e silêncio.

O estopim dessa megaoperação foi o brutal assassinato do advogado Roberto Zampieri, executado com 10 tiros em dezembro de 2023, na porta do próprio escritório.

O crime revelou uma batalha judicial por duas fazendas avaliadas em R$ 100 milhões e a ligação direta entre o mundo do agronegócio, advogados influentes e decisões manipuladas no Judiciário.

Zampieri teria se aproximado de um desembargador envolvido no processo, o que teria irritado empresários poderosos – levando ao crime que, agora, derruba a máscara de um esquema de décadas.

Além de Ussiel, outros nomes da elite jurídica de Mato Grosso e do país estão na mira. Desembargadores afastados, servidores monitorados por tornozeleira eletrônica e um Judiciário que treme com cada nova fase da investigação.

A 5ª fase da Operação Sisamnes deixa um recado claro: nem mesmo quem jurava defender a legalidade está acima da lei.