Cultura
Escândalo milionário na cultura: músico e deputado são alvos de suspeitas em Mato Grosso
Associação cultural comandada por músico e apadrinhada por deputado já embolsou quase R$ 60 milhões em emendas públicas — sem transparência, sem site, e com eventos duvidosos

Um verdadeiro tsunami de dinheiro público — quase R$ 60 milhões — foi despejado nos cofres da Associação Mato-grossense de Cultura (AMC) nos últimos quatro anos. O que deveria ser incentivo à cultura virou um emaranhado de suspeitas envolvendo o músico Marcos Levi de Barros, presidente da entidade, e o deputado estadual Elizeu Nascimento (PL), responsável por repassar sozinho quase R$ 12 milhões em emendas.
Com sede quase invisível no bairro Jardim Universitário, em Cuiabá, sem site, sem placa e sem transparência, a AMC é apontada como a nova “menina dos olhos” dos bastidores políticos. O salto no orçamento da entidade é estarrecedor: de R$ 195 mil em 2021 para mais de R$ 32 milhões em 2023 — um aumento de inacreditáveis 16.000%.
No centro do esquema, Levi de Barros se apresenta como um promotor cultural. Mas bastou um olhar mais atento para que a máscara começasse a cair. Em recente entrevista à imprensa, apareceu lado a lado com Eliel Tenório Pereira, apresentado como assessor de imprensa da AMC. O problema? Eliel também ocupa cargo comissionado na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, lotado justamente no bloco político liderado por Elizeu Nascimento — o maior financiador da AMC.
“Isso é tráfico de influência descarado”, desabafa um servidor da ALMT que pediu anonimato. “O assessor da entidade que recebe a verba é o mesmo assessor do deputado que manda a verba? É um escárnio com o dinheiro público.”
Mesmo sem estrutura formal ou prestação de contas pública acessível, a AMC foi responsável por promover festas como o Festival de Pesca de Lambari d’Oeste, a Festa da Banana em Cáceres e o evento Rua do Rasqueado, em Cuiabá. Todos financiados com dinheiro do contribuinte, mas com critérios de seleção obscuros e ausência total de controle social.
A suspeita de favorecimento político e aparelhamento institucional é reforçada pela opacidade com que a associação opera. Levi de Barros admitiu que não há transparência formal: “Divulgamos tudo pelas redes sociais”, disse, como se isso bastasse para justificar a gestão de dezenas de milhões de reais em recursos públicos.
Enquanto o Ministério Público e o Tribunal de Contas do Estado não se pronunciam, a indignação cresce nas ruas e nos bastidores da Assembleia Legislativa. Há quem diga que a AMC virou uma “ONG de fachada”, usada para distribuir dinheiro público entre aliados políticos disfarçados de promotores culturais.
Procurados, o deputado Elizeu Nascimento e o músico Levi de Barros não retornaram os pedidos de esclarecimento da reportagem.
A pergunta que não quer calar: onde foi parar o dinheiro da cultura?