Política
Lula e Trump: o que esperar do encontro entre os líderes que deve acontecer neste domingo
Presidentes do Brasil e dos Estados Unidos estão na Malásia para reuniões com líderes da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, devem se encontrar presencialmente neste domingo (26) na Malásia.
Os dois presidentes estão no país para participar de encontros com líderes da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean).
Esse será o primeiro encontro oficial entre Lula e Trump desde o início da crise provocada pelo tarifaço de 50% aplicado pelos Estados Unidos a produtos brasileiros. E também desde que Trump assumiu a presidência do país norte-americano.
A reunião ainda não foi confirmada oficialmente pelo governo do Brasil nem dos EUA.
Neste sábado (25) , o presidente brasileiro disse estar confiante de que a conversa pode levar a uma solução para as divergências entre os dois países.
“Eu trabalho com otimismo que a gente possa encontrar uma solução”, afirmou. “Não tem exigência dele e não tem exigência minha ainda. Vamos colocar na mesa os problemas e tentar encontrar uma solução. Então pode ficar certo que vai ter uma solução”.
A declaração foi dada horas depois de Trump confirmar, em entrevista a repórteres a bordo do avião presidencial americano, que o encontro deve ocorrer neste domingo (26). O líder dos Estados Unidos também sinalizou que pode rever o aumento das tarifas sobre produtos brasileiros, “sob as circunstâncias certas”.
“Acredito que sim”, disse Trump a repórteres a bordo do avião da Força Aérea dos EUA quando questionado sobre o encontro com Lula. Durante o embarque para a Ásia, outro repórter perguntou se ele reduziria as tarifas sobre o Brasil. “Sob as circunstâncias certas”, respondeu o presidente americano.
Lula diz que vai conversar com Trump sobre tarifas e sanções a ministros: 'Quero provar que houve equívoco'
👉🏽Há expectativa de que o encontro sirva para reorganizar a relação bilateral, abalada desde o anúncio do tarifaço americano sobre produtos brasileiros.
Os dois líderes vêm se aproximando desde setembro. Durante a Assembleia das Nações Unidas, Lula e Trump se cruzaram e afirmaram ter tido uma “boa química”.
Além disso, no início deste mês os dois conversaram por cerca de 30 minutos em uma ligação intermediada pelas diplomacias dos dois países.
Durante essa conversa, Lula solicitou a Trump a revogação das sanções contra autoridades brasileiras e pediu a retirada de uma sobretaxa de 40% para entrada de produtos brasileiros nos EUA, em vigor desde agosto.
A expectativa é que os dois assuntos sejam abordados por Lula no encontro deste domingo. Auxiliares de Lula não descartam que o presidente brasileiro aproveite a ocasião para falar também sobre as investidas de Trump contra Venezuela e Colômbia.
O presidente brasileiro já deixou claro que é contra qualquer tipo de tentativa de intervenção em países da América do Sul e pretende abordar ações recentes dos EUA na Venezuela, incluindo ataques a barcos na costa venezuelana e operações secretas da CIA, justificadas pelo governo norte-americano como combate ao narcotráfico.
Lula alerta que tais medidas podem agravar a instabilidade regional e enfraquecer a soberania dos países, defendendo que o diálogo diplomático prevaleça sobre intervenções militares.
Tarifaço
Um dos temas que deve ser abordado na reunião é o tarifaço anunciado pelo presidente Donald Trump a produtos brasileiros — culminando em uma sobretaxa de 50%.
Ao justificar as taxas, o mandatário norte-americano chegou a citar questões econômicas, como um suposto déficit com o Brasil – inexistente de acordo com números oficiais.
Mas também apontou questões políticas relacionadas com o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e "direitos de liberdade de expressão de cidadãos americanos", entre outros.
Após Trump tomar posse, o presidente brasileiro chegou a afirmar que no momento não tinha interesse em falar com o presidente americano.
A relação entre os dois esfriou mais ainda quando Trump anunciou tarifas de 10% em produtos de uma lista de países, incluindo o Brasil, em abril deste ano. Na ocasião, Lula disse que o Brasil não abriria mão de sua soberania.
