Brasil

Enchentes no Sul do Brasil deixam rastro de destruição e caos

Presidente Lula anuncia ajuda econômica aos afetados por crise que causou 108 mortos e 136 desaparecidos

PEDRO RIBEIRO/DA EDITORIA/COM EL PAÍS 09/05/2024
Enchentes no Sul do Brasil deixam rastro de destruição e caos
Vista aérea tirada nesta quinta-feira de um bairro submerso da cidade de Canoas, um dos epicentros do desastre no estado brasileiro do Rio Grande do Sul | DIEGO VARA

As gravíssimas enchentes que afetam o Estado do Rio Grande do Sul (Brasil) causaram uma devastação sem precedentes. 80% do território está submerso, 108 vidas foram perdidas e 136 pessoas continuam desaparecidas, segundo o último relatório divulgado esta quinta-feira. São quase 1,5 milhão de vítimas no território atingido pelas enchentes , na fronteira com o Uruguai e a Argentina.

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou medidas de ajuda económica às famílias, trabalhadores e empresas com pagamento antecipado de ajudas sociais e linhas de crédito no valor de 50 mil milhões de reais (9 mil milhões de euros). Enquanto isso, os resgates continuam. A mais espectacular, a de um cavalo que conseguiu subir a um telhado para se refugiar, transmitida em directo pela televisão. Embora a água tenha começado a baixar muito lentamente, a distribuição de bens básicos ainda é muito complicada.

Além da perda de vidas, mais de 165 mil pessoas tiveram que ser despejadas de suas casas e outras 65 mil ficaram sem casa, segundo o balanço da Defesa Civil, o que significa que não terão para onde voltar quando o pior da crise chegar. acabou. Aqueles que conseguiram recolher algumas coisas e mudaram-se para o litoral ou para zonas altas. As águas do Lago Guaíba, que domina a capital do estado, Porto Alegre, começaram a baixar lentamente. Caiu para 4,95 metros, pela primeira vez nestes dias abaixo dos cinco metros. Mas parte da cidade (de 1,3 milhões de habitantes) continua submersa por uma inundação que é a pior desde 1941.

Centenas de policiais, bombeiros, soldados e voluntários continuam trabalhando para resgatar os milhares de pessoas que permanecem isoladas devido ao alto nível das águas e que começam a sofrer com a falta de alimentos.

Só o passar dos dias e das horas permitiu vislumbrar progressivamente a magnitude dos gravíssimos danos causados ​​pela tempestade que começou no dia 30 de abril. Uma tempestade que foi anunciada, mas que foi mais persistente e grave do que se esperava. Desde o primeiro momento, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, pediu ajuda ao governo federal e alertou que seria necessária uma operação de guerra. O número de mortos e desaparecidos não parou de aumentar. As enchentes e seus efeitos afetaram praticamente todos os municípios do Estado.

Morador retira pertences que recuperou de sua casa inundada em Canoas, Rio Grande do Sul, no dia 9 de maio.
Morador retira pertences que recuperou de sua casa inundada em Canoas, Rio Grande do Sul, no dia 9 de maio.CARLOS MACEDO (AP/LAPRESSE)
Vários veículos cercados por água em área alagada em Porto Alegre, no dia 8 de maio.
Cintia Santos chora ao ser evacuada de ônibus de uma área alagada de Eldorado do Sul, no dia 7 de maio.
Um barco navega por uma rua alagada em Canoas, no Rio Grande do Sul, no dia 8 de maio.
Vista aérea do aeroporto internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, no dia 7 de maio.
Pessoas atingidas pelas enchentes em Canoas descansam em abrigo improvisado, no dia 8 de maio.
Atingidos pelas enchentes, eles são evacuados de um bairro de Canoas, no Rio Grande do Sul, no dia 8 de maio.
Vista da Arena do Grêmio e seu entorno afetados pelas fortes chuvas em Porto Alegre, no dia 8 de maio.

A volta das fortes chuvas forçou a suspensão dos trabalhos de resgate em Porto Alegre na tarde desta quarta-feira, onde ainda há bairros completamente alagados. Além das imagens sempre devastadoras e chocantes desse tipo de desastre, nesta ocasião há algumas inéditas, como a de um cavalo chamado Caramelo no telhado de uma área totalmente alagada ou estádios de futebol com a grama transformada em piscina de lama. O aeroporto de Porto Alegre ficará fechado pelo menos até o final do mês, por isso pequenos aviões transportando suprimentos estão pousando em trechos da estrada.

O Estado é um importante pólo agrícola e já sofreu fenômenos climáticos extremos no ano passado. No último ano, esta é a terceira inundação mortal, também a pior. Mas também a região sofreu um raro ciclone extratropical. E os três anos anteriores foram uma seca severa.

A catástrofe gerou uma enorme onda de solidariedade que mobilizou os brasileiros, dos mais humildes aos mais famosos, como a modelo Gisele Bündchen, nascida no Rio Grande do Sul, ou YouTuber Felipe Neto . Mas também grandes empresários como Tim Cook, da Apple, ou Elon Musk, que anunciou que irá implantar os seus satélites Starlink na área para ajudar nos esforços de resgate.

Os meteorologistas enfatizam hoje em dia que estes tipos de eventos climáticos extremos serão cada vez mais frequentes e intensos devido ao aquecimento global. E os ambientalistas lembraram que este tipo de danos também é consequência do enfraquecimento das regulamentações ambientais. O presidente Lula afirmou nesta quarta-feira, durante evento de apresentação de investimentos nas áreas de infraestrutura e prevenção de desastres naturais, que esta tragédia climática é “um alerta ao mundo” e “uma conta que o planeta está repassando” à humanidade.