Brasil
Banco Master: Diretor da PF diz que fraudes financeiras podem chegar a R$ 12 bilhões
Andrei Rodrigues deu a declaração na CPI do Crime Organizado. Presidente do banco e quatro diretores foram presos nesta terça em uma operação que mira venda de títulos de crédito falsos
O diretor da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou nesta terça-feira (18) que o esquema de fraudes financeiras que resultou na prisão do presidente do Banco Master, Daniel Vorcaro, e de quatro diretores da instituição, pode chegar a R$ 12 bilhões. A declaração foi dada durante sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que investiga organizações criminosas.
"Estamos fazendo uma operação importante, com o Banco Central e Coaf atuando em conjunto, em um crime contra o sistema financeiro. Fala-se em R$ 12 bilhões envolvendo esse crime em investigação, com várias prisões. Nessa operação desta terça, a fraude é de R$ 12 bilhões", afirmou.
Vorcaro e os diretores foram alvo de uma operação que mira a venda de títulos de crédito falsos. Há indícios de que o esquema teria a participação de dirigentes do Banco de Brasília (BRB) - que é um banco público do DF. Em março, o BRB chegou a fechar um acordo para comprar o Banco Master, mas o negócio foi barrado pelo Banco Central.
O que dizem as investigações, segundo um documento do Ministério Público Federal, obtido pela TV Globo:
- O Banco Master emitiu R$ 50 bilhões em certificados de depósito bancário (CDBs, um tipo de título financeiro) prometendo juros acima das taxas de mercado e sem comprovar que tinha liquidez, ou seja, que conseguiria pagar esses títulos no futuro.
- Nesse tipo de aplicação financeira, o cliente que compra os títulos empresta o dinheiro ao banco, que vai decidir em que vai investir, e recebe juros em troca.
- Para reforçar essa impressão de liquidez, o Master aplicou parte desses R$ 50 bilhões em ativos que não existem, comprando créditos de uma empresa chamada Tirreno.
- O Master não pagou nada por essa compra, mas logo em seguida vendeu esses mesmos créditos ao BRB – que pagou R$ 12,2 bilhões, sem documentação, para "socorrer" o caixa do Banco Master.
- Essas transações aconteceram no mesmo período em que o BRB tentava comprar o próprio Banco Master – e convencer os órgãos de fiscalização de que a transação era viável e não geraria risco aos acionistas do BRB, incluindo o governo do DF.
- Há indícios de que "o BRB buscou amparar o Banco Master em sua crise de liquidez". Segundo o documento, o BRB injetou R$ 16,7 bilhões no Master entre 2024 e 2025. Desses, pelo menos R$ 12,2 bilhões envolvem operações em que há fortes indícios de fraude.
Banqueiro Daniel Vorcaro e 3 diretores do Banco Master são presos em operação da PF
Segundo Andrei Rodrigues, somente na casa de um dos alvos da operação Compliance Zero, os agentes encontraram R$ 1,6 milhão em espécie (veja na imagem abaixo).
"Eu não sei quanto que nós vamos conseguir bloquear. Eu sei já que, em dinheiro, apreendemos na residência de um investigado R$ 1,6 milhão em dinheiro nessa operação de hoje", acrescentou o diretor na CPI do Crime Organizado.
Os outros diretores financeiros presos são: Luiz Antônio Bull, Alberto Felix de Oliveira Neto, Ângelo Antônio Ribeiro da Silva e Augusto Ferreira Lima.
O presidente do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa, foi afastado de seu cargo. Segundo o banco, o afastamento tem duração de 60 dias (leia mais abaixo).
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Agente da PF conta dinheiro encontrado na casa de um dos dirigentes do Banco Master — Foto: Divulgação/PF
Prisão de presidente do Banco Master
Na noite desta segunda-feira (17), a Polícia Federal prendeu Daniel Vorcaro no aeroporto de Guarulhos (SP), durante a Operação Compliance Zero. Segundo os investigadores, ele estava em um jatinho com destino a Malta, tentando deixar o Brasil.
Sete mandados de prisão foram cumpridos, incluindo o de Vorcaro, além de 25 de busca e apreensão nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e no Distrito Federal.
Após a prisão, Daniel Vorcaro foi levado para a Superintendência da PF em São Paulo. A defesa de Vorcaro nega que ele estivesse fugindo do país.
A prisão de Vorcaro aconteceu horas após o consórcio liderado pelo grupo de investimento Fictor Holding Financeira anunciar a compra do Banco Master — e cerca de dois meses após o Banco Central ter rejeitado a aquisição pelo BRB.
No entanto, ainda nesta terça, o BC determinou a liquidação extrajudicial do Banco Master. Na prática, a instituição avaliou que o banco não tem mais condições de funcionar e que as suas operações sejam encerradas. Isso também significa que a compra em curso é automaticamente interrompida.
O Banco Master já enfrentava risco de falência devido ao alto custo de captação e a investimentos considerados arriscados. Mas os negócios acabaram envolvidos em questionamentos, pressões políticas e falta de transparência.
São investigados crimes como gestão fraudulenta, gestão temerária, organização criminosa, entre outros.
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Agentes da PF encontram joias durante operação sobre fraudes do Banco Master — Foto: Divulgação/PF
Presidente do BRB afastado
Também nesta terça, Paulo Henrique Costa, presidente do Banco de Brasília (BRB), foi afastado do cargo por decisão judicial no âmbito da operação. O afastamento é pelo prazo de 60 dias, segundo o banco.
Paulo Henrique Costa está nos Estados Unidos, segundo informou o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).
Além de Paulo Henrique Costa, o diretor-executivo de finanças e controladoria do BRB, Dario Oswaldo Garcia Junior, também foi afastado do cargo.
Em nota, o BRB informou que "sempre atuou em conformidade com as normas de compliance e transparência, prestando regularmente informações ao Ministério Público Federal e ao Banco Central do Brasil sobre todas as operações relacionadas ao Banco Master".
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Diretor-geral da PF, Andrei Passos Rodrigues, é ouvido na CPI do Crime Organizado — Foto: Andressa Anholete/Agência Senado