Polícia

Marido ganancioso e 'pai de santo' cruel são condenados por matar empresária e simular ritual macabro em MT

Cláudio Valadares não queria dividir patrimônio com a ex e mandou “colocar Indiana no caldeirão do satanás”. Crime brutal foi articulado com auxílio de sacerdote e seguidora religiosa

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM PC-MT 03/06/2025
Marido ganancioso e 'pai de santo' cruel são condenados por matar empresária e simular ritual macabro em MT
Segundo o Ministério Público, Cláudio procurou o “pai de santo” Márcio e afirmou que não bastava romper o vínculo espiritual com Indiana – era preciso “colocá-la no caldeirão do satanás” | Divulgação PC/MT

Um crime covarde, arquitetado por ganância e executado com requintes de crueldade, resultou na condenação de três pessoas pela morte da empresária Indiana Geraldo Tardett, de 42 anos, assassinada na madrugada de 31 de maio de 2021, em Lucas do Rio Verde. Entre os autores, estão o ex-marido da vítima, Cláudio Valadares dos Santos, e o líder religioso Márcio Andrade dos Santos, conhecido como “Pai Baiano”, que liderou o ataque como se fosse parte de um ritual espiritual.

A sessão do Tribunal do Júri realizada na terça-feira (3) culminou com penas que somam 63 anos e 8 meses de prisão. Cláudio, o mandante, foi condenado a 24 anos de reclusão. Márcio, o executor, recebeu pena de 18 anos e 8 meses, enquanto Jucilene Batista Rodrigues, cúmplice e também integrante do grupo religioso, foi sentenciada a 21 anos.

A motivação: Cláudio se recusava a dividir o patrimônio empresarial com Indiana após o fim do relacionamento. Os dois eram sócios de uma empresa de manutenção de aeronaves. Indiana gerenciava o setor financeiro, enquanto ele cuidava da parte operacional. Com o processo de separação em andamento, o ex-companheiro decidiu que o assassinato era a única forma de manter o controle do negócio.

Segundo o Ministério Público, Cláudio procurou o “pai de santo” Márcio e afirmou que não bastava romper o vínculo espiritual com Indiana – era preciso “colocá-la no caldeirão do satanás”. A expressão macabra foi interpretada como ordem de morte. Márcio então recrutou Jucilene e, juntos, atraíram a vítima com a desculpa de realizar um ritual de reconciliação.

Durante a emboscada, o próprio sacerdote desferiu o primeiro golpe na cabeça da empresária com um facão artesanal de mais de 1 kg, deixando-a inconsciente. Depois, atingiu o pescoço e o pulso da vítima, consumando o assassinato. Para tentar confundir as investigações, o trio simulou uma cena ritualística e alegou intolerância religiosa, estratégia que foi desmascarada pelos investigadores.

O mais revoltante é que Indiana buscou proteção dias antes de morrer. Em 27 de maio de 2021, ela registrou boletim de ocorrência contra Cláudio por ameaças e solicitou medida protetiva, que não foi implementada a tempo. Quatro dias depois, foi morta a mando do próprio ex-companheiro.

O promotor de Justiça Samuel Telles Costa ressaltou o esforço para superar a tentativa dos réus de manipular a verdade. “Eles forjaram uma narrativa de perseguição religiosa para acobertar um crime premeditado por interesse financeiro. A condenação é a resposta do Estado à brutalidade cometida contra uma mulher que buscou ajuda e não foi protegida a tempo”, afirmou.

Este caso escancara mais uma vez a face mais cruel do feminicídio: o assassinato de mulheres por parceiros inconformados com a perda do controle e do patrimônio. E expõe também a ineficiência de mecanismos de proteção à mulher em situação de risco iminente.