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NEGLIGÊNCIA FATAL: Dentista é indiciado por homicídio após matar ganhador da mega-sena durante cirurgia odontológica em Cuiabá

Paciente cardíaco não foi monitorado, não teve parecer médico e recebeu anestesia contraindicada, aponta inquérito da Polícia Civil

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM PC-MT 05/06/2025
NEGLIGÊNCIA FATAL: Dentista é indiciado por homicídio após matar ganhador da mega-sena durante cirurgia odontológica em Cuiabá
O dentista responsável pela morte do aposentado Antônio Lopes de Siqueira, de 73 anos, foi indiciado por homicídio culposo qualificado | PC-MT

O dentista responsável pela morte do aposentado Antônio Lopes de Siqueira, de 73 anos, foi indiciado por homicídio culposo qualificado, após a Polícia Civil concluir que ele agiu com negligência, imperícia e imprudência durante um procedimento odontológico realizado em uma clínica particular de Cuiabá, em dezembro de 2024.

Antônio havia ganhado sozinho mais de R$ 201 milhões na mega-sena, mas faleceu antes mesmo de ser informado que era o novo milionário do Brasil. Ele foi o único ganhador do concurso 2795, sorteado em 9 de dezembro, com um bilhete registrado na Lotérica Ipiranga, na capital mato-grossense. Os números sorteados foram: 13, 16, 33, 43, 46 e 55.

Divulgação
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Segundo o inquérito policial, o dentista não adotou sequer os protocolos mínimos de segurança, mesmo sabendo que o paciente era cardiopata. A anamnese foi feita de forma genérica, com marcações em um formulário padrão, sem investigação aprofundada do histórico clínico. Além disso, não houve o uso de oxímetro, monitor cardíaco nem estrutura de emergência adequada, como desfibrilador ou acesso imediato a suporte avançado de vida.

O mais grave, conforme o relatório, foi a aplicação de alta dose de articaína com epinefrina, um anestésico com vasoconstritor, absolutamente contraindicado para pacientes cardíacos, sem qualquer consulta prévia com cardiologista ou parecer médico.

De acordo com o delegado Edison Pick, responsável pela investigação, a vítima começou a passar mal ainda na cadeira do consultório e foi liberada sem qualquer cuidado adicional. “O paciente apresentou sinais de complicação durante o procedimento, mas o profissional optou por liberá-lo, sem realizar qualquer avaliação médica ou chamar atendimento de urgência. Ele passou mal ainda na recepção e foi socorrido já em quadro grave”, relatou o delegado.

O dentista foi indiciado com base no artigo 121, §§ 3º e 4º do Código Penal, por homicídio culposo qualificado por inobservância técnica de profissão. O caso foi encaminhado ao Ministério Público de Mato Grosso, que deve decidir nas próximas semanas se oferece denúncia à Justiça.

A tragédia gerou repercussão nacional, não apenas pela dimensão da fortuna não usufruída pela vítima, mas também pela discussão sobre a fiscalização precária de clínicas odontológicas, a ausência de protocolos de emergência e o despreparo de profissionais da saúde em lidar com pacientes de risco.

Familiares de Antônio Lopes estão inconformados com o desfecho. Segundo fontes próximas, a herança milionária deixada pelo idoso já está sendo judicializada, com a abertura de inventário e disputas entre possíveis herdeiros.

A morte de Antônio, antes mesmo de saber que sua vida mudaria para sempre, escancara uma triste realidade: no Brasil, até mesmo o destino pode ser interrompido por falhas médicas evitáveis.