Política
'Equilíbrio justo de segurança na Europa' e 'grande progresso' nas negociações: veja os principais recados de Putin e Trump no Alasca
Reunião entre os presidentes da Rússia e dos EUA durou cerca de três horas. Declarações após o encontro incluíram afagos do russo ao presidente americano e tom otimista do republicano

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, encerraram seu encontro no Alasca após cerca de três horas de negociação, mas não conseguiram chegar ainda a um acordo de cessar-fogo para a guerra da Ucrânia, apontado como principal objetivo.
A reunião começou às 16h30 após os dois protagonizarem um cumprimento efusivo após chegarem ao Alasca, e terminou às 19h15, no horário de Brasília.
As declarações dos dois líderes após o encontro foram evasivas e não deram informações concretas dos termos negociados.
Em seu discurso, Putin deu acenos a seu colega americano, por exemplo, reafirmando que a guerra na Ucrânia não teria se iniciado em 2022 se Trump fosse o presidente, em vez do democrata Joe Biden. A afirmação foi repetida à exaustão pelo republicano durante sua campanha eleitoral, em 2024.
O presidente russo disse querer a paz na Ucrânia, sem abrir mão do que ele chamou de "preocupações legítimas da Rússia" em relação à segurança nacional — em uma alusão à adesão de seus vizinhos da Europa à Otan.
Já Trump chamou o encontro de "um grande progresso" e disse que "há apenas alguns poucos [pontos] que restam" em aberto para que um acordo de cessar-fogo seja feito. Ele afirmou que vai deixar a União Europeia, o a Otan e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, a par do que foi falado na reunião.
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Putin e Trump — Foto: Andrew Caballero-Reynolds/AFP
Veja, a seguir, as principais frases de Putin e Trump:
Vladimir Putin
- Ucrânia e segurança nacional da Rússia:
"Nossos assessores e chefes das chancelarias mantiveram contato o tempo todo, e vocês sabem muito bem que uma das questões centrais era a situação em torno da Ucrânia. Vemos o esforço da administração e do presidente Trump pessoalmente para ajudar a facilitar a resolução do conflito ucraniano, e seu empenho em chegar ao cerne da questão, em entender a história — o que é algo precioso. Como já disse, a situação na Ucrânia está ligada a ameaças fundamentais à nossa segurança."
"Além disso, sempre consideramos a nação ucraniana — e já disse isso muitas vezes — como uma nação irmã. Por mais estranho que possa parecer nestas circunstâncias, temos as mesmas raízes, e tudo o que está acontecendo é uma tragédia para nós e uma ferida terrível. Portanto, nosso país está sinceramente interessado em pôr fim a isso."
"Ao mesmo tempo, estamos convencidos de que, para que o acordo seja duradouro, precisamos eliminar todas as causas primárias desse conflito — e já dissemos isso várias vezes —, considerar todas as preocupações legítimas da Rússia e restabelecer um equilíbrio justo de segurança na Europa e no mundo como um todo. Concordo com o presidente Trump, como ele disse hoje, que naturalmente a segurança da Ucrânia também deve ser garantida."
- Provocação a Kiev e à Europa
"Espero que o acordo que alcançamos juntos nos aproxime desse objetivo e abra o caminho para a paz na Ucrânia. Esperamos que Kiev e as capitais europeias recebam isso de forma construtiva e que não coloquem obstáculos, nem tentem usar manobras de bastidores ou provocações para torpedear o progresso que começa a surgir."
- Afago a Trump
"Lembro que, em 2022, durante o último contato com a administração anterior, tentei convencer meu então colega americano de que a situação não deveria chegar ao ponto sem retorno, quando chegaria às hostilidades, e disse isso de forma bastante direta na época. Foi um grande erro. Hoje, quando o presidente Trump diz que, se fosse o presidente naquela época, não haveria guerra, estou bastante certo de que realmente seria assim. Posso confirmar isso."
Donald Trump
Trump fala após reunião com Putin: ainda não há acordo
- Concordância com Putin
"Concordamos em muitos, muitos pontos — na maioria deles, eu diria. Há um ou dois grandes nos quais ainda não chegamos a um acordo, mas avançamos bastante. Não há acordo até que haja um acordo. Vou ligar para a Otan daqui a pouco. Vou ligar para várias pessoas que considero apropriadas e, é claro, ligarei para o presidente Zelensky para contar sobre a reunião de hoje. No fim das contas, depende deles."
- Progresso alcançado pelo encontro
"Estamos ansiosos para negociar, vamos tentar resolver isso. Realmente fizemos um grande progresso hoje. Sempre tive um relacionamento fantástico com o presidente Putin e com Vladimir. Tivemos muitas, muitas reuniões difíceis, e também boas reuniões."
- Pontos que faltam para selar o acordo
"Há apenas alguns poucos [pontos] que restam, alguns não tão significativos. Um provavelmente é o mais importante, mas temos uma boa chance de chegar lá. Não chegamos hoje, mas temos uma boa chance. Gostaria de agradecer ao presidente Putin e a toda sua equipe."
Sorrisos na chegada
Putin chega ao Alasca para reunião com Trump
Com sorrisos no rosto, os dois se cumprimentaram e tiraram fotos para a imprensa antes de se encaminharem para a base militar Elmendorf-Richardson, em Anchorage, palco da reunião.
Trump bateu palmas para Putin enquanto o aguardava chegar a seu lado após descer do avião presidencial russo e recebeu sinais de 'joinha' em retribuição.
Ao chegarem na base militar, os dois posaram novamente para fotos, ao lado de assessores e secretários, mas não deram declarações.
Bombardeado de perguntas por jornalistas, Putin protagonizou um momento engraçado: atordoado, fez caras e bocas e acabou virando meme.
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Putin e Trump rindo após se encontrarem — Foto: ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP
Essa foi a primeira cúpula entre os dois países desde o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022, e o primeiro encontro a sós entre os dois líderes desde 2018.
A avaliação da imprensa norte-americana antes do encontro era de que, desta vez, um Trump mais autoritário e experiente poderia bater de frente com o russo, que é ex-chefe da KGB, a antiga agência de inteligência russa, e está no poder há 25 anos no total.
Trump e Putin travam o primeiro cara a cara desde o início da guerra da Ucrânia
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Entenda a ocupação russa na Ucrânia — Foto: Arte/g1