Brasil
Assassinato de líder Guajajara abala comunidade indígena e Moro garante que PF vai investigar
A morte de Paulo Paulino despertou comoção imediata entre as entidades de apoio ao meio ambiente. Jovem, com espírito de preservação da mata e de seu povo, era casado e pai de um menino. “O pai de Paulino é o maior cantor tradicional dos Guajajara, um líder espiritual”, conta Travassos. O guardião já estava sob ameaças de morte há algum tempo, tanto que começava a negociar o ingresso num programa estadual de direitos humanos para reforçar sua segurança. “Infelizmente não deu tempo”, diz Sônia Guajajara, coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, e integrante do mesmo povo de Paulo Paulino.
Ironicamente, Sônia está na Europa em reunião com lideranças e parlamentares de países europeus para denunciar as mortes de indígenas no Brasil, sob a campanha “Sangue Indígena, nenhuma gota a mais”.“Há um genocídio institucionalizado. Há uma permissão para matar, para armar pessoas, ainda mais quando crimes ficam impunes e agora diante da autoridade máxima do país dizendo que não vai mais demarcar terras, que pretende explorá-las, um discurso que favorece a contrariedade aos povos indígenas”, diz Sônia. “Os invasores se sentem legitimados pelo presidente”, conclui.
O ministro da Justiça Sergio Moro, contudo, anunciou que o assassinato será investigado. “A Polícia federal irá apurar o assassinato do líder indígena Paulo Paulino Guajajara na terra indígena de Arariboia, no Maranhão. Não pouparemos esforços para levar os responsáveis por este crime grave à Justiça”, afirmou no twitter. Apesar do compromisso assumido, os grupos de apoio aos povos indígenas veem o anúncio do ministro com desconfiança. “O terror que cresce nessas comunidades é fruto das políticas do mesmo governo que agora diz que vai trazer justiça nesse caso. É uma contradição enorme”, diz Christian Poirier, da Amazonia Watch, que acompanha vários casos de vulnerabilidade em comunidades indígenas no Brasil.
Também o governador do Maranhão, Flavio Dino, garantiu apoio do Estado. “Os secretários de Segurança Pública e de Direitos Humanos do Governo do Maranhão estão em Imperatriz [cidade ao lado de Arariboia], em reuniões sobre terra indígena Arariboia. Estamos colaborando com os órgãos federais, que legalmente são os competentes para atuação neste caso criminal.
Arariboia tem somado dores nos últimos anos pelos ataques à região, que soma 413.000 hectares e abriga 14.000 indígenas guajajara, e é ainda o lar de 60 índios isolados da aldeia Awá Guajá. No ano passado foi morto o cacique Jorginho Guajajara, num crime que ficou sob uma zona cinzenta, como todos os que atingem lideranças ambientais no Brasil. Segundo a polícia, Jorginho teria se afogado sozinho, hipótese que os guajajara negam terminantemente. Em 2015, o povo também viu metade da sua floresta sob fogo, em incêndios considerados suspeitos. “Neste ano, também estamos enfrentando focos de incêndio”, conta Sônia Guajajara.