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Trump, Putin e os cenários que podem mudar a Guerra na Ucrânia

Líderes se reúnem no Alasca diante de dois cenários opostos: um que pode iniciar a paz na Ucrânia e outro que ameaça fragmentar definitivamente o Ocidente

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM CNN 15/08/2025
Trump, Putin e os cenários que podem mudar a Guerra na Ucrânia
Fotos em jornais sobre conversa por telefone entre Putin e Trump | REUTERS/Maxim Shemetov

Logo o mundo descobrirá se Donald Trump conseguirá fazer o que nenhum líder ocidental conseguiu desde 2022: sentar Vladimir Putin à mesa para um acordo real sobre a Ucrânia.

A cúpula em Anchorage, no Alasca, acontece em um momento explosivo, com Trump prometendo "consequências severas" se Moscou não caminhar rumo à paz, e Zelensky avisando contra "blefes" que só beneficiam o Kremlin.

Com base nas sinalizações dos últimos dias, desde a videoconferência prévia com europeus até os recados diretos de Washington para Moscou, dois cenários se desenham no horizonte. Um pode representar o primeiro passo real rumo ao fim do conflito. O outro pode fragmentar o Ocidente e prolongar indefinidamente a guerra.

Cenário 1: O "Otimista Verificável", um acordo que pode funcionar

O primeiro cenário contempla a emergência de um cessar-fogo estruturalmente diferente das tentativas anteriores. As partes estabeleceriam um congelamento imediato dos ataques aéreos e navais, seguido de uma pausa controlada das operações terrestres em setores-piloto.

O elemento diferenciador residiria na implementação de monitoramento robusto: OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa), ONU, sensores comerciais de satélite e uma cláusula de "snapback" (que reativa automaticamente as sanções em caso de violações) que funcionaria como gatilho automático caso haja descumprimentos.

A Economist já reportou discussões sobre pausas limitadas no ar e mar como ponte para algo maior. Este modelo serviria como base para a arquitetura do acordo.

O componente humanitário seria estruturado por meio de canais com metas mensuráveis: corredores para retirada de civis, rotação de ONGs e trocas ampliadas de prisioneiros, mecanismos atrelados a marcos semanais que manteriam o cessar-fogo operacionalmente viável.

Os europeus estabeleceram como precondição que o cessar-fogo preceda as negociações formais, posição que encontraria eco nesta configuração.

A dimensão diplomática seria operacionalizada através de um trilho trilateral. A cúpula resultaria no anúncio de uma reunião subsequente com Zelensky presente, legitimando qualquer discussão territorial sem predeterminar fronteiras.

Trump já sinalizou a possibilidade de um segundo encontro "quase imediato" caso o primeiro produza resultados, uma mecânica que colocaria pressão temporal real sobre Putin para entregar compromissos concretos.

No âmbito econômico, emergiria um roteiro condicional de sanções baseado em reciprocidade verificável. Moscou cumpriria "passos" específicos (cessar-fogo sustentado, acesso de verificadores, redução de ataques à infraestrutura) obtendo contrapartidas graduais: licenças específicas, cap de preço (teto máximo de preço do petróleo russo) menos restritivo, facilidades humanitárias financeiras.

As sanções macro permaneceriam como alavanca principal de longo prazo.

Para endereçar as preocupações de Kiev e dos europeus, poderia ser implementado um pacote de garantias de segurança não-Otan: cooperação em inteligência, defesa aérea e suprimento de munição via EUA e UE durante a vigência do freeze. O princípio norteador seria cristalino: "não há acordo sobre a Ucrânia sem a Ucrânia".

Complementarmente, uma agenda lateral pragmática atenderia aos interesses estratégicos do Kremlin: estabelecimento de grupos de trabalho Estados Unidos-Rússia para questões do Ártico, energia e riscos nucleares táticos, domínios que Moscou busca normalizar, sem impactar o núcleo das sanções setoriais.

Cenário 2: O "Pessimista Excludente", quando tudo dá errado

O segundo cenário configura um "congelamento mal fiscalizado" que se tornaria contraproducente para os interesses ucranianos. Trump e Putin anunciariam um cessar-fogo desprovido de mecanismos robustos de verificação.

Os bombardeios "limitados" prosseguiriam, enquanto Moscou utilizaria a pausa para reposicionar e reconstituir forças. Zelensky já alertou especificamente contra tais "blefes" diplomáticos.

A exclusão de Kiev, combinada com urgência por legado político, resultaria em uma dinâmica bilateral que produziria declaração vaga de paz seguida de propaganda doméstica massiva.

Trump prometeria um trilateral "em breve" sem garantias procedimentais, configuração que atenderia ao impulso de legado (incluindo potencial ambição de Prêmio Nobel), mas minaria fundamentalmente a legitimidade do processo. A Europa já expressou temores específicos quanto a essa possibilidade.

O desenvolvimento mais tóxico seria a implementação de uma troca territorial disfarçada. Pressão por uma "linha de contato durável" que consolidaria os ganhos russos aproximadamente 20% do território ucraniano, incluindo a Crimeia) sob a rubrica de "realismo geopolítico". Europeus e Kiev estabeleceram linhas vermelhas explícitas contra qualquer troca territorial.

No domínio econômico, o alívio prematuro de sanções representaria impacto devastador: concessões comerciais e diplomáticas (aviação, seguros marítimos, frota fantasma de navios que transporta petróleo russo burlando sanções) em troca de promessas ambíguas de Moscou.

Tal configuração fragmentaria a coesão transatlântica e incentivaria a quebra sistemática de sanções globalmente.

A consequência estrutural seria uma fenda no Ocidente. Caso o anúncio emergisse sem cadeia de verificação e sem assento efetivo para KievUE e Otan reagiriam de forma fragmentada, alguns Estados aderindo ao "cessar-fogo", outros reforçando apoio militar unilateral.

A unidade estratégica construída desde 2022 sofreria erosão sistemática. Sem surpresa, portanto, relatos indicam que a Europa se encontra "entre esperança e medo", exigindo presença substantiva de Kiev em qualquer mesa de negociação.

A alternativa de maior risco seria a ausência de acordo seguida de escalada retórica. O fracasso em Anchorage levaria Trump a implementar "consequências severas" através de sanções adicionais e secundárias (sanções contra países e empresas que fazem negócios com a Rússia).

O Kremlin responderia dobrando a aposta no campo de batalha e testando limites no Mar Negro e Donbas. Putin já reiterou suas demandas máximas: retirada ucraniana da Otan e reconhecimento das anexações.

A escolha entre os dois cenários não está apenas nas mãos dos dois líderes que se encontram no Alasca. Está na capacidade de construir mecanismos verificáveis, incluir a Ucrânia como protagonista de seu próprio destino, e manter a pressão sobre Moscou até que mudanças reais, não apenas promessas, se materializem no terreno.

O mundo inteiro assistirá a cada passo. E o preço do erro pode ser medido em décadas de instabilidade global.