Polícia

Juiz de MT afastado por venda de sentenças recebeu R$ 750 mil e diz que pagou pai de santo para 'desenvolvimento espiritual'

Depósitos foram feitos pela esposa do magistrado e os pagamentos foram contestados pelo CNJ, que destacou os valores elevados e com quantias idênticas

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM CNJ 03/06/2025
Juiz de MT afastado por venda de sentenças recebeu R$ 750 mil e diz que pagou pai de santo para 'desenvolvimento espiritual'
Por unanimidade, o Plenário do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu pela instauração de processo administrativo disciplinar contra o juiz Ivan Lúcio Amarante | Arquivo Página 12

O juiz Ivan Lúcio Amarante, afastado no dia 29 de maio de 2025 por suspeita de venda de sentenças judiciais, está no centro de mais uma polêmica: ele teria recebido R$ 750 mil da própria esposa, em 43 depósitos bancários feitos entre setembro de 2023 e julho de 2024. A justificativa apresentada por sua defesa ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) é, no mínimo, inusitada: o dinheiro seria destinado ao “desenvolvimento espiritual e religioso” do magistrado com um pai de santo, em São Paulo.

Segundo o advogado de Amarante, os valores foram transferidos por Mara Patrícia Nunes Amarante, empresária do setor de transportes, para custear sessões espirituais com o dirigente Fernando César Parada, do Terreiro Nossa Senhora do Rosário. A defesa também alegou que parte dos recursos cobriria rituais com outros líderes religiosos.

Mas os argumentos não convenceram o CNJ. De acordo com relatório da corregedoria, os depósitos foram realizados em valores altos e com cifras idênticas, o que levantou fortes indícios de lavagem de dinheiro. Só em outubro de 2023, foram registrados sete depósitos que somam R$ 140 mil — todos com valores fracionados e em sequência, prática comum em esquemas de ocultação de origem ilícita.

Diante da gravidade dos fatos, o CNJ instaurou Processo Administrativo Disciplinar (PAD) contra o juiz e manteve seu afastamento cautelar, por decisão unânime. O caso está diretamente ligado às investigações da Operação Sisamnes, da Polícia Federal, que apura comercialização ilegal de decisões judiciais.

O caso começou a ser desvendado após o assassinato do advogado Roberto Zampieri, morto a tiros em 2023 em frente ao próprio escritório, em Cuiabá. A análise do conteúdo encontrado no celular da vítima revelou conversas comprometedoras e transferências bancárias suspeitas, envolvendo magistrados, advogados e empresários.

Com base nos indícios, o Supremo Tribunal Federal autorizou mandados de busca e apreensão em Mato Grosso. Um deles foi cumprido contra o juiz Amarante, cuja fortuna pessoal também chamou atenção: valores e bens bloqueados pela Justiça já somam R$ 30 milhões.