Política

O que bolsonaristas falam sobre encontro de Trump com Lula: 'Foto pra inglês ver'

Trump e Lula se reuniram às margens da cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) na capital Kuala Lumpur

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM BBC 27/10/2025
O que bolsonaristas falam sobre encontro de Trump com Lula: 'Foto pra inglês ver'
Parlamentares e aliados de Jair Bolsonaro (PL) minimizaram o progresso anunciado pelas autoridades brasileiras nas negociações com os Estados Unidos | Getty Imagens

Parlamentares e aliados de Jair Bolsonaro (PL) minimizaram o progresso anunciado pelas autoridades brasileiras nas negociações com os Estados Unidos e criticaram a postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao incluir a Venezuela na pauta de sua conversa com Donald Trump na Malásia neste domingo (26/10).

As figuras, que chegaram a adotar um tom de celebração quando as autoridades americanas anunciaram medidas de retaliação contra o Brasil em julho deste ano, afirmaram que a culpa pela implementação das tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros recai sobre o governo Lula. Um deles resumiu o encontro deste domingo como "uma foto pra inglês ver".

Trump e Lula se reuniram às margens da cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) na capital Kuala Lumpur. A conversa foi marcada pelo clima cordial, com Trump se dizendo "honrado" em encontrar o presidente brasileiro.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, afirmou nas redes sociais que o governo brasileiro saiu da reunião com Trump "sem absolutamente nenhuma notícia boa para os brasileiros".

Ele respondeu a uma publicação do também senador Humberto Costa (PT-PE), que celebrava o encontro em Kuala Lumpur como uma vitória do diálogo e da soberania nacional.

Eduardo Bolsonaro (PL-SP) compartilhou a postagem do irmão e, em um tuíte próprio, chamou a atenção para a empatia que Donald Trump nutre por Jair Bolsonaro.

"Interessante laço entre Trump e Bolsonaro é a empatia", escreveu no X, sugerindo ainda que a linguagem corporal do republicano durante a reunião com Lula mostraria que o líder americano espera uma mudança de posição do brasileiro no futuro.

"A capacidade de @realDonaldTrump se colocar no lugar de @jairbolsonaro e imaginar que, quando sair da presidência, Lula e sua equipe apoiarão a lawfare que certamente Trump sofrerá", afirmou Eduardo Bolsonaro.

Em outra publicação, o deputado criticou ainda o fato do presidente brasileiro ter mencionado a atual tensão entre Venezuela e Estados Unidos em uma conversa com "o 01 da economia mundial".

Lula disse ter conversado sobre Jair Bolsonaro com Donald Trump, mas disse que o ex-presidente "faz parte do passado da política brasileira".

"Ele sabe que rei morto, rei posto. Ele sabe. O Bolsonaro faz parte do passado da política brasileira. Eu ainda disse para ele, com três reuniões que você fizer comigo, você vai perceber, sabe, que o Bolsonaro era nada, praticamente", afirmou o presidente em uma coletiva de imprensa realizada em Kuala Lumpur após a reunião.

Donald Trump também comentou sobre o encontro. A jornalistas antes de deixar a Malásia, o líder americano disse que a reunião com Lula foi "muito boa" e voltou a elogiar o presidente brasileiro.

Trump chamou Lula de "muito vigoroso e impressionante" e desejou os parabéns a ele por seu aniversário de 80 anos nesta segunda-feira (27/10).

"Tivemos uma reunião muito boa, vamos ver o que acontece. Não sei se alguma coisa vai acontecer, mas veremos. Eles gostariam de fazer um acordo. Vamos ver, agora mesmo eles estão pagando, acho que 50% de tarifa. E quero desejar feliz aniversário ao presidente, hoje é o aniversário dele. Ele é um cara muito vigoroso, na verdade, e foi muito impressionante", afirmou Trump.

Lula e Trump durante reunião na Malásia

Crédito,Ricardo Stuckert / PR

'Nada de concreto'

Também após o encontro na Malásia, outro filho de Jair Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), sugeriu que o governo brasileiro estaria enganando a população. "Deve ser a terceira reunião e os caras que atacam diariamente Trump se fazem de idiotas para enganar outros idiotas. Para a organização ficar como está é positivo…. O plano de dominação segue em pleno vapor!", escreveu, também no X.

Já Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do PL na Câmara dos Deputados, afirmou que as tarifas impostas pelos EUA contra o Brasil seriam culpa no governo Lula, que não quis negociar com os americanos antes.

"Há meses o Brasil paga o alto preço da falta de humildade de um descondenado presidente [que] arrogantemente que não quis negociar logo o tarifaço. Hoje está provado que a culpa é do descondenado Lula", afirmou.

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Evair de Melo (PP-ES), que foi vice-líder do governo Bolsonaro na Câmara entre 2020 e 2022, afirmou que a reunião em Kuala Lumpur acabou apenas com "uma foto pra inglês ver".

"Enfim, Lula resolveu agir como presidente de uma grande nação. Depois de quase dois anos bajulando ditadores, atacando o agro e isolando o Brasil, finalmente sentou à mesa com Donald Trump. Mas o resultado? Nenhum. Nenhum acordo, nenhuma proposta, nada de concreto — apenas uma foto pra inglês ver", escreveu o deputado federal no X.

"E pra completar o fiasco, na cara do Lula, Trump fez questão de elogiar Bolsonaro, chamando-o de 'grande homem'. Bolsonaro segue sendo referência mundial. O resto é barulho de militância."

Alguns dos aliados de Jair Bolsonaro ainda usaram o momento para voltar a defender a ideia de que o ex-presidente está sendo perseguido pela Justiça brasileira.

Bolsonaro foi condenado no STF em setembro a 27 anos e 3 meses de prisão por golpe de Estado e outros crimes. Trump já fez várias críticas ao julgamento e o usou como um dos argumentos para aplicar as tarifas de 50% contra o Brasil.

Para o senador Jorge Seif Junior (PL-SC), Trump se posicionou abertamente em defesa de Bolsonaro, em uma declaração que "expõe a crise institucional brasileira"

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Já o vice-líder da oposição na Câmara, Mauricio Marcon (PODE - RS), classificou as declarações dadas por Lula após a reunião com Trump como petulantes.

"Que petulância, depois do Trump ouvir isso nunca mais tira a Magnitsky do Xandão!", escreveu no X, em referência à aplicação de sanções contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) pelos EUA.

Oito magistrados da Corte — entre os quais o ministro Alexandre de Moraes — foram sancionados com base na Lei Magnitsky, criada para punir estrangeiros que os EUA consideram autores de graves violações de direitos humanos.As imagens compartilhadas por Marcon em sua postagem são de uma coletiva de imprensa dada pelo presidente Lula na Malásia, após o encontro com Trump. Em sua declaração, o presidente brasileiro afirma que espera a "suspensão da taxação" e "da punição aos nossos ministros" para que a relação com os EUA avance.