Polícia
“Laranjal da Saúde” em Cuiabá: Justiça bloqueia R$ 4 milhões e desmascara empresa criada por esposa de investigado
Ex-diretores, servidoras e nova empresa de fachada são alvos da Operação Athena 2; Justiça impõe restrições duras e escancara tentativa de burlar investigação com “firma fantasma”

A sujeira voltou a emergir dos bastidores da saúde pública de Cuiabá. A 2ª fase da Operação Athena, deflagrada nesta sexta-feira (1º), atingiu em cheio um novo núcleo criminoso formado por ex-servidores, laranjas e empresas de fachada que operavam um esquema milionário de corrupção dentro da Empresa Cuiabana de Saúde Pública (ECSP). O cerco se fecha.
Desta vez, o Poder Judiciário ordenou o bloqueio de quase R$ 4 milhões em bens, incluindo imóveis de luxo, veículos e contas bancárias. Os alvos são nomes conhecidos da velha gestão:
Edson Fernandes de Moura, ex-diretor administrativo da ECSP
Paulo Vitor Ribeiro Magalhães e Lorranne Bezerra Lopes, também ex-funcionários da estatal
Nahiara Cristina Pinto Picinatto, esposa do empresário Selberty Picinatto, já investigado na 1ª fase da operação
Mas o que mais chamou atenção foi a revelação de que Nahiara abriu uma empresa durante as investigações — a NS Picinatto Tecnologia, claramente criada, segundo a polícia, para continuar as fraudes sob outro CNPJ. A nova “firma fantasma” teria sido usada para maquiar contratos e manter o esquema vivo, enquanto os holofotes estavam voltados para a Lume Divinum, empresa do marido dela, principal pivô da primeira fase.
A Polícia Civil identificou que os ex-servidores da ECSP — que atuaram entre 2022 e 2024 — formavam o braço operacional do esquema. Eles seriam responsáveis por viabilizar contratos viciados e direcionar licitações fraudulentas, favorecendo empresas ligadas aos investigados.
Documentos, notebooks, celulares e arquivos foram apreendidos em endereços ligados aos investigados. Tudo indica que as fraudes foram camufladas por meio de contratações emergenciais, sem licitação, com valores altos e serviços mal prestados — ou sequer realizados.
Os alvos agora estão: Proibidos de manter contato entre si; proibidos de entrar em qualquer prédio da saúde municipal; impedidos de sair da comarca sem autorização judicial e obrigados a entregar seus passaportes
A Justiça impôs medidas cautelares severas, prevendo até a prisão em caso de descumprimento.
A Seduc suspendeu a servidora Lorranne Bezerra Lopes, que havia migrado da ECSP para a Secretaria de Educação. Em nota, alegou desconhecer o conteúdo da investigação, pois ela corre sob sigilo, e reafirmou que irá cumprir todas as determinações da Justiça.
Já a Prefeitura de Cuiabá correu para esclarecer que nenhum servidor da atual gestão foi atingido, e que está à disposição da Polícia Civil. “Nosso compromisso é com a legalidade”, diz a nota oficial.
Para os investigadores, o surgimento da empresa NS Picinatto após o escândalo já vir à tona é uma tentativa descarada de driblar o bloqueio judicial da Lume Divinum — empresa anterior usada no esquema.
A nova firma, embora com outro nome, está no nome da esposa do investigado original, e segue a mesma linha de atuação, prestando os mesmos tipos de serviços e buscando contratos com o poder público.
Relembre a 1ª fase
Na primeira fase da Athena, em setembro de 2024, a polícia já havia bloqueado R$ 3,9 milhões em bens, afastado o então diretor da ECSP Giovani Koch e impedido a Lume Divinum de contratar com o poder público. Agora, a NS Picinatto surge como uma tentativa de ressuscitar o esquema com nova roupagem.
🧩 O quebra-cabeça começa a se completar
Com a nova fase, a Polícia Civil espera mapear toda a rede de fraudes, laranjas e contratos fantasmas que sugaram recursos da saúde pública de Cuiabá, enquanto pacientes enfrentavam filas, falta de medicamentos e estrutura precária nas unidades de saúde.
As investigações seguem em ritmo acelerado e novas prisões ou medidas de força não estão descartadas. A Deccor apura, agora, quem mais se beneficiou do esquema e como os contratos foram operacionalizados nos bastidores da ECSP.