Política

Veja Fotos e Vídeo: Bolsonaro rompe isolamento e vai a atos contra Congresso em meio à crise do coronavírus

15/03/2020

Orientado a ficar isolado, mesmo que seu teste para o coronavírus tenha dado negativo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ignorou o pedido da equipe médica e entrou em contato com parte da multidão que participou de um ato contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal neste domingo, em Brasília. Fazendo uma transmissão ao vivo na sua página do Facebook, o presidente desceu a rampa do Palácio do Planalto, tocou nas mãos de dezenas de militantes, pegou os celulares deles para tirar selfies, balançou bandeiras e faixas dadas pelos seus apoiadores. Tudo isso sem nenhuma proteção individual, como máscara ou luvas. A aparição dele foi de surpresa. Não avisou os organizadores do protesto.

   

Na semana passada, o presidente foi submetido a um exame para saber se ele havia sido infectado com o vírus porque ao menos três pessoas que estavam na comitiva presidencial que viajou aos Estados Unidos testaram positivo para o Covid-19 (alguns veículos, como a Folha de S.Paulo falam em ao menos seis pessoas). Seguindo os conselhos de parte de seu staff, na quinta-feira ele fez um pronunciamento oficial em rede de rádio e TV, além de uma transmissão na sua página do Facebook, pedindo a suspensão dos atos. “Os movimentos espontâneos e legítimos marcados para 15 de março atendem aos interesses da nação, balizados pela lei e pela ordem. (...) Precisam, no entanto, diante dos fatos recentes, ser repensados. Nossa saúde e a de nossos familiares devem ser preservadas. O momento é de união, seriedade e bom senso”, afirmou, ao lado do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ambos usando máscaras de proteção contra o vírus.

   

Neste domingo, porém, Bolsonaro acabou endossando o discurso radical dos que foram à rua pedir o fechamento do Congresso. Horas antes de cumprimentar seus apoiadores, o mandatário já havia compartilhado vídeos e fotos das manifestações realizadas em algumas cidades brasileiras, contrariando a determinação das principais autoridades mundiais de saúde de que se evite aglomerações. Entre o público que caminhou ou dirigiu pelas Esplanada dos Ministérios de Brasília (também houve uma carreata), havia dezenas de faixas pedindo intervenção militar. Mas em sua transmissão deste domingo, o presidente negou o que estava vendo pelas ruas. Falou que seus apoiadores não pediram o fechamento do Legislativo ou Judiciário. “Eles não estão lutando contra poder nenhum. Estão lutando pelo Brasil”, afirmou. Em outro momento, completou: “Com tudo contra, imprensa, vírus, manifestações, o povo foi pra rua”.

   

O Brasil tinha, até este domingo, 200 casos confirmados do novo coronavírus, inclusive por transmissão comunitária, ou seja, quando não é possível detectar onde ocorreu a contaminação. Na última semana, quando a Organização Mundial da Saúde decretou que a crise se tornou uma pandemia mundial (havia quase 6.000 mortos no planeta confirmados até este domingo), o ministro passou a orientar publicamente o endurecimento das medidas de combate à propagação do vírus, entre elas a suspensão de eventos para evitar aglomerações de pessoas. Em Brasília, os organizadores estimaram em 8.000 o número de manifestantes que participaram da marcha a pé, além da carreata.

     

A reportagem questionou a Secretaria de Comunicação da Presidência por qual razão o presidente havia contrariado a orientação de sua equipe médica ou se houve alguma mudança de direcionamento. Mas até a publicação desta reportagem, o órgão não havia respondido. Bolsonaro estava acompanhado do presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o médico Antonio Barra Torres.

“Vírus da corrupção"

 

Na página no Facebook do movimento NasRuas, a manifestação marcada para 13h em São Paulo aparecia como “adiada”. Isso não impediu, contudo, que centenas de pessoa vestidas de verde e amarelo se concentrassem no centro da avenida Paulista, a via mais icônica da maior cidade do Brasil, com uma enorme bandeira deixava claro em sua mensagem: “Congresso inimigo do Brasil”. O comando do ato ficou por conta do Movimento Direita Conservadora. Os organizadores gritavam do alto de carro de som palavras de ordem a favor do presidente Bolsonaro e contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.

   

Em São Paulo, a maioria dos cartazes e bandeiras continha mensagens contra as instituições ou pediam uma intervenção militar e um novo Ato Institucional de número 5 (AI-5), o instrumento usado pela ditadura militar para institucionalizar a perseguição política. “Cabe às Forças Armadas não permitir que sejam frustradas as aspirações de paz”, dizia um cartaz de um senhor. “AI-5 para defender o Brasil dos terroristas. Morte aos ladrões”, pedia uma faixa pendurada em postes. Outra mensagem aparecia entre os manifestantes: “Artigo 142 [da Constituição], leia-se AI-5”.

   

Os alvos preferenciais foram Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente. Ministros do STF, sobretudo o presidente Antônio Dias Toffoli e Gilmar Mendes, também estavam entre aqueles que sofreram ataques dos manifestantes. “Esse rato deve ser cassado por conspirar contra o Brasil”, pedia um casal, em referência a Maia. O governador João Dória e o prefeito Bruno Covas também se tornaram alvos, uma vez que, segundo os organizadores, não foi permitida a entrada do veículo na Paulista -ele permaneceu parado na Pamplona ao longo do protesto.

   

Os manifestantes eram em sua maioria pessoas mais velhas e sem máscaras de proteção contra o coronavírus. Havia inclusive alguns cartazes ironizando o risco de contágio. O vírus que mata brasileiros há muitos anos é a corrupção. Foda-se Congresso e STF”, dizia um deles. “CorruptosVírus, esse mata”, anunciava outro.

  https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1239249800626950146