Polícia

Juiz de MT é afastado por ordem do STF em operação que escancara esquema milionário de venda de sentenças

PF desmantela nova fase da Operação Sisamnes e revela conexões entre corrupção judicial, lavagem de dinheiro e o assassinato do advogado Roberto Zampieri

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM PF-MT 29/05/2025
Juiz de MT é afastado por ordem do STF em operação que escancara esquema milionário de venda de sentenças
Por unanimidade, o Plenário do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu pela instauração de processo administrativo disciplinar contra o juiz Ivan Lúcio Amarante | Arquivo Página 12

A 8ª fase da Operação Sisamnes, deflagrada na manhã de quinta-feira (29), pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e Polícia Federal, afastou do cargo o juiz Ivan Lúcio Amarante, da 2ª Vara de Vila Rica (MT), por envolvimento em um esquema de venda de decisões judiciais e lavagem de dinheiro dentro do Judiciário mato-grossense.

Além do afastamento, três mandados de busca e apreensão foram cumpridos e R$ 30 milhões em bens do magistrado foram bloqueados. O passaporte do juiz também foi recolhido, e ele está proibido de deixar o país.

A investigação nasceu de um crime brutal que chocou o Estado: o assassinato do advogado Roberto Zampieri, executado com dez tiros em frente ao seu escritório em Cuiabá, em 2023. As mensagens extraídas de seu celular expuseram um submundo de corrupção judicial, com decisões compradas, propinas milionárias e uma rede que atingia não só o Tribunal de Justiça de Mato Grosso, mas também assessores do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A PF identificou uma complexa estrutura de lavagem de dinheiro usada para camuflar os pagamentos por decisões judiciais favoráveis. Segundo as investigações, o juiz Ivan Lúcio Amarante era uma das peças-chave no esquema, que beneficiava empresários e advogados mediante vultosas quantias em espécie.

Na terça-feira (27), o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) manteve o afastamento cautelar de Ivan e autorizou a abertura de Processo Administrativo Disciplinar (PAD), citando “amizade íntima, parcialidade e recebimento de vantagens indevidas” em suas relações com Zampieri.

A defesa do juiz, comandada pelo advogado Alexandre Pontieri, nega todas as acusações e sustenta que não há indício de enriquecimento ilícito, argumentando que a ligação com Zampieri era explorada de forma indevida pelo advogado, já falecido.

O homicídio de Zampieri, executado em uma emboscada cinematográfica registrada por câmeras de segurança, está sendo tratado como homicídio duplamente qualificado, com agravantes como traição, emboscada e recompensa financeira.

Cinco pessoas são investigadas pelo crime, segundo a Polícia Civil:

Aníbal Manoel Laurindo (mandante)

Coronel Luiz Caçadini (financiador)

Antônio Gomes da Silva (executor)

Hedilerson Barbosa (intermediador e dono da arma)

Gilberto Louzada da Silva (função ainda desconhecida)

O grupo agiu com planejamento e esperou por cerca de uma hora até que a vítima fosse surpreendida, demonstrando frieza e premeditação.

A primeira fase da operação, em novembro de 2024, já havia causado um terremoto institucional. Foram expedidos 23 mandados de busca e apreensão e um de prisão contra advogados, lobistas, empresários e até desembargadores do TJMT. Dois magistrados, João Ferreira Filho e Sebastião de Moraes Filho, continuam afastados por suspeita de participação no mesmo esquema.

Mensagens analisadas pela PF também apontam para vazamento de operações sigilosas e tentativas de interferência em julgamentos de alto interesse político e empresarial.

O nome da operação é uma referência ao juiz Sisamnes, figura da mitologia persa que foi esfolado vivo após aceitar suborno para proferir uma sentença injusta, durante o reinado de Cambises II. O episódio, que representa o abismo ético da corrupção judicial, ilustra o que a PF considera um dos maiores escândalos já enfrentados pelo Poder Judiciário mato-grossense.