Política

Demissão de Moro: Não se pode 'subestimar Bolsonaro', diz brasilianista

26/04/2020

Apesar de o impacto negativo que a demissão de Sergio Moro representa para o governo, "não se pode subestimar Bolsonaro", diz à BBC News Brasil o brasilianista Anthony Pereira, diretor do Brazil Institute da Universidade King's College, no Reino Unido.

  Pereira reconhece, no entanto, que o presidente sai enfraquecido da disputa com o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública e sua sobrevivência política vai depender de como seu eleitorado vai reagir.   "Não quero subestimar Bolsonaro como fenômeno político. O bolsonarismo é uma força orgânica no país. De fato, Bolsonaro sai enfraquecido e sua sobrevivência política vai depender de como seu eleitorado vai reagir. Ainda é cedo para prevermos esse comportamento. Mas não há dúvida de que o presidente terá um desafio pela frente", assinala.   Moro pediu demissão do cargo na manhã de sexta-feira (24 de abril) após a exoneração de seu braço direito, Maurício Valeixo, da direção da Polícia Federal.   Ao anunciar sua saída, o ex-ministro disparou críticas contra Bolsonaro. Segundo ele, o presidente insistiu na troca de comando da corporação, sem apresentar causas que fossem aceitáveis.   Moro disse que não havia "condições de persistir, sem condições de trabalho" e que indicações políticas "não são aceitáveis".   O ex-titular da Justiça, que largou a carreira de juiz federal para aceitar o cargo de ministro, afirmou também que Bolsonaro queria ter acesso a relatórios e informações confidenciais de inteligência da PF.   E disse ainda que não assinou o decreto de exoneração de Valeixo publicado no Diário Oficial da União (DOU), ainda que seu nome apareça no documento, dando a entender, portanto, que sua assinatura foi usada sem seu consentimento.  

Bolsonarismo x Lavajatismo

Pereira lembra que desde o início do governo "sempre houve tensões" entre duas correntes que elegeram Bolsonaro: de um lado, a bolsonarista, "preocupada com questões culturas e ideológicas," e, de outro, a lavajatista, "contra a corrupção, que queria que as investigações continuassem".   "Bolsonaro pode ter ganhado a batalha com Moro ao conseguir demitir o diretor-geral da Polícia Federal, mas não a guerra. Muitas pessoas que apoiavam o governo pelo símbolo que Moro representa, a luta contra a corrupção, vão ficar muito decepcionadas", diz.   No fim da tarde de sexta-feira, Bolsonaro fez um pronunciamento em que rebateu as acusações de seu ex-auxiliar.   O presidente acusou Moro de condicionar a troca na PF a vaga no STF (Supremo Tribunal Federal), o que o ex-ministro negou em sua conta oficial no Twitter.