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Lula dá entrevista a jornalistas durante viagem à Indonésia — Foto: Ricardo Stuckert / PR
Sanções a ministros
Além das tarifas, os Estados Unidos também sancionaram ministros da Suprema Corte brasileira. Em julho, o secretário de Estado do governo Trump, Marco Rubio, informou que foram revogados os vistos americanos do ministro do STF Alexandre de Moraes e de outros sete ministros.
Além disso, sancionou o ministro Moraes com a lei Magnitsky, utilizada para punir estrangeiros. A Lei Magnitsky permite que os Estados Unidos imponham sanções a cidadãos estrangeiros. O objetivo é punir pessoas acusadas de violações graves de direitos humanos ou de corrupção em larga escala.
O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, mencionou diretamente uma suposta "caça às bruxas" tendo o ex-presidente Jair Bolsonaro como alvo por parte do ministro.
Tensão na Venezuela
A escalada militar americana na Venezuela também deve ser um dos assuntos abordados no encontro.
A presença de navios de guerra, aviões de combate, soldados e do porta-aviões USS Gerald R. Ford no Caribe, em operações justificadas pelos EUA como combate ao narcotráfico, tem gerado forte tensão na região.
Desde 2 de setembro, ao menos dez lanchas supostamente usadas para tráfico foram bombardeadas, resultando em pelo menos 43 mortes. O governo de Nicolás Maduro acusa Washington de “inventar uma guerra” para tentar derrubá-lo, enquanto autoridades venezuelanas alertam para o risco de uma ameaça militar mais ampla à América Latina.
O presidente brasileiro já deixou claro que é contra qualquer tipo de intervenção em países da região, defendendo que essas ações podem agravar a instabilidade e violar a soberania.
Lula pretende discutir a situação diretamente com Trump, reforçando que diálogo e cooperação devem prevalecer sobre intervenções unilaterais, mantendo a América do Sul e o Caribe como zonas de paz.
Recentemente, ao ser questionado sobre declarações de Trump — de que não seria necessária uma declaração de guerra para matar traficantes de drogas —, Lula criticou inicialmente a postura do presidente americano, mas depois se retratou, esclarecendo que suas palavras haviam sido mal colocadas.
Além disso, nesta semana, Trump admitiu ter autorizado operações secretas da CIA na Venezuela, aprofundando o risco de escalada.
Apesar das justificativas americanas, dados da ONU mostram que a droga que mais causa overdoses nos EUA, o fentanil, vem majoritariamente do México, levantando dúvidas sobre os reais objetivos das ações militares no Caribe.
Relação delicada
A avaliação no Palácio do Planalto é que um encontro presencial entre os dois líderes, neste momento, leva as discussões para "um outro patamar" e é um passo importante para "reorganizar a relação entre Trump e Lula e a pauta entre os dois países", após meses de tensão.
O Planalto entende que a relação está destravada, principalmente após a reunião "muito positiva" entre o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, e o chanceler brasileiro, Mauro Vieira.
Lula e Trump nunca tiveram uma relação próxima. Durante as eleições presidenciais americanas de 2024, Lula afirmou que uma vitória da então candidata Kamala Harris representava um caminho mais "seguro para fortalecer a democracia".
"Com Kamala Harris é muito mais seguro para a gente fortalecer a democracia. Nós vimos o que foi o presidente Trump [...], aquele ataque ao Capitólio. Uma coisa que era impensável acontecer nos EUA, porque se apresentavam ao mundo como modelo de democracia. E esse modelo ruiu", disse na época.
Após Trump tomar posse, o presidente brasileiro chegou a afirmar que no momento não tinha interesse em falar com o presidente americano.
A relação entre os dois esfriou mais ainda quando Trump anunciou tarifas de 10% em produtos de uma lista de países, incluindo o Brasil, em abril deste ano. Na ocasião, Lula disse que o Brasil não abriria mão de sua soberania.